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Texto: Paulo Pena
Fotografia: 90sKid
Publicado a: 27/12/2022

De 19/12/2022 a 25/12/2022.

Rap PT – Dicas da Semana #115

Texto: Paulo Pena
Fotografia: 90sKid
Publicado a: 27/12/2022

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.



[gonsalocomc] “olhos em bico” (c/ Zaga) prod. Ricky1312

Ele bem avisou que, mais cedo ou mais tarde, a coisa haveria de sair nos derradeiros dias natalícios. Ali, naquela altura​.​.​. chegou em boa hora para fechar um ano que, para gonsalocomc, tendo começado com a sua quota-parte em vigairada no primeiro mês de 2022, foi preenchido do início ao fim.

“olhos em bico” é, por isso, exemplo por excelência do que o prodigioso produtor tem representado no pouco tempo que tem de actividade: puxou-nos o tapete na produção em MAL PASSADO BEM PENSADO, mas tem provado desde aí que a sua arte não se resume às batidas. Tem sede de palavra e sabe como usá-la ao seu jeito. Pelo caminho vai se cruzando com gente igualmente dedicada à obra, desde os já reconhecidos aos mais anónimos — como é caso, deste lado, do beatmaker Ricky1312 e de Zaga.



[João Pestana x Catalão] “Verde” (Dir. Óssio || Part. DJ Algore)

A cadência dos lançamentos do novo projecto (que se ramifica noutros) da LUME Portugal — que junta rappers a realizadores, com a produção e os riscos fixos de Catalão e DJ Algore — não tem sido a mesma do arranque. Mas os temas que, agora com menos frequência, vão surgindo não perderam em nada a sua pertinência no espaço que ocupam. Esta é uma inconformada turma-bastião do underground português que não se coíbe de bater o pé em causa própria. “Verde” não é o rap do costume, é pelo costume do rap.



[Mlk Mau Aluno] “Maleiker”

Mlk Mau Aluno mostra-se agradecido pelo instrumental produzido por Madktuz em “Maleiker”, mas há mais gente a promover tensão na ideia do célebre produtor: Tomás Cruz na guitarra eléctrica e nas teclas, Alexandre Ribeiro no baixo eléctrico e, ainda, Fabrik Beats com dedo nos arranjos dividem responsabilidade na cama feita ao MC da Margem Sul, que não teve outra alternativa que não a de responder à letra.



[Farrusco] “Desfeito” (Prod. saraiva) (Dir.90sKid)

Seja pelos ideias ou pelos instrumentais, o resultado de “Desfeito” encaixa à risca no seguimento do que se tem vindo a destacar acima. Mérito, em primeiro lugar, para saraiva, que é quem define o tom do que pode vir no seguimento das suas notas. Há beats que são batota, não há outra forma de dizê-lo. Agora, se quem os recebe sabe tirar proveito deles, essa já é outra história… História essa que, no que diz respeito a Farrusco, desvenda um final feliz. Se este single de antecipação do primeiro álbum do rapper representa uma fiel amostra desse trabalho, resta-nos esperar por ele com as expectativas bem altas.



[Phoenix RDC] “New Post”

Apesar da história verídica (com final trágico) que nos é contada, paralelamente, através do vídeo, não é o guião dessa história que serve de contexto ao novo tema de Phoenix RDC que nos convence da relevância de “New Post”. Aliás, nessa matéria, para o bem e para o mal, o rapper da Vialonga bem podia dispensar o complemento visual do seu reportório, que toda a música que fez até agora funcionava de igual forma. É, para todos os efeitos, um rapper de mão cheia, e prova-o sempre que enfrenta o microfone. Mesmo quando, à partida, o resultado não é do melhor que já lhe ouvimos — tem, ainda assim, sempre, uma palavra diferenciadora a dizer e por ouvir.



[HOLYMPO] “SQ”

Para a generalidade dos casos, pouco importa apurar a questão do ovo e da galinha, quando há quem veja atribuída uma patente reconhecida pelos outros. Isso tanto vale para LON3R JOHNY, simultaneamente enquanto trendsetter trendfollower, uma vez que por cá muitos são os que se atravessam na sua linha, sabendo que, por outro lado, essa linha também se fez de outros cruzamentos evidentes.

No caso de Holympo, a parecença estética — tanto visual quanto sonora — com o autor de Vida Rockstar é gritante. Mas é caso para “SQ” não perder, ainda assim, o seu valor. Já se disse por aqui mais do que uma vez, curiosamente (ou não) em casos que dizem respeito à mesma referência, que também há arte em seguir um rasto bem definido. Basta imprimir selo próprio suficientemente visível e autónomo. E essa é uma das grandes mais-valias de Holympo enquanto autor de obra própria.


(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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