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Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.
De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora.
[Lil Noon] “passepartout”
Os últimos dias têm sido consideravelmente preenchidos para Lil Noon, entre temas a solo, colaborações com o fiel companheiro de “Tarraxos & Heartbreak” e demais nomes periféricos a estas fusões. E são precisamente essas batidas que marcam a diferença em “passepartout” (com destaque para o uso dos sinos), que de resto são acompanhadas num registo que traz à cabeça Rafaell Dior. O vídeo, apesar de simplificado (até pelo formato quadrado), contribui para a cotação deste tema sem margens com a figura “Miami playboy”, encarnada pelo cantor, enquadrada em Gondomar (?) como pano de fundo. Carismático quanto baste? Até há quem peça, na caixa de comentários, a participação de Lil Noon no Festival Eurovisão da Canção, imagine-se.
[NA Zona] “INEVITÁVEL”
NA Zona tem passado das ameaças às confirmações de que é um caso sério no rap. Os produtores com quem trabalha (de Young Boda a — em “INEVITÁVEL — Dek Rdk) ajudaram-no a vincar, desde logo, uma linha muito própria. Um trap que tanto soa tropical como urbano, descontraído e solene, satírico e documental — características que cabem todas juntas em tiradas como “rap sem apoio social não é fácil” ou “preto rima com premeditado”. Rap, esse, que NA Zona faz parecer fácil e nada premeditado.
[ARAGÃO] “LOUCO”
Sejamos sinceros: cavalgar a onda das batidas invariavelmente caracterizadas por moradianas, e aqui reproduzidas por DJ Arthur, é meio jogo feito. Mas não há-de resultar para sempre — sobretudo nos também já saturados courts de ténis e golf. Ainda assim, Aragão é reconhecido desde “Tranquilo” por uma singular apetência para encaixar em batidas deste calibre, e “LOUCO” parece contrariar todas essas previsões menos risonhas. A verdade é que, aqui, tudo resultou.
[One Krew] “1312”
Há uma nova crew a marcar presença no mapa do rap nacional: é One Crew — “é one three one two, One Crew” — que, entre Ericeira e Mafra, se propõe a espalhar mensagem num EP de estreia, Copo Cheio, assinado por Jejum, Inc, Pedraz e Neto. A escola é, incontornavelmente, Alcool Club, mas a verborreia vem com ideias próprias — mesmo sob um mantra popular, codificado em “1312”.
[Navalha] “Arpão”
O single que juntou Maze a Navalha, destacado na edição passada (mesmo antes da centésima!), foi a última brecha de luz antes da revelação de Vai de Negro. “Arpão” é o primeiro tema a abrir caminho no álbum e serve exactamente esse propósito: a poesia escrita por Navalha e interpretada por João Rafael Ferreira deixa água na boca a quem morde este isco — na boca e nos olhos: “É por ti que choro por isso estas rimas foram lágrimas.”
(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)
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