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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/04/2023

De 17/04/2023 a 23/04/2023.

Rap PT – Dicas da Semana #132

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/04/2023

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.


[Il-Brutto] “Pratta” feat. Escalpe

Enquanto a revelação da obra prima maior de Escalpe não se faz, adiantam caminho os respectivos elementos: é sabido que Tilt, que nas últimas semanas tem palpado terreno em actuações a solo, está prestes a apresentar trabalho em nome próprio; o sucessor de Auto-Sabotagem, último disco de Nerve, editado em 2018, não deverá (assim cremos) tardar; e Il-Brutto também já vem de há algum tempo para cá a avançar peça a peça o seu longa-duração de estreia com uma série dos mais respeitáveis rappers da nossa praça — e é aqui que Escalpe entra, trio reunido, para dar voz às sempre reverentes batidas do anfitrião de “Pratta”, que convoca dois dos mais exímios manuseadores de afiadas lâminas para trazem barras em peso de ouro.


[DJ Sims & Cachapa] “Contraditório”

Quem também se aproxima da revelação de um novo trabalho na íntegra é Cachapa: novamente aliado a DJ Sims, o rapper eborense tem em vista o seu segundo longa-duração ao lado do guardião do Sistema Intravenoso. Detalhe sucede assim a 2ª Gaveta, projectos intercalados com os dois volumes das mixtapes Dicas Sem Limite — quatro projectos nos últimos três anos, prova de que o MC alentejano não dorme à sombra do chaparro; e disso não há “Contraditório”.


[Kappa Jotta] “Coisas Na Cabeça”

São “Coisas Na Cabeça” aquilo que Kappa Jotta canta no novo single de Passaporte. Mas, mais do que cabeças, são as caras — designadamente de gente, dos mais velhos aos mais novos, das comunidades da Ulmeira, da Serra da Luz e do Fim do Mundo — que marcam o novo tema do rapper da Linha de Cascais, que se aproxima cada vez mais do seu próximo longa-duração a solo com mais um tema irresistível à sua tão característica imagem.


[DNKLSH] “Corda”

Serve o que acima se disse para a “Corda” de DNKLSH (também conhecido por Don Nuno). Num discurso (ainda mais) directo, o rapper da Margem Sul relata na primeira pessoa o seu dia-a-dia, em nome de quem o rodeia, fazendo do rap confessionário — para o bem e para o mal.


[Chullage] “Sonhei Que No Meu Bairro”

A relatar sonhos por cumprir, Chullage passa a pente fino a realidade de um país que assinala hoje 49 anos de democracia, e que vê uma série de flagelos subsistirem décadas depois da queda da ditadura. “Sonhei Que No Meu Bairro”, tema produzido pelo companheiro de armas Sam The Kid, é uma tomada de posição à mais fiel imagem do autor de Rapresálias, que volta agora a fazer do microfone ferramenta de intervenção, de discurso tão directo quanto se possa esperar de um dos mais respeitados MCs que o hip hop nacional, ainda na sua formação, viu rimar.


[Loreta KBA] “Pela música freestyle”

À boleia dos versos de Sam The Kid em “Pela Música Pt.2” (faixa retirada de Serviço Público de Valete, com a participação do rapper e produtor de Chelas e de Ikonoklasta), inconformado com a marginalização do rap crioulo na indústria nacional, Loreta KBA volta a defender o valor dos múltiplos idiomas com génese no crioulo — statement esse reforçado pelas palavras de Chullage repescadas em “Pela música freestyle”, tema que abre caminho ao próximo álbum do rapper da Linha de Sintra.


https://youtu.be/BOfuWH2zXA8

[KrazyDread] “Os 7 Pecados E Meio”

“Os 7 Pecados E Meio” não é um freestyle, mas bem podia ser — como, aliás, grande parte do seu reportório. A facilidade com que o rapper alentejano se faz ao verso é assinalável, e é em frente ao microfone que o MC eborense KrazyDread se sente verdadeiramente confortável. Dêem-lhe instrumentais como o de Nottz, que ele expia pecados até mais não.


[NA Zona] “Lúcifer”

A hipótese pode ser rebuscada, mas talvez NA Zona seja NA Zona precisamente por ocupar uma zona só sua no panorama envolvente. Igual só a si mesmo, lançamento atrás de lançamento, sempre fixado num registo desconcertante e disruptivo, mas extremamente atractivo — e já bastante para um trabalho de maiores proporções.


[Kilu] “Meu Diário”

Toda a discografia de Kilu tem sido, na verdade, diário vivo do virtuoso rapper e produtor que desde cedo fez escola para gerações atrás de gerações. Sempre discreto na sua presença, quando volta e meia aparece, surge como ancião renovado, artesão rejuvenescido através da sua arte, mais leve e ágil à medida que o tempo passa pelas suas páginas.


[Caixa Cartão Collective] “Fumo No Spot” feat. UEST., Rilha, Vácuo, Stone Jones

Este calendário já não guarda surpresas: o anúncio fez-se do “Topo Da Colina”, e onde há “Fumo No Spot”, há fogo. Vem mesmo aí o terceiro volume da compilação reunida em nome do Caixa Cartão Collective — previsto para ver a luz do dia a 14 de Maio —, que junta à já composta turma novas caras como as que por aqui têm vindo a ser destacadas. E, ao que sabemos, ainda hão-de passar por cá mais umas quantas antas da derradeira revelação…


[VLUDO] “BCG”

“Para quê fazer um álbum se ele dura meses?” é receita que o próprio autor da interrogação não segue. Dedos Finos, álbum que junta as rimas de Blasph às batidas de Sam The Kid, é mais um projecto desenhado para a posteridade. Daí que os dois protagonistas do duo VLUDO não se guiem por prazos impostos, muito pelo contrário — e daí, também, que “BCG” surja agora, com a Serra da Estrela como pano de fundo captado por Sebastião Santana, já depois da edição do disco e do fim do Inverno: continuam com “Barras Cheias de Gelo”.


https://youtu.be/h9SiZ6bWm-s

[CHYNA] “Energy”

A energia de CHYNA tem sido sentida, deste lado, de forma ambígua ao longo dos anos: Made In Chyna (2017) conquistou-nos, 1 Week Later (2018) desiludiu-nos e Chyna Town (2021) deixou-nos um sabor agridoce — que em “Energy” predomina novamente. Certo é que, quando salta de cabeça ao verso, o rapper de Queluz tira-nos as teimas todas. O resto, olhem, é a velha história: gostos…


[Cálculo] “Na Minha”

Acompanhar a evolução de Cálculo em mais de dez anos de carreira tem sido especialmente interessante: para quem começou a rimar preto no branco, seguindo as matrizes das grandes referências nacionais, as cores que agora reflecte — a título de exemplo, em “Na Minha” (inexplicavelmente, a fazer lembrar um Gus Dapperton em “Prune, You Talk Funny”) não só lhe assentam cada vez melhor como, por distintas que são, alargam o espectro daquilo que anos atrás esperaríamos deste versátil artista barcelense.

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