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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[MONA LINDA] “algum ritmo”
A “brincar à liberdade”, Edgar Correia encontrou novas formas de pôr em prática velhos hábitos — e fê-lo sob um outro pseudónimo. MONA LINDA é o novo alter-ego do mais conhecido — graças ao projecto Conjunto Corona — Logos, que em leonardo se apresenta a solo com uma estética renovada à sua maneira.
[REAL GUNS] “VIVI MAL (GHOYA SALUTE)”
Porque “parar é morrer” é um lema que tantos usam, mas poucos sentem na pele, “Vivi Mal (Ghoya Salute)” vem pôr os pontos nos seus “Is”. Escrevo Com Sangue foi o testemunho dessa superação saída do pêlo de quem a canta de forma ímpar. E a tradução dessa luta em retratos explicitamente visuais tem prolongado o tempo de antena que este trabalho de Real Guns bem merece.
[E.se] “Estranha Forma de Vida” ft. Silly e Luca Argel
Nesta “Estranha Forma de Vida” encontram-se três corpos artísticos tão diferentes e, ainda assim, feitos da mesma matéria — todos eles em confronto permanente com o âmago de onde os versos de cada um vêm. Mérito para E.se, que desde sempre (que não é assim há tanto tempo) soube construir as pontes certas para solidificar a sua visão. Ter Silly e Luca Argel a trocar ideias a três é motivo bastante para esse encontro não passar em branco. E o resultado só podia corresponder — graças, também, à composição que serviu as linhas destes músicos de corpo e alma cheios.
[MURA] “Westside ArreaGann”
O nome de Westside Gunn salta logo à cabeça como trocadilho presumível no novo single de Mura para o seu terceiro EP, 3.0 — que tem data de estreia precisamente para hoje, 25 de Outubro. Ainda assim, o boom bap do rapper português está longe do registo tão característico do arquitecto da casa Griselda. Longe num bom sentido, bem entendido. Até porque, mesmo não fugindo do seu próprio registo de insurreição, o MC da Margem Sul tem-se mostrado confortável em várias e diferentes camas instrumentais — aqui (des)feita por Cabril.
[Reztrikto] “Perícia”
Se foi no boom bap que a conversa acabou, Reztrikto teve a última palavra a dizer a este respeito. E fê-lo com a “Perícia” que hoje se exige: o instrumental de 90’s KID (metade do duo AVAN GRA) quis-se curto e grosso, despido de ornamentos e focado apenas em definir os tempos, para o rapper algarvio esgrimir o mais puro exercício de rap balizado nestas cadências. Também faz falta olear a máquina de vez em quando.
[Vado Más Ki Ás] “Paname” ft. Pilax
Num campo totalmente oposto, de batidas muito mais expressivas e versos acelerados à boleia da subida dos BPM, Vado Más Ki Ás volta a trazer novidades bem frescas em “Paname”. Entre Lisboa e Paris, o rapper do Bairro 6 de Maio estabelece ligação além-fronteiras com Pilax numa colaboração explosiva — ao estilo único do próprio Vado, portanto.
[Dezinho] “Fala”
Ainda em terreno do drill cantado em crioulo, Dezinho tem provado ser um dos grandes talentos a brotar em Chelas. Mas talvez o diminutivo que caracteriza o seu nome artístico esteja a cair em desuso: a sua voz tem-se feito ouvir e, em “Fala”, apresenta mais presença que nunca.
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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