Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Wugori] Raio de Luz
Em tempo de escuridão qualquer raio de luz transparece novo dia. O que não significa que Raio de Luz seja um qualquer. O ano não tem sido especialmente frutífero no que a discos desta gama diz respeito, e nessa medida é certo que a pouca oferta entusiasme a procura. Mas como Wugori é agente alheio às leis selvagens do mercado, também o seu produto se vê imune às sucessivas oscilações. Ainda para mais com Pedra do seu lado — fosse esta meia dúzia de novas pérolas dúzia e meia…
[Bispo] “Mais Antigo”
Os últimos lançamentos de Bispo levam a crer que Mais Antigo tem sucessor à vista. E serve agora “Mais Antigo” — o mesmo título do último álbum a solo do rapper de Algueirão-Mem Martins — para reforçar, ao estilo GRM Daily e de “assalto” à Cidade FM, a dupla passagem do MC de Sintra pelos Coliseus. “Dupla” em duplo sentido: não só tem na agenda concertos marcados para o Coliseu dos Recreios e o Coliseu AGEAS Porto, assim como o espectáculo previsto para Lisboa conta com uma segunda data — uma vez que a primeira já esgotou. A tempo do novo álbum, assim cremos…
[Holly Hood] “Água do Crime” & “Chorar por Ninguém”
Não são, nem de perto nem de longe, as cadências sonoras sob as quais se espera ouvir Holly Hood — nem são, talvez por isso mesmo, os registos que melhor lhe assentam. Mas, do Holly Mood ao Holly Hood Som Sistema que em “Chorar por Ninguém” e “Água do Crime”, respectivamente, se fazem sentir, há sempre sumo a extrair das invariavelmente esporádicas aparições do autor de uma trilogia interminável. E marcam estas duas novas peças inusitadas o provável início dessa última terceira e tão aguardada parte de um álbum de uma carreira.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)