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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Parker] “mcfly” feat. gonsalcomc
O universo ensemblu, pelos vários intervenientes que reúne, apresenta-se especialmente prolífico — e igualmente entusiasmante. As novidades, desta vez, vêm de Parker, rapper que apresenta em como foguetes entre estrelas o seu terceiro longa-duração em nome próprio. Para Afonso Cortes, a vontade de experimentar é muita e a necessidade de mostrar trabalho é constante. Tanto que nunca é certo por que caminho nos há-de levar. E neste em que “mcfly” é o visado — a meias com um verso fascinante do rapper e produtor gonsalocomc —, a viagem revela-se particularmente imaginativa; e não menos interessante, sublinhe-se.
[xtinto] “Cadáver”
Quem tem, por sua vez, um novo trabalho prestes a ver a luz do dia é xtinto. “Cadáver”, quarto single de Latência que antecipa o lançamento do novo trabalho do rapper de Ourém, resulta de um encontro entre benji price e Beiro na produção, em que o segundo teve liberdade para ir mais longe na construção instrumental. O produto final, segundo os próprios criadores, acabou por passar não longe da paisagem sonora de To Pimp a Butterfly — quer na segunda parte do beat, quer no verso do MC, que aponta a pena ao “sucesso póstumo”.
[OhTel] “N.V.P” (prod. GRINGO & Makalo)
Não foi há muito que lhe pusemos ouvidos em cima pela primeira vez, precisamente na sua primeira aparição assumida enquanto OhTel. Captou desde logo a atenção do nosso radar, e as últimas novidades que veio a apresentar não passaram em branco por aqui. Agora, com o desvendar de “EGOH” e “N.V.P”, o rapper luso-angolano edita assim o seu primeiro trabalho, um EP de quatro faixas entitulado Mic el AngelOh, todo ele produzido por GRINGO (e ainda com MIKELPOTTER, Makalo, VT e NORUEGA em evidência na produção). Se é por aqui que entram no universo de OhTel, as coordenadas de “N.V.P” bem podem situar-se entre Slow J e ProfJam, quando também eles estavam nos respectivos inícios de carreira.
[Farrusco] “Merdas Que Só Eu Sei x Bagaço Trap Shit” (prod. saraiva)
À semelhança da cadência de lançamentos protagonizada por OhTel, também a dose dupla de “Merdas Que Só Eu Sei” e “Bagaço Trap Shit” abriu portas a um EP editado por Farrusco a partir da Zona Recs: Uma Mão Cheia De Nada tem saraiva à frente da produção e o rapper com “voz de bagaço” em destaque numa mão cheia de temas — e outra cheia de dicas.
[Mlk Mau Aluno] “Pé na estrada”
De novatos a veteranos, a semana ficou marcada por novos trabalhos como é o caso de Brio, o mais recente longa-duração de Mlk Mau Aluno, editado no último dia do mês de Janeiro. “Pé na estrada” é a única das onze faixas do projecto que conta com uma outra voz além da do histórico MC da Margem Sul. E que voz… AMAURA é a convidada de honra do disco, e a química entre os dois artistas que sobressai neste tema justifica esse cruzamento pontual a meio caminho.
[Cálculo] “Flutwo”
A duas semanas de voltar a subir ao palco do Musicbox, Cálculo desvendou “Flutwo” como aperitivo para o que há-de ser a sua próxima actuação em Lisboa, no próximo dia 17. E é, sem surpresas, a flutuar que Hugo Martins volta à criação em nome próprio, sob a produção do seu parceiro B Quest, em mais uma sessão caseira no Humble Bee Studios. Imagine-se o que estes dois têm por ouvir nas gavetas deste estúdio…
[Mirai & Lazuli] “Ciclones”
“Amo a tua arte bro, obrigado por existires”, aparece no topo das reacções ao novo tema que junta Mirai a Lazuli. Quem a escreve, na caixa de comentários de “Ciclones” no YouTube, é o já mencionado xtinto, e o “bro” é, logicamente, o próprio Mirai. Caso para dizer que nos tiraram as palavras do teclado: de facto, há no “homicida” d’O Game um factor diferenciador no que à sua arte diz respeito. E este é “só” mais um tema que põe a nu esse talento flagrante.
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