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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Farrusco x Chapz] “WHEN I WALK”
“Ódio tão presente quanto a voz é rouca” tanto serve para caracterizar o rap de Farrusco como o de Chapz. E “WHEN I WALK” não é o primeiro encontro entre estes dois mordazes MCs: só no primeiro longa-duração do primeiro registam-se três participações do segundo — em “Risco Ao Lado”, “Dois Cães Que Gravam” e “Ketaquese” —, mas desta vez é Romeu Rocha quem assina a produção do instrumental, ao contrário do que aconteceu ao longo do disco de estreia do rapper de Odivelas, inteiramente produzido por saraiva.
[Kaiza] “Bilhete Verde”
“Bilhete Verde” é mais um lançamento com carimbo Zona Recs concretizado na semana passada, por sua vez protagonizado por Kaiza: o rapper que nos encantou com uma espécie de exercício de freestyle em “Rua K”, cujo loop que subjaz aos versos — deslumbrante, por sinal — da respectiva faixa é, também, da autoria do MC em questão. Desta vez, é, porém, saraiva quem assume as rédeas instrumentais (já que não o fez no caso anterior), enquanto Kaiza volta a dedicar-se à escrita vertiginosa, como se cada barra lhe saísse do peito na hora.
[Wugori] WUGOZI
“Um obrigado enorme ao Oseias pelos beats, para mim o melhor producer da tuga, é uma honra gigante ter trabalhos com ele.” Quem o escreve é o próprio Wugori, felizardo que recebeu um pacote precioso de instrumentais de oseias. que resultaram nas faixas “Carente”, “Oitenta e Três” e “Morgue Free”. Se em matéria de produção o rapper da Amadora já era mais do que auto-suficiente, quando se junta a homólogos seus nesse âmbito, encontra parceiros que fazem-no destacar-se tanto ou mais do que quando é ele próprio a assumir todos os campos do processo criativo.
[SboyReal] “Dexano nos Cor”
As fardas dos agentes captados no início do vídeo de “Dexanos de Cor” indiciam que as imagens não são propriamente recentes, mas os versos de SboyReal ainda têm tinta fresca: editado no início do ano, Na Drill estreou seis temas do aliado de Real GUNS, que volta a trazer à colação a quinta faixa do seu mais recente projecto com um complemento visual que ajuda a dar força à mensagem anti-racista subjacente à canção.
[haze] “Lisboa”
“Lisboa” chegou em boa hora: numa altura em que a capital portuguesa atingiu o topo das cidades europeias mais caras para arrendar casa, haze voltou aos lançamentos precisamente para falar sobre esse tema que, segundo confessa no seu novo single, sente na pele. A solução, propõe o próprio, passa pela fuga rumo a outras paisagens, mais rurais do que urbanas, com vista a um futuro risonho quer a título pessoal, quer na música.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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