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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/02/2021

De 15/02/2021 a 21/02/2021.

Rap PT – Dicas da Semana #19

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/02/2021

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora. 



[Trapa x Pastor] “Lixo”

“Um rapper não é só barras” – foi o que Trapa provou com o regresso à vida no rap através dos seus Sinais Vitais, EP que editou no início do ano. Mas o rapper das Caldas da Rainha conhecido pela acutilância na punchline voltou a distribuir essa carga pesada, lado a lado com o Pastor, cujas rezas se fizeram sobre almas menos iluminadas. Os dois MCs limparam o “Lixo” das rimas ao som das batidas sujas de CONS; a personificar ao máximo o significado de “dicas da semana”.  



[UNO, CEVAS, NECXO] “LUTAS”

Nas “Lutas” do Ginásio, Uno, Cevas e Necxo trocam golpes à vez em forma de versos. Nos ringues do subsolo, há poucos pugilistas com tantos assaltos na carreira com uma consistência inabalável.  Há novo combate em Roubaram-me a mala, roubaram-me a mala, o próximo projecto a ser editado por esta equipa. 



[Perigo Público & Edna Oliveira] “Beija-flor” 

“Um manifesto de amor em tempos de guerrilha social” – é a descrição deste tema contagiante (com Kerum na produção) que junta Edna Oliveira a Perigo Público, sob a alçada da incansável Kimahera. “Beija-flor” conta uma história de amor simples, romanceada e cheia de clichês, como todas estas histórias devem ser. Já vem tarde… era a faixa perfeita para ter saído no dia 14 deste mês. 



[503 FAMILIA] “REAL NIGGAZ KNOW” 

“Real Niggaz Know” é boom bap clássico produzido por Chucks e cantado em crioulo em nome da 503 Família. As batidas descomplicadas dão espaço às linhas que, como é expresso no título do tema, versam sobre a amizade real, o companheirismo verdadeiro. Poucos mas bons é o lema desta faixa, menos nas barras; nesse campo junta-se a quantidade à qualidade. 



[FÉNIX LL] “O QUE É PRECISO”

Numa faixa retirada do álbum Em’Caixa, Fénix LL atira-se a devaneios líricos, desenhando um percurso de rimas que o levam por caminhos inesperados a parte incerta. O verso anterior dá a deixa para o seguinte, e o rapper vai saltando de linha em linha sem se afundar no mar de batidas desaguadas pelo próprio. Será que tem “o que é preciso” para nadar com os tubarões? 



[SP Deville] “Não Percebes”

It’s Deville B*tches Vol 3 está cada vez mais perto de ver a luz do dia e tem vindo a ser revelado frame a frame. “Não Percebes” é o avanço mais recente deste projecto tão aguardado, e teve como inspiração o célebre tema de Sam The Kid, o primeiro “Não Percebes” que se tornou num dos maiores hinos do hip hop nacional. 20 ano depois, ainda há quem não perceba o que eles dizem, o que eles vivem – o hip hop. Mas SP Deville, como tantos outros intervenientes desta cultura, não aceita um “não” como resposta. E é isso que a mantém bem viva até hoje. 



[Wet Bed Gang] “Ngana Zambi”

O primeiro longa-duração do quarteto principal da Wet Bed Gang, composto por 17 faixas, já está disponível para ser ouvido. A turma que estava “condenada” ao sucesso efémero e a um plafond limitado de hits continua a provar constantemente que a sua música não é fogo de vista; WBG veio não só para ficar, mas também para conquistar tudo e todos, do bairro para o mundo, porque o país já começa a ficar curto para estas estrelas da V-Block. 

“Ngana Zambi”, o tema que dá nome ao disco, revela a força espiritual, divina, de um deus, uma força maior, um anjo da guarda, uma alma paterna que tem abençoado os rapazes da Vialonga ao longo deste incrível percurso de superação, a par das figuras maternas a quem essa homenagem se estende, com paisagens de uma Angola igualmente agradecida pela música que o grupo tem feito. É um hino capaz de unir gerações, que transparece as raízes africanas indissociáveis, mesmo para quem já cresceu em Portugal. Mas a mensagem que fica é a gratidão de quem venceu, vitória essa que não se fica pelos quatro rapazes. Vai crescer uma nova geração inspirada por eles que fará dessas vitórias combustível para tentar chegar ainda mais longe. É esse o espírito de “Ngana Zambi”.

(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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