pub
Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Harold, Lunn] “Diamante”
Ainda é cedo para se perceber a dimensão do impacto de Raramente Satisfeito, mas o último trabalho de L-ALI já está a deixar um rasto — seguido mesmo por quem anda pelos próprios pés. “Diamante”, o novo tema de Harold, foi lapidado com semelhantes movimentos rasgados em “Plenitude”; já o seu corpo, por sua vez, é formado pelos quilates líricos do rapper do colectivo GROGNation. E as “marteladas” de Lunn fazem disparar exponencialmente o valor desta jóia do rap tuga.
[UnderZ x Cachapa] “MAR/TEMPO”
“MAR/TEMPO” é a faixa que fecha o alinhamento de ZERO, um EP com rimas de Cachapa e batidas de UnderZ, editado pela resistente Sistema Intravenoso. Senhor do seu “TEMPO”, o artista de Évora lançou as redes ao “MAR” Negro em que mergulhou o produtor, para trazer à tona um cardume de versos vivos e irrequietos. Dissemos “o artista”? Artistas há muitos — ele é rapper, mesmo.
[Mynda Guevara] “Menti Firmi”
Num tom dócil, Mynda Guevara — mulher de armas, mas igualmente sedutora — encantou em “Menti Firmi”, um tema, produzido por Lvin Beats, cheio de cor e calor, e capaz de quebrar até a mente mais firme.
[Maudito] “Ponto” (feat. Cálculo)
Escrito em 2017, o novo tema de Maudito foi deixado a marinar até estar no “Ponto”, em 2021. Nesse processo de maturação estiveram envolvidos Johnny Virtus, Beiro e Cálculo — e o rapper e produtor barcelense derreteu o refrão desta canção já de si enternecida, dividida entre os nós líricos e os nós da garganta de Gustavo Sousa.
[Vlad] “GunShot”
“GunShot”, produzido pelo fiel companheiro NetuH, é o último single antecedente ao projecto de estreia de Vlad, o EP Poder & Glória. O rapper açoriano tem vindo a afinar as rimas e os flows ao longo dos poucos lançamentos que já regista. Nesse jogo tétrico, onde a subtileza e a destreza marcam a diferença, a confiança e a determinação do MC da Ilha Terceira têm alavancado o seu desenvolvimento técnico. Cada vez mais perto do alvo a cada “GunShot”.
[O PARTIDO] “PASSA EM MINHA CASA”
As eleições autárquicas no underground já se realizaram, e a presidência d’O Partido viu uma nova dupla a assumir funções: Benny Broker e Babba Tep sucederam a Uno e João Pestana, que assinalaram a passagem de pasta através do EP Despiste e convidaram os novos executivos a passar na sua casa, decorada por Geta.
[DEEZY] “A.T.O.A”
Os meses passam e por aqui ouve-se + do Mesmo. Em Abril, Deezy revelou a primeira parte de um álbum que se prevê completo ainda este ano, e “A.T.O.A” é um (em dois) dos temas mais potentes deste projecto concebido por um artista que “não ‘gasta’ energia à toa” — “não sei porquê”…
[Deau] “Última Sessão”
Depois da última sessão da semana passada a “Certas Horas”, Deau estreou, então, a “Última Sessão” — que confirma o início da época do novo álbum. Com DJ Player, novamente, na produção (a abrir a hipótese de vir a ser ele o responsável principal pelas batidas de Cabeça A Prémio), o aclamado rapper do Porto voltou a perder-se no seu próprio guião, num filme que, sobre o seu “feliz para sempre”, tem poucos nomes no fim.
[Séthique] “O Estranho Mundo de Jack”
O canal da TRICOMA foi veículo de divulgação da MIXTAPE 10, o novo projecto do rapper algarvio que conta com 20 faixas, entre as quais “O Estranho Mundo de Jack”. Um convite (irrecusável) para entrar no estranho mundo de Séthique.
[Chippie] “VIDRO”
“VIDRO” é a carta que Chippie nunca escreveu. Outros endereços, papéis timbrados (por ZOO) e saídas alternadas: se Regula se despediu com “o teu melhor amigo XO até um dia”, Chippie pôs um ponto final no pergaminho com “não és tu que te vais embora, eu é que fico (…) love you”. Tão duro e tão fascinante: do “Francisco” para a “bitch”.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
pub