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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[TEKILLA] “90’s”
“90’s”, com produção de Fred Ferreira, é o primeiro single do próximo álbum de Tekilla, que será editado no mês de Junho. Numa “homenagem a todos os que levaram o hip hop aos walkmans, discmans, leitores de mp3, e hoje às redes sociais, plataformas digitais, às casas de todos”, Telmo Galeano, um verdadeiro guardião da cultura hip hop, seja dentro das suas fronteiras, seja pelas pontes que sempre estabeleceu com as altas esferas do rap norte-americano, está de volta com o seu quarto disco em vista para provar que o seu rap, três décadas depois, continua relevante.
[Fugitivo x MadKutz] “Underdog”
Fugitivo e MadKutz voltaram a encontrar-se e desta vez o resultado foi um EP de quatro faixas intitulado Underdog, apresentado no canal de YouTube do rapper com um vídeo inusitado e original (e a deixar pormenores reveladores no ar…). “Underdog”, a terceira faixa do projecto, que dá título ao mesmo, é a cara deste trabalho colaborativo por juntar as barras próprias de Fugitivo às batidas inconfundíveis de Kutz. Who let the dogs out?
[Nayr Faquirá] “Não Penses Nisso” com Valete
Se tiveram uma semana complicada, “Não Penses Nisso” é o tema ideal para descomprimir por uns minutos. A voz apaziguadora de Nayr Faquirá é acompanhada pelos versos descontraídos de Valete (e ainda pelos subtis acrescentos vocais de Dino D’Santiago) numa canção leve e contagiante, capaz de renovar o ânimo para enfrentar mais uma semana.
[Pika] “50”
O drill cantado em crioulo continua cheio de vitalidade, e prova disso é a mais recente conexão entre Osémio Boémio e Progvid que incendiou o estúdio onde Pika rimou sobre os seus “50” problemas, a alta velocidade, sem derrapar nos versos e a deixar fumo no microfone.
[BATEU MATOU] “Clichê” feat. Papillon
Três foi a conta que os BATEU MATOU fizeram. A tripla de bateristas convocou Papillon, um especialista em reinventar clichés à sua maneira. Neste tema, o “Clichê” partilhado entre o rapper do colectivo GROGNation e a tríade das baquetas seria compará-lo aos hits dos Buraka Som Sistema. Mas o autor de Deepak Looper tem os seus próprios argumentos (mais do que suficientes) e provou isso mesmo ao brilhar na faixa com versos habilidosos e electrizantes por cima de batidas indomáveis.
[GriLocks x Glass!c] “Barro” / “Libert’art”
No dia em que se celebrou a liberdade, e apoiado por Glass!c na produção, GriLocks abriu o coração em dois poemas intitulados “Barro” e “Libert’art” e pôs todas as cartas na mesa, no primeiro sobre si e no segundo sobre filosofias, movimentos e religiões que rejeita como males do exterior que corrói o interior de cada elemento que os compõe. “Digo as merdas que toda a gente pensa mas ninguém fala” – é essa missão subjacente ao rap de João Grilo.
[LON3R JOHNY] “SUCESSO”
A Nave Vai Em Tour é o novo EP de LON3R JOHNY, e “SUCESSO” é a sua quarta faixa. Viagens não faltam neste disco, mas é neste tema que o imaginário se vê potenciado pelo vídeo animado de Nurb, com um plano inicial a trazer à memória a capa de Bandana. Se por um lado LON3R podia ser um membro dos JACKBOYS, por outro ficamos com vontade de ver as aventuras de Quasimoto ilustradas por Bruno Leça. Na vanguarda do que se faz por cá, isso é certo.
[Maudito] “ADA Freestyle”
No histórico dia 25 de Abril, “ADA Freestyle”, com produção de 808 Luke, foi o lançamento que inaugurou o nascimento da CRVVO, uma editora fundada por André Dias e Gustavo Sousa, que já haviam unido forças em Troca Tintas, no ano passado, em nome de Beiro e Maudito, respectivamente.
E em relação ao freestyle propriamente dito? É o Weis, ou agora Maudito, do costume, mas na sua melhor forma lírica, e assumidamente realizador da componente visual, algo que sempre o distinguiu além das valências flagrantes enquanto MC. E por falar em assumir, o artista dedicou umas quantas linhas a uma revelação inédita (pelo menos em termos tão explícitos), passível de ferir susceptibilidades no círculo predominantemente “conservador” (depreenda-se das aspas um eufemismo) que é o rap tuga – algo semelhante (à sua escala) a “Next line will have ’em like ‘Whoa’/ I been kissing white boys since 2004”, de Tyler, The Creator.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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