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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Vato] “Fala Praí”
A presença de Praso é mais do que assinalada em “Fala Praí”, mas, mesmo que tivesse sido omitida, a sua autoria a nível instrumental seria facilmente identificável desde logo. Curioso é ver Vato a fazer o que quer de um beat que transpira ADN-Alcool Club. Mas, por outro lado, esse é um dos seus pontos fortes: abordar faixas com os flows e as métricas mais improváveis para o que à partida o tema pede. E temo-lo visto, com especial admiração, a tornar-se cada vez mais irrepetível sem se repetir propriamente.
[Mura x Stereossauro] “Novos Fardos” feat. Tom Freakin’ Soyer & Sanryse
Quem tem estado atento ao trabalho de Mura — e aos seus mais recentes desenvolvimentos — não deverá estranhar esta parceria com Stereossauro nem os versos do rapper de Almada em “Novos Fardos”. Adamas, álbum que há-de juntar o MC ao DJ e produtor das Caldas da Rainha, tem vindo a ser falado nos corredores do underground nacional, mas surpresas estão com certeza guardadas nessa novidade ainda por revelar: a começar pelas participações de TOM e Sanryse, dois representantes de primeira linha de duas gerações do rap da Margem Sul, que partilham protagonismo na premiere deste Breaking Bad à portuguesa.
[Armário Records] “Cypher do Cabril 2”
Se uma iniciativa chega à segunda edição, é porque, à partida, a primeira correu bem. E o que é que havia para correr mal num cypher que envolveu rappers como Catalão, Animal, Rumo, Rilha, Cevas, Johny Malibz, Mura, Vácuo, Chapz, Farrusco, os Avan Gra, Puto P, Renz e João Pestana? Na altura, prevíamos que “o resultado, a correr bem, tem tudo para dar para o torto”. E cá está Cabril de volta, desta vez com Farrusco, Cevas, Buba, Babba, Chari, Puto P, Uno e Benny Broker, para confirmar essa fatídica previsão.
[E.se] “Gravito”
Apesar de mergulhar fundo a cada projecto em que (se) entrega, E.se não tarda em dar-lhes vazão ano após ano. Talvez pela urgência que carrega naquilo que diz, fruto do que, como já nos confidenciou mais do que uma vez, andou a congeminar para com os seus botões ao longo dos anos prévios à sua estreia autoral. Hoje, é nos botões dos outros que mexe, não só a nível profissional, mas também no ofício que não é, por enquanto, a sua profissão. Já a caminho do seu terceiro álbum em quatro anos, é em direcção a Hubris que agora Carlos Alves gravita, igualmente alinhado com as suas matrizes artísticas, mas cada vez mais confortável nessa pele que invariavelmente veste debaixo da bata.
[Lev GUNS] “Perfeito”
Ovilton Santiago bem pode ser a estrela da companhia, mas quem já o viu actuar sabe que à volta dele circulam outros talentos. Lev é outra das vozes do clã GUNS que também se emparelhou com os 404Soundlab — poucas semanas depois de Real GUNS ter editado ODB com esta dupla de produtores —, há quase um ano, num EP de cinco faixas. A pouco mais de um mês do primeiro aniversário desse projecto, Lev GUNS recupera a feitura desse disco com um lançamento audiovisual da sua primeira faixa no alinhamento, canção homónima deste curta-duração.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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