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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Mano A Mano] “Cypher do Marginal”
Se há evento especialmente querido no hip hop nacional, que viu a sua realização impedida no ano passado, esse é o Natal do Marginal, uma iniciativa em formato de pequeno festival levada a cabo por Keso, no Porto. Devido ao contexto pandémico no último ano, em vez do Natal do Marginal montou-se o “Cypher do Marginal” — que só agora foi revelado—, e o rapper e produtor da Invicta convocou uma turma de respeito, a Mano A Mano, vinda da Margem Sul do Tejo, para canalizar a frustração e a revolta no que de melhor sabem fazer. Num formato cada vez menos habitual, TNT, Kulpado, TOM, Jay Fella, Mlk Mau Aluno e Silab expuseram, à vez, os seus argumentos líricos de peso, com destaque para as alegações finais de Silab a encerrar o caso sobre o valor do rap da MS — e já o dizia em “MS Episodes”: “Margem Sul é lata mas Margem Sul é ouro”.
[Apollo G] “Tudo Pago”
A expressão “tudo pago” dificilmente se vê dissociada de Sippinpurpp, mas Apollo G veio apresentar um novo recibo para essas contas. “Tudo Pago”, uma faixa bónus do EP LOYALTY, produzida por Kyo & Dj CiroFox, apresenta o rapper sediado em Londres a galopar batidas drill e flows traduzidos em crioulo. Um autêntico cavaleiro mascarado que não olha a custos sobre o preço da palavra.
[SCORP X NELASSASSIN] “FLEX”
Scorp juntou-se a Nelassassin para desconstruir o “Flex” do rap nacional, através das suas punchlines apuradas. O rapper das Caldas da Rainha mostrou as suas habilidosas rimas no skatepark da cidade, deslizando pelo scratch do consagrado DJ e produtor sobre batidas clássicas. “Flex” é ostentar barras deste calibre.
[Beatoven] “GOAT” Ft 9 Miller
Novidades de 9 Miller fazem disparar os alarmes do conteúdo explícito — já se sabe que o “Filho Da Guida” não tem papas nem travões na língua. O rapper da Linha da Azambuja, conhecido pelo acentuado egotrip com que carrega as suas letras cheias de técnica, protagonizou “GOAT”. Um tema com produção minimalista de Beatoven que representa o expoente máximo desse egotrip que caracteriza o rap de Mauro Passinhas.
[Majestic T.K.] “DAKAR”
Na vertente lírica, Majestic T.K. nunca fica aquém da fasquia que o próprio colocou bem alta. Nas aventuras mais melódicas, a escolha nem sempre se tem revelado certeira, sobretudo se tivermos em conta os seus últimos projectos editados.
Em “Dakar”, o rapper de Odivelas encontrou a rota certa e seguiu pelos habituais trilhos líricos pelos quais encarrilha barras engenhosamente encaixadas, levando o tema por uma paisagem sonora atractiva. Mais uma vez, sem sair da pista.
[Cíntia] “Tou Na Boa”
Num dia em que o Festival Iminente dispunha de nomes como Julinho KSD, Dino D’Santiago ou The Alchemist, foi num palco terciário (o Palco Choque) que Cíntia arrancou uma das actuações mais entusiasmantes da noite. Nesse mesmo dia havia lançado “Tou Na Boa” com batidas que foram pensadas para fazer mexer corpos presentes. Ao contrário do que seria de esperar de uma artista em início de carreira e formatada para o circuito dos singles, Cíntia ‘tá na boa a cantar estes temas ao vivo, e é ao vivo que eles ganham uma outra força.
[DANNY THE DAWG] “SON OF A GUN”
Revelada pela primeira vez na primeira temporada do programa de Sam The Kid, Primeira Vez (uma parceria entre a Antena 3, TV Chelas e Chelas é o Sítio), “Son of a Gun” é, oficialmente, o novo tema de Danny The Dawg, produzido por Muv. E o mais impressionante é ver que, em certos momentos da versão ao vivo, Danny acelerou ainda mais em comparação com o flow já de si rápido da versão de estúdio.
[GriLocks x Glass!c] “Semente”
Depois de um par de temas mais melancólicos, GriLocks e Glass!c cerraram punhos e puseram novamente mãos à obra, construindo um tema edificado em versos conscientes e introspectivos sobre batidas betonadas à volta das guitarras decorativas. “Somos homens da luta, julgados pela capa” resume muito do espírito por dentro desta “Semente”.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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