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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[YOUNGSTUD] “SITCOM”
Youngstud está de volta às rimas depois de ter editado novo disco de instrumentais. No seguimento de ZzZzzZz, o rapper e produtor acordou novamente após as suas sete horas habituais de sono e fez um “switch on” ao microfone; deixou as batidas para saraiva, que produziu um instrumental magistral, e focou-se no enredo que tem por base a sua vida. Nesse sentido, e para quem vem acompanhando o trabalho deste artista, o seu rap é que é uma verdadeira “sitcom”.
[Keso x M’Cirilo] “Esquinas de Ceuta (Remix)”
As “Esquinas de Ceuta” não mudam de paradeiro. Continuam no mesmo sítio de sempre à espera de ver novas caras e ouvir novos desabafos. Quem é que dizia “paredes têm ouvidos construídos para segredos”? Vocês sabem… E o M’Cirilo também, melhor que ninguém. Ora, venham espreitar o que se diz por estas bandas, que segredos destes têm de ser espalhados por toda a parte.
[OhTel] “BriliOH”
“BriliOH” é o tema de apresentação de Hotel Torres, que assina como OhTel. Sobre este artista a curiosidade é despertada, de imediato, nas primeiras linhas em que assume que o caminho que pretende seguir é sempre para cima. “O objetivo aqui é ser gigante”. Por cá vamos estar atentos a esses passos, que o primeiro já foi dado com o pé direito.
[Smoke Hills] “Neptuno”
A Paga-lhe o Quarto Records caminha a passos largos para se tornar numa das mais importantes editoras do hip hop nacional. Apesar da sua ainda curta vida, 2021 tem sido um ano preenchido nesta casa e, ao que tudo indica, ainda há muito mais para vir.
“Neptuno” antecipou mais um projecto a ser editado pela PoQ – O Homem que viu o Sol, dos Smoke Hills –, num single com uma homenagem levada a cabo por Pedro Vieira nas rimas e LethalNeedle nas batidas, numa “viagem sem retorno”.
[UEST x Beiro] “Fácil Criar Pt.1” (com MICSHYNE, QVXNO e Pibxis)
Quando se tem nomes como UEST, Beiro, MICHSYNE, QVXNO e Pibxis todos reunidos, é fácil criar canções, ilusões e emoções. E para que dúvidas não restassem sobre essa facilidade de criação, “Fácil Criar” foi dividida em duas partes, com a segunda a ter como novos criadores convidados Lazy e Rilha (e ainda Kron Father a alinhar ambas as criações na arte da mistura e masterização).
[DAMAZ MC] “CAVALO MARINHO FREESTYLE”
DAMAZ MC cavalga e navega pelas batidas ondulantes de Catalão como um cavalo-marinho troteia e flutua no fundo do mar. As suas Páginas Soltas estão a ser reunidas e já se começa a adivinhar a história que compõem – são as aventuras da trupe UMRAP pelas águas do hip hop. Mais uma faixa, mais uma travessia. “Isso é o pão nosso de cada dia, companheiro”.
[Cintia] “SMOKE”
O calor de Maio já se faz sentir e as batidas de Charlie Beats reflectem essa subida de temperatura. Cintia aqueceu o ambiente com “SMOKE”, um tema que visa Pop Smoke como deixa para a rapper assegurar que agora aprendeu a apontar – sem ironias nesta associação. Tudo o que não passe pela chama desta faixa é fogo de vista.
[Palazzi] “Tal e Qual”
Do EP Distante retira-se “Tal e Qual”, uma faixa produzida por Monksmith e co-produção de Hyzer, vozes adicionais de HeartLess e holympo e toques extra por Nedved. Mas a letra e a interpretação da mesma pertencem somente a Palazzi, que se entregou por completo na hora de cantar os versos que escreveu.
“É que sei que sou tão novo
E tenho tanta preocupação na cabeça que nunca pensei bem como é que tudo na vida mudou”
Tal e qual.
[xtinto] “Android”
Trap ou boom bap é uma discussão que, no rap, parece ter a mesma proporção da rivalidade IOS ou Android, como se essas fossem as duas únicas opções que temos à disposição nos nossos toques de telemóvel.
Nesse aspecto, o “Android” de xtinto tanto serve a gregos como a troianos (que já nos anos a.C. usavam estes dispositivos para ouvirem os seus rappers “clássicos” preferidos, imagine-se), e o rapper de Ourém desde cedo hasteou todas essas bandeiras numa casa que era vista por alguns como monocromática – a extinta Think Music.
Numa nova fase da sua incrivelmente promissora carreira, o habilidoso MC tem vindo a mostrar, cada vez mais, que as suas valências não se resumem (como se não bastasse) à escrita complexa e continua a codificar rimas, mas com aplicações de r&b, no sistema operativo de benji price, que aqui contou com Naife na programação. Achavam que isto do rap eram só zeros e uns?
“Sinto-me um android da forma que eu bloqueio só com uma…” letra do xtinto.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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