Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Mini God] “N´Podi Txiga”
“Real hip hop, real hip hop…” — é uma deixa que muitos usam, mas poucos cumprem. Nesse sentido, Mini God é um rapper de palavra e um activo valiosíssimo do rap crioulo feito em solo português. “N’Podi Txiga” é dos melhores exemplos dessa qualidade do rapper de Oeiras, um tema que agrada no refrão e agarra nos versos; e é, também, um reflexo honesto da determinação que o alimenta no caminho do sucesso.
[C̶o̶r̶a̶ X ᴊᴀᴄᴋɪᴇ] “ORLA” (ft. TILT)
No prenúncio do seu regresso aos palcos em nome próprio — realizado no passado dia 30 de Outubro, na Casa Independente —, Tilt passou novos apontamentos para os mais acérrimos terem o que estudar até lá. Juntou-se a C̶o̶r̶a̶ nos versos em “ORLA”, o último single do EP de estreia da artista da RAIA Records, Trochilidae, inteiramente produzido por Jackie. O convite ideal para as duas celebrações.
[nastyfactor] “viena freestyle”
Londres, Eindhoven, Mem Martins e agora Viena. O passaporte dos freestyles tem mais um carimbo pisado por nastyfactor na capital austríaca. Por onde quer que passe, o rapper e produtor representa da melhor forma, e a um nível cada vez mais elevado, o rap nacional com produto inteiramente desenvolvido (escrito, produzido, gravado, misturado e masterizado) pelo próprio.
[Secta] “Cabrão”
Já NERVE suspirava “que cabrão…”, verbalizando a sua reacção às rimas de Secta. Pois bem, o “Cabrão” voltou a distribuir rimas dessa estirpe, encurralado no violento instrumental de Demoniqquê, mas sempre ágil e esguio nas dicas pelas quais se move em cada faixa. Não é de estranhar, por isso, que nos garanta: “Nunca estraguei uma dica nova”. E é mesmo verdade. Cabr…
[Beiro] “Marionetas” (com UEST. & Big Jony)
Por norma, um instrumental de Beiro já não é pêra doce para qualquer rapper. Porém, em “Marionetas”, o produtor do Porto conseguiu complicar ainda mais a tarefa aos menos acrobáticos. Para UEST., no entanto, essas batidas caíram como fruta da época, Big Jony seguiu a deixa sem ficar para trás — “Seja qual for o estilo, sabes que eu me ajusto” —, e à salada de rimas adicionaram-se pedaços de Pedra e Maudito, além dos do próprio Beiro. Esta é para repetir vezes sem conta.
[Kristoman & Real Punch] “Tão Easy”
Não há duas sem três e, nas sequelas, foi essa a conta que esta dupla fez. Kristoman aka Vinnie Jones e Real Punch aka Roy Keane revelam agora a primeira parte de uma história filmada por YoClichê e sonorizada por Darth Lxiv — depois da terceira, tendo começado pela segunda. A linha temporal pode ter ficado confusa, mas reconhecer a brutalidade desta parceria no rap, assim, fica “Tão Easy”.
[AMARO] “MISSÃO” FT. KAPPA JOTTA
Depois da dose tripla de Kappa Jotta na semana passada, agora é Amaro quem leva a cabo essa “Missão”, retribuindo o convite ao rapper de longas barbas para aparar rimas no seu Pack Mission — que se vê completo com “Motivo” e “Porsche”.
[Pedro, o Mau & Tomaz] “MDV” (L-Ali – “Ciclo” re-edit)
Alterar o que já está (bem) feito traz consigo uma responsabilidade que, à partida, não se espera em qualquer forma de arte. E se for para mexer, mais vale apontar para lados opostos, por forma a quebrar a ligação que nos prende à peça original. É, por isso, de laurear a sensibilidade de Pedro, o Mau e Tomaz, pelas voltas que deram ao “Ciclo” de L-ALI. Mais do que superar ou fazer esquecer a canção re-editada, “MDV” revela uma nova e autónoma vida. De uma beleza inexplicável.
[Sacik Brow] “Abelheira” feat. Bertílio
“Abelheira” é uma das 16 faixas do alinhamento de À Moda Quarteirense, uma compilação curada por Dino D’Santiago, Mike Ghost e Holly. A começar pela prata da casa, Sacik Brow dá o mote do projecto no seu tema, ao falar tanto de uma luta como de uma união que todos partilham.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)