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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/01/2024

De 15/01/2024 a 21/01/2024.

Rap PT — Dicas da Semana #171

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/01/2024

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.


[Soul Providers x Krayy] “Alma” feat. TNT

Se por um lado o rap nacional caminha para romper fronteiras, ainda há, por outro, uma grande diferenciação territorial em certos polos da cultura hip hop feita em Portugal. Margem Sul sempre foi reduto da sua própria criação, desafiando a linearidade do tempo e a sucessão geracional. Ainda que haja claramente filhos de pioneiros, as noções de velha e nova escola esbatem-se quando representantes como Krayy e os Soul Providers conservam uma certa tradição intangível, e referências como TNT mantêm uma frescura aliada ao processo de evolução. Almas velhas e espíritos jovens cruzam-se, assim, pelo sítio que nunca esquece as suas origens.


[Epic 131] “O Melhor Para Ti”

Por cá, apreciamos cada vez mais a aproximação a uma linha ténue — e invariavelmente subjectiva — daquilo que, já do outro lado, nos desmerece valor. E, para nossa própria surpresa, temos dado conta de que quanto mais perto dessa linha definida em causa própria alocamos alguém, essa vertigem não implica necessariamente uma maior proximidade com o lado indesejável da divisão. O que na verdade acontece perante estes casos é uma redefinição da posição dessa mesma linha, que se vê, afinal, mais afastada do que à partida vincáramos. “O Melhor Para Ti”, de Epic 131, tinha tudo para cair do outro lado. E, no entanto, olhem para nós aqui, deste, a puxar-vos no sentido contrário ao da nossa própria direcção. Isso diz mais sobre quem traceja do que quem é tracejado.


[Psyco] “Mama Dja Flaba”

Da sucessão à ascendência, Psyco mantém o coração aberto na hora de fazer escorrer tinta no papel. “N’ta Amau” veio endereçada à primogénita do rapper, e agora “Mama Dja Flaba” — tema que serve de primeira amostra do EP Portugal Needs Me — chega como carta destinada à sua progenitora. Porque quem cria passa a compreender melhor aqueles por quem foi criado.


[Alcool Club] “Cem Anos”

Saxofone ao volante, piano em pano de fundo, Sara D. Francisco a dar as deixas, Tommy El Finger a riscar arestas e o trio de rappers jazzísticos formado por Praso, Montana e SanguiBom a impor verso à batuta: está alinhada a receita centenária dos Alcool Club que, por muito simples que pareça e por muitos anos que passem, tem tanto que se lhe diga. Por isso é que, por maior que seja a volta, volta-se sempre onde já se foi feliz.


[Amon] “Cabine” feat. Frizer

Parecendo que não, já lá vão sete anos desde que, em 2017, Amon e Frizer se cruzavam na “Cabine”. Agora disponibilizado no canal da Blckout Records, o tema em evidência remonta não só a uma década diferente, mas também a um outro Amon, na altura bem mais perto do boom bap tradicional, mas já com a “rima em dia” — essa, para aí desde 2007.


[King Bigs] “Para Tu Seres de Onde Eu Sou” feat. Kosmo Da Gun

As imagens da actuação que protagonizou no Musicbox, dia 13 deste mês, vieram a tempo de abrir o vídeo de uma faixa que, presumivelmente, já estava na manga de King Bigs antes dessa sua apresentação a solo em Lisboa. Novamente ao lado de Kosmo Da Gun, Bigavelski — que já tem passagem pelo Porto agendada para breve (Hard Club, “El Presidénte” chega dia 3 do próximo mês) — está de volta aos lançamentos com o seu primeiro álbum em nome próprio no horizonte.


[Kristoman] “Tou Cá Em Cima”

É lá de cima que Kristoman se dirige aos seus ouvintes para anunciar um novo projecto a solo, mas quem ouve a sua música dificilmente o imagina cá em baixo. Atitude na rima nunca faltou ao rapper de Loulé, que faz dessa confiança uma das suas mais valiosas armas do seu arsenal enquanto MC. É por isso que, no seu caso bem específico, a técnica surge como critério secundário confrontada com a forma com que cada verso é vociferado. É uma fibra que se encontra com frequência no MCing algarvio, estandarte que Kristoman carrega como poucos.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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