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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[ProfJam] “Cabaret”
A verificação da letra de “Saca Lá” à Genius Portugal deu que falar e a Internet não perdoou em referências que já vinham desde “Hoje ‘tou mais perto de ser fritadeira do que frito”. Em resposta, ProfJam garantiu a quem o considerava “queimado” que a sua cabeça estava literalmente em chamas — e isso não era um prenúncio, antes uma réplica. De “Cabeça em chamas, nigga é ghost rider” a “Cabeça em chamas, acho que não a apago nem com a maré” passaram sete anos, mas o ponto de partida foi o mesmo: à boleia de Osémio Boémio, o rapper de Telheiras voltou a Londres e desta vez levou Gonçalo XZ para registar o “Cabaret” em filme. E a película ‘tá quente…
[Jimmy P] “Narrativa”
Graças a Jimmy P, Joel Plácido mudou, “ontem”, de vida e propõe-se, “hoje”, a mudar a de outros. É a partir daí que o rapper oriundo do Barreiro constrói esta “Narrativa” que gira em torno das suas raízes, e que confirma uma tendência entusiasmante: um regresso assumido à sua faceta de MC, agora com outra propriedade, confortável com o peso da sua experiência aos ombros.
[Loreta kba] “Txabeta di mundo” ft Neyna & Princezito (prod By.felino)
É também sobre raízes que Loreta KBA discorre em “Txabeta di mundo”, tema que nos chega como primeiro single de um álbum em desenvolvimento, e que nas palavras do próprio representa “uma fusão entre a música tradicional de Cabo Verde e os ritmos urbanos do rap crioulo, uma música inspirada pelos acordes e melodias da música ‘Tarrafal’ da autoria de Princezito”. É, também, uma ponte entre o que é ser cabo-verdiano dentro e fora de portas, com mais ou menos possibilidades. E é, sobretudo, um hino a essa língua que hoje se fala muito para lá de Cabo Verde: “Quando nascer um menino, ensina-lhe a falar crioulo”, é o mote.
[Guman DS] “Mundo Louco”
Deste lado, Guman DS era até então um nome desconhecido e, pelo que sabemos, também não é nome que, neste âmbito, esteja nas bocas desse “Mundo Louco” há muito tempo. Mas, quando a capacidade é clarividente, basta uma primeira vez para se fixar nome, cara e umas quantas dicas — coisa que, aqui, não falta.
[Isrobro] “N.M.Ease”
Quem por sua vez já havia deixado marca numa primeira impressão foi Isrokid com “No cap”, ao lado de Danz, num tema destacado na 74ª edição desta rubrica. “N.M.Ease” chega-nos agora a par de outros três temas que dão por completo o EP Drunfos não são drogas aberto pela referida faixa. E seja em nome de Isrokid, Isrobro ou IJ Groove.
[Máry M] “Salto”
Máry M já provou, mais do que uma vez, que essa letra bem pode ser atribuída a “magnetismo”. E “Salto” é mais um desses casos — e aqui é flagrante. Há que, porém, não entrar de pé atrás e saltar mesmo de cabeça para este tema: mesmo que a preferência não seja um tipo de composição orelhuda — e que o castelhano não seja propriamente uma língua aprazível à partida —, a rapper tem argumentos suficientes, desde o hip hop ao reggaeton, para converter quem não se deixar ficar pela resistência.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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