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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Silly] “Assobio”
Viver Sensivelmente, título do projecto de estreia de Maria Bentes, é uma expressão elucidativa daquilo que a artista (nada tonta) imprime e exprime na sua música. “Assobio” é a segunda canção do EP de apresentação de Silly, que foi dissecado pela própria junto do ReB. “A ideia instrumental estava-me a levar para um sítio muito meu, introspectivo e antigo que no fundo culmina num refrão desleixado, meio-cantado, despreocupado como o assobio que fecha este som”, resume muito do que são estas canções, entre a introspecção e o improviso.
[WUGORI] “VIVO”
Quem é vivo sempre aparece… de novo.
Dois dias depois de soltar “MANJA”, Wugori voltou pulsante em “VIVO” — dois temas feitos nas respectivas vésperas da divulgação. Samples de vozes fúnebres e versos fatídicos são os sinais vitais nestas batidas por minuto. E há sentenças que valem a pena, nos sentidos que quiserem:
“Se corações são sítios tenho passaporte
É a tua morte”
[M.A.C.] “BADABING”
“BADABING” foi a última cartada antes da estreia de Sem Título, o regresso dos M.A.C. (Missão A Cumprir) aos discos. A dupla histórica, formada por TNT e Kulpado, está também ela bem viva e de boa saúde, mesmo depois de tantas transformações no ecossistema do hip hop nacional que a viu nascer. Single após single, o par de MCs da Margem Sul confirmou inequivocamente o posto que já lhes pertence há muito: “os anos vão passando, eu apurando tipo vinho”.
[AVAN GRA] “APRIMORAR”
“Aprimorar a técnica
Para aqui morar mais uma década
Não ser mais uma réplica”
Esse tem sido o mote dos AVAN GRA nesta ainda curta mas tão preenchida jornada. Ocuparam um espaço só deles e, aos poucos, vão sendo descobertos por quem se cruza nessas direcções ambíguas. Linear é só o talento que têm e o rumo que pretendem seguir. O resto, como vêm a reforçar desde sempre, “é tudo uma questão de tempo”.
[Líbero] “Abre”
Foi pelo nome de Kilu que chegámos a Líbero, rapper que rima em “Abre”, avanço de mais um projecto do consagrado produtor, uma compilação intitulada Bússola Vol. 1. E se foi por Kilu que chegámos, foi por Líbero que ficámos. A uma certeza juntou-se uma surpresa.
[REAL GUNS] “PEGA MIC”
A célebre passagem de Bob Marley “I don’t have that type of richness, my richness is life, forever”, “samplada”vezes sem conta, foi o ponto de partida de Real Guns para “PEGA MIC”, ele que tem sido um dos mais diferenciados na recente abundância de drill lusófono. Muitos pegam no mic, mas nem todos sabem fazê-lo tão bem como ele.
[Dino d’Santiago] “Esquinas” feat. Slow J
Há um novo disco de Dino D’Santiago para descobrir: BADIU é — promessa do próprio — o mergulho mais profundo, no seu interior e em dimensões exteriores, deste artista que tem conquistado a Nova Lisboa e o Mundo Novo. “Esquinas” é o grande tema do disco e junta Slow J a Dino, duas das principais vozes da actual música (dita) urbana; dois artistas que engrandecem, mais do que Portugal, a língua portuguesa. “Esquinas” é, na verdade, o resultado por excelência da união lusófona real, sem tratados ou passaportes. Em vez de “música urbana”, chamemos-lhe “música sem fronteiras”.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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