pub
Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Vilson] “Wash”
Sintra é um dos principais núcleos do drill português, que está a crescer dia após dia. Nessa linha (sonora ou ferroviária), o instrumental de “Wash” não engana, e a atitude de Vilson também não; tipo “Griselda, Westside Gunn”.
[nastyfactor] “MOB” ft. Prizko
nastyfactor e Prizko têm sido parceiros inseparáveis em estúdio (como nos contou o rapper e produtor em conversa sobre o seu primeiro álbum a solo recentemente lançado). Depois de “Vila”, inserido em A Vida dos Felizes, os dois membros da GROGNation voltam a dividir versos em “MOB”, num “nasty-drill” produzido pelo suspeito do costume – identidade não falta a esta dupla, e ficou o aviso para as próximas investidas: “A gente vai cair em MOB”.
[JULINHO KSD] “Mistura”
Julinho KSD representa mistura, dos subúrbios aos centros, transversal a etnias ou classes sociais. Em “Mistura”, não é sobre isso que fala, mas é isso que confirma, em mais um tema impossível de ficar indiferente a qualquer ouvido. Há também mistura na produção, assinada, em nome de DirtyDoc, por Fumaxa, Migz e Rubik, e nos agradecimentos, nomeadamente a Leandro Lopes, Here’s Johnny, Ariel, Frankieontheguitar, Instinto26, Tadashi, Katacaba, Collela aka João, Emmanuel Pereira e Gui. Celebre-se a mistura ao som de Julinho, pois claro.
[Fizz Escobarra] “Anti Social”
Directamente de Londres, Fizz não deixa de se mostrar presente apesar de se manter “Anti Social”. Na semana passada chegou-nos o vídeo (de Don Vivi) desta faixa que integra o último álbum do rapper do Miratejo, Igual a Ninguém – “Uma coisa que só tu sabes fazer: seres tu próprio”. Mais vale sozinho que mal acompanhado e no rap Fizz não precisa de ninguém para sobressair.
[Wet Bed Gang] “Perseus”
“Um dia alguém vai tomar uma posição”. E os Wet Bed Gang tomaram-na; não há grupo em Portugal a fazer algo parecido, com tanto impacto, como os rapazes da Vialonga, que estão a preparar o primeiro álbum.
A par de Plutonio, os WBG são senhores das suas pontes, e “Perseus” almeja a esses limites elevados aos céus pelo rapper de Cascais em “Lisabona”. Banger atrás de banger, não admira que ostentem um lifestyle que conquistaram – “Versace on me” tem “v” de V-Block e de vitória.
[Each1] “Freestyle”
Limites, o primeiro álbum a solo de Each1, foi finalmente editado. Depois de vários anos a deixar marcas bem visíveis (veja-se “Agimos Muito Rápido”, o single do disco, com Chek1, destacado na última edição desta rubrica), o rapper do Porto propôs-se a um há muito esperado longa-duração. “Freestyle” é uma amostra alargada (com seis minutos de barras sem “limites”) do calibre deste disco que grita rap portuense em cada rima e batida. O hip hop está bem vivo na Invicta!
[UnderZ x Cachapa] “ZERO”
Cachapa continua a apresentar sucessivos argumentos que enchem o seu currículo. O rapper de Évora ainda agora começou e já tem um terceiro projecto a caminho, desta vez em colaboração com UnderZ na produção. “ZERO” é o primeiro avanço do EP homónimo, que certamente virá a confirmar aquilo que já deu para perceber acerca do sangue novo do Sistema Intravenoso: vontade e capacidade não faltam. Não há quem o pare.
[Mary Jane] “Elas”
Num género musical dominado pelo género masculino, “Elas” fazem sempre falta. Assim, a partir do rap, Mary Jane foge para outras bandas, num novo tema produzido por Ricardo de Barros, para homenagear raparigas e mulheres que foram vítimas de violência, nos casos visados, fatal. Não é a primeira vez que aborda este flagelo e certamente não será a última, infelizmente. E só “Elas” sabem verdadeiramente do que aqui se trata.
[DAMAZ MC] “TODO O ANO”
As batidas de Catalão voltam a merecer destaque pela segunda semana consecutiva; nesta, as rimas são oferecidas por Damaz MC, com cuts de DJ Algore. UMRAP funciona à letra: é um círculo unido e fechado onde todos trabalham para o mesmo fim, “Todo o Ano” – “Aqui é rap o ano todo, todos os dias sem exceção”.
[SP Deville] “Bairro Alto de São Roque”
Há nova peça de It’s Deville B*tches Vol.3, revelada pelas paredes do “Bairro Alto de São Roque”, na rua da Atalaia (onde nasceu a “Atalaia Airlines” de David Bruno e companhia, com sede no restaurante-bar O Avião), onde viveu SP Deville. Numa homenagem profunda aos cantos e recantos únicos do Bairro Alto, o rapper e produtor dedica este tema a uma série de amigos que partilham com ele memórias inesquecíveis pelas ruas de um bairro especial no coração de Lisboa.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
pub