Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[LEO2745] “STREET”
O sucesso tem sorrido exponencialmente a LEO2745 e a própria indústria — desde logo pela atribuição do galardão de Artista Revelação por ocasião da última edição dos Prémios PLAY — parece reconhecer-lhe, igualmente, esse valor. Para o bem e para o mal, nenhuma dessas medidas nos tem servido como barómetro para avaliar o que por cá se faz neste âmbito, o que não nos torna mais ou menos justos. Mas justiça seja feita, conforme os nossos invariavelmente próprios critérios, a “STREET”: há, realmente, algo no primeiro single do álbum RUA OU GLAMOUR que nos prende o ouvido, não só por culpa dos nomes por detrás da produção (nada estranhos nesta rubrica…), mas também pela quota-parte do artista em evidência. Quem sabe o que virá por aí no resto do alinhamento…
[HOOD 75] “Ser Hood”
Ter a bênção de Allen Halloween à partida, ainda para mais numa altura em que a presença da “bruxa” nestes contextos se afigura cada vez mais rara, já quer dizer qualquer coisa. Mas E2SON, Didasboy, Djamila Zovo, Maurex e Lukeny não precisam do valioso carimbo de aprovação do célebre rapper e produtor de Odivelas para verem validado o seu talento. Unidos num, ao que tudo indica, recém-formado colectivo HOOD 75, surgem como boa nova no seio do hip hop nacional, onde as dinâmicas de grupo têm vindo a perder força face à aposta progressiva no sucesso individual. E “Ser Hood” não podia chegar como melhor cartão de visita para estas cinco novas caras a fixar daqui para a frente.
[CHAMP] “Pensei, Mudei, Transformei”
“Pensei, Mudei, Transformei” é a apropriação de veni, vidi, vici de CHAMP à sua própria história. E, na generalidade considerada, ela não difere assim tanto de tantas outras que por cá já reportámos. Agora, na especialidade, só ele saberá os contornos de uma jornada que, por definição, será irrepetível. Já no que diz respeito à forma como o rapper a tem contado, o facto de termos acompanhado nesta sede os últimos capítulos só indicia que continuamos no encalço das próximas páginas.
[Malaposta] Malaposta
Têm já uma actuação agendada para a próxima sexta-feira, dia 27 de Setembro, por ocasião do concerto de apresentação de É FDD. de BR!SA — sim, assim estilizado, que por cá não nos conformamos com infelizes situações de artistas cujos nomes estamos legalmente impedidos de dizer. E têm, também eles, nome e trabalho por apresentar: designadamente, o álbum Malaposta, homónimo do grupo que o concebeu, colectivo esse formado por Uno, Mano Peste, Valada e NuskillsBeatz — e demais associados, como é regra entre esta boa gente.
[Cachapa] “Desfeito”
Da última vez que o vimos, apresentou-se “Isolado” na sua demanda por Dicas Sem Limite, que tem em curso o desenvolvimento do seu terceiro volume. Agora, Cachapa revela-se “Desfeito” no arranque do seu primeiro projecto de originais a solo, cujo título corresponde ao nome deste single inaugural. Com Krayy na produção e DJ Sims no scratch, o rapper eborense abre caminho a um novo trabalho em nome próprio, sob a já habitual alçada do Sistema Intravenoso, e desta vez com nuances novas no seu registo tão característico.
[Monsta] “Tijolos”
No plano final de “Tijolos” vemos uma mulher a limpar com um pano o microfone usado por Monsta nos três minutos anteriores. A imagem é simbólica do que durante esta sessão de rap sem filtros se passa: posicionado no meio do bairro, Monsta apronta-se a cuspir barras — tijolos, mesmo — sem reservas, numa “manifestação contra [se bem percebemos] rat rappers”. E, a quem servir a carapuça, não há-de passar incólume ao calibre destes disparos altamente certeiros.