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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Plutonio] “Lisabona”
Plutonio abriu o ano civil da Bridgetown. “Lisabona”, a cidade das pontes, é o novo tema do rapper de Cascais, que atingiu o primeiro milhão de visualizações no YouTube na primeira semana.
Seja pela A1, A2 ou A5 – pelo drill, afro ou r&b –, Dudu está sempre na estrada do sucesso, e no seu caso todos os caminhos vão dar ao Bairro da Cruz Vermelha – e alguém lhe diga que tem patrão na sua zona.
Depois de ter sido o artista português mais ouvido no rap em 2019, com o álbum Sacrifício: Sangue, Lágrimas, Suor a ser o primeiro disco digital a atingir platina em Portugal, Plutonio continua a elevar a fasquia, e em “Lisabona”, assistido por Johel Almeida no vídeo, aponta para escalas nunca antes medidas em território nacional. Já não fica a dever muito a nomes como Drake ou Skepta. E chegar perto de um desses nomes “seria como tocar em plutónio”.
[Domi] “Ondas Da Praia”
Domi deu o primeiro mergulho do ano em “Ondas Da Praia”. Este novo single marca um regresso aos temas, depois de um 2020 apenas marcado pela participação em “quem sabe”, faixa do álbum A Vida dos Felizes de nastyfactor (aqui destacada na altura).
Em conversa com o Rimas e Batidas acerca deste lançamento, o rapper algarvio revelou que apesar de silencioso, não esteve parado, e 2021 é ano de ondulação. Difícil vai ser sair deste banho.
[ZA x BEIRO] “BROKE” (feat. QVXNO e JACKIE)
Há nova conexão Lisboa-Porto, com ZA ao volante e Beiro como co-piloto. “Broke” é a primeira paragem e anuncia um álbum colaborativo entre o rapper da capital e o produtor portuense. A estes dois juntaram-se QVXNO nas rimas e Jackie nas batidas, numa faixa de série B – barras, bounce e brilho.
[Roke] “Baú”
O primeiro projecto da Paga-lhe O Quarto Records (POQ), de um 2021 que se adivinha preenchido por estas divisões, já foi editado. Shaitan é o novo EP de Roke, de onde se retiram barras deste “Baú”.
O rapper portuense é personagem principal num thriller com rimas de cortar a respiração, batidas assombradas por Lex Lucas, e filme (de terror) imaginado e captado por José Leal Riça e Catarina David, respectivamente. Isto é “rap de filmes tipo Ódio” – jusqu’ici tout va bien.
[SUBTIL] “07-06-91” / “RESPIRAR DE ALÍVIO” / “QUE VENENO”
De uma só vez, Subtil desvendou três singles do seu próximo álbum, C’Alma, com Narkou, KarmaBTZ, Dekor e Beat.Apotheke responsáveis pela produção.
Tudo começa em “07-06-91″, data a partir da qual o livro de recordações se abre. Cigarro na boca e o rapper algarvio começa a “Respirar De Alívio”; do que viveu ao que pensou, já vamos em dois temas em que a linha que os une é a verdade na voz sôfrega do artista. E como não há duas sem três, termina na mesma tónica, mas com uma outra atitude: “Que Veneno” é a terceira cruz no jogo do galo da sina de Subtil.
[Blekan] “Driller”
“Driller” é a primeira faixa do EP Drilling The System de Blekan Deka. Já perceberam ao que vêm? Nós ajudamos: “Putos tudo kre ser driller, txeu ta imita kez putos di londris”. Ontem o trap, hoje o drill – há uma nova sonoridade a disseminar-se nas nossas fronteiras, e como já se sabe, grandes movimentos atraem grandes massas. Mas o drill pertence às ruas, e Blekan conta-nos ao pormenor o que significa essa realidade que, na sua essência, não se prende apenas numa cadência de BPMs ou num estilo visual.
[X-TENSE] “17.12.20”
As lutas interiores de Nuno Barreiros são matéria-prima na música de X-Tense. Os porquês; a lama antes da fama, ou a cama que a fama fez; o sucesso ou o sossego; o artista e/ou a pessoa. A música tem destas coisas: revela tudo sem mostrar nada, expõe a carne viva através de carapaças forjadas. E é nessa zona indefinida que X-Tense vai prosperando, contra tudo o que acredita – virtudes do “desassucesso”.
[E.se] “Estocolmo” (ft. João Tamura)
Ir daqui a “Estocolmo” é um pulo, se formos à boleia dos versos de E.se e João Tamura, embalados pelas batidas de Wake Up Sleep. A partir em Almada, com passagem pelos Olivais, a viagem em direcção ao álbum de estreia de E.se continua a passos cada vez mais largos e assentes no chão que escolhe pisar. Se fica preso a esse chão, ou se segue em frente? Depende da sua própria Síndrome de Estocolmo.
[Mini God] “Odjanu Li” (ft. Nigga F & Xama)
O rap crioulo da zona O volta a estar em destaque por aqui, nas vozes firmes e inabaláveis de Mini God, Nigga F e Xama. Esta semana é “Odjanu Li” o tema que nos fez abanar a cabeça, por dentro e por fora, sobretudo graças ao instrumental com sabor especial e nostálgico. Vai ser a semana toda a cantar “odjanu li” até à exaustão…
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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