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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça. Por dentro e por fora.
[Cálculo] “better.me”
Há coisa de um ano, uma série de lançamentos sucessivos levou-nos a antever um novo capítulo na discografia de Cálculo, mas essa premonição, até ver, não chegou a concretizar-se. Volvidos nove meses desde a sua última novidade em matéria de singles, Hugo Martins dá à luz um novo tema num dia especialmente simbólico para o rapper e produtor de Barcelos (e também, curiosamente, para o autor destas linhas).
[Santos, Só] “Árvore, Pt.1”
Uma primeira parte pressupõe, desde logo, continuação do que se começou — e era essa continuação que aguardávamos desde que Santos, Só se (re)apresentou com “osciLAR”. Depois desse tão prometedor single de estreia oficial, chega-nos agora, oficialmente, uma primeira parte de “Árvore” — que entre nomes como Noizy e Mike Check vê o de João Maia Ferreira destacar-se nos créditos da produção —, tema em que o rapper volta a abrir o leque das capacidades técnicas e conceptuais que tem em carteira, curiosamente divulgado num dia especialmente simbólico, por sua vez, para este MC que parece ter ainda tanto por dizer.
[Mura] “Paredes”
As referências subjacentes a este “Paredes” revelam-se, na verdade, bem explícitas, enquanto a evolução do respectivo autor se tem dado de forma mais subtil. À superfície, a linha muito bem definida por Mura fez da sua identidade registo impenetrável, daí que as nuances não sejam tão visíveis numa visão panorâmica da sua discografia. Porém, ampliada essa imagem, com foco agora na margem que se há-de estender para um novo projecto — Tudo Ao Contrário, de seu nome, sabêmo-lo já —, são essas subtilezas que sobressaem num resultado geralmente previsível: é a limar arestas que o MC se tem apresentado cada vez mais apurado na sua própria pele.
[Pofo] “Visão” feat. Nameless
Um vem da escola de battle, o outro da escola do freestyle, e não só essas bagagens se fazem notar nos registos de cada um, como a natureza de ambas as modalidades os aproxima naturalmente. É dessa forma que Pofo e Nameless partilham a mesma visão, em particular numa faixa que privilegia a barra como matéria-prima desta empreitada de versos erguida a duas mãos e duas cabeças.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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