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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Slow J] “Grandeza”
Foi em grande que a semana começou, e foi “Grandeza” que Slow J — provavelmente, o nome português mais desejado na plataforma — levou ao A COLORS SHOW. Na realidade, já desde que o rapper e produtor cantava, em “Portus Calle”, “Diz-lhes que Portugal é muito mais que uma nação”, se via no artista de Setúbal talento e capacidade para chegar a palcos maiores. E fê-lo, aqui, de mãos pregadas ao colete, do cante ao rap, em pano de fundo vermelho — com a contribuição determinante dos irmãos GOIAS —, num tema que é sinal de uma significância bem maior que a de conquistar espaço numa montra tão cobiçada como esta: “fazer ao Rui Veloso o que o Ronaldo fez com o Figo”? Já parece pouco ambicioso a partir daqui.
[nastyfactor] “Como Ninguém”
Depois do lançamento de “Como Ninguém”, a presença de nastyfactor no novo episódio do podcast 3 Pancadas (encabeçado por Sam The Kid, Sir Scratch e João Moura) serviu para saber mais sobre os planos do rapper e produtor de Mem Martins: agora com uma equipa propriamente dita, reunida no seu canal da Twitch — por oposição ao seu método de trabalho em nome próprio até então, que tomava a expressão “a solo” verdadeiramente à letra —, a quinta parte do já inactivo colectivo GROGNation tem um novo álbum em desenvolvimento.
[Zé Capinha, Bananinha & Reflect] “PASSA O MIC #8” (prod. Flexa)
Já vai na oitava edição a iniciativa da D.R.U.G.S. Clothing em parceria com o STUDIO27, em Faro. A conta mantém-se na regra: são três desta vez a enfrentar o microfone, num formato cypher, guiados pelo instrumental de Flexa e balizados pelo sratch de DJ Cruzfader — designadamente, Zé Capinha, Bananinha e Reflect, um trio alinhado num registo bem clássico.
[Farrusco] “Brilho Das Carpas”
Não se deixem enganar pela brilho da capa tipicamente “lo-fi hip hop radio — beats to relax/study to”: o instrumental de Parker em “Brilho Das Carpas” não é assim tão minimalista — bem pelo contrário. Ainda para mais com a voz inconfundível do sempre surpreendente Farrusco ao serviço desse beat na essência tudo menos lo-fi.
[ISEEJOHNY] “ISEE”
Não é propriamente uma estreia, mas é, sem dúvida, uma reapresentação com outra cara: quem vê “ISEE” vê ISEEJOHNY, rapper de Ovar que garante que já era “artista antes de saber rimar”. E agora que já sabe, juntou-se a Lazuli e Reis neste arranque mais assumido, bastante para nos deixar alerta para o que se segue.
[Sandrini] “CCTV”
Já desde “Rainy Days” que vimos em Sandrini matéria magnética, com força capaz de atrair mesmo perante alguma resistência. Agora em “CCTV”, o rapper do Barreiro mostra que o drill de “Troti” pode ser refinado (mesmo que a cadência dos drums não seja propriamente inovadora): desde que Sandro Bento se apresentou ao hip hop, em 2019, tem vindo a atalhar caminho na procura de uma identidade enquanto sobe a parada da sua proposta a olhos vistos. Daí que tenha as câmaras de vigilância apontadas a todos os seus passos.
[Real GUNS] “P.D.G (Produto Di Guetho)”
A música de Real GUNS continua a ser um documentário em tempo real da realidade do rapper são tomense sediado em Portugal — muito por culpa, também, dos autênticos realizadores com quem escolhe trabalhar. Novamente com a visão de Loan Lamoureux, o autor de Escrevo Com Sangue avança com um primeiro vislumbre do que virá a ser DAVIDS, o seu próximo trabalho produzido por MikelPotter. Em “P.D.G (Produto Di Guetho)”, o MC desdobra-se entre Caxias, Cova da Moura e Trafaria para mostrar, sem encenações, imagens do que o seu rap representa — com uma autenticidade que em mais nenhum homónimo seu conseguimos encontrar.
[Landim] “Forever na Street”
Em mais um episódio de KSDRAMA, a trama de “Forever na Street” não foge à de “P.D.G (Produto Di Guetho)”. Cada um à sua maneira, tanto Landim como Real GUNS têm-se destacado na linha da frente de um rap que tanto fala de dentro para dentro como de dentro para fora — com a particular diferença de que o MC de Mem Martins tem sido uma das vozes motoras do rap crioulo em Portugal. É nessa medida que “Forever na Street” é mais do mesmo: um artista fiel às suas origens, quer artísticas, quer circunstanciais.
[LON3R JOHNY & Plutonio] “DIAMANTE”
Desta é que não se esperava — mesmo em pleno Dia das Mentiras. Mas o que é facto é que o autor de “1 de Abril” juntou-se ao protagonista de Vida Rockstar para um projecto colaborativo: ANTI$$OCIAL foi editado no primeiro dia deste mês e deu a conhecer cinco novas faixas no repertório de ambos os artistas, que procuraram uma estética diferente (mais no caso de um do que do outro) daquela que lhes é reconhecida como característica. Ainda assim, num registo que se aproxima mais de LON3R JOHNY, as batidas de “DIAMANTE” — trabalhadas por Lhast — mais depressa se veriam dirigidas a Plutonio, aqui claramente mais longe da zona de conforto.
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