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Texto: Paulo Pena
Fotografia: billyboy
Publicado a: 22/12/2020

De 14/12/2020 a 20/12/2020.

Rap PT – Dicas da Semana #10

Texto: Paulo Pena
Fotografia: billyboy
Publicado a: 22/12/2020

Se o rap nasceu para resistir e lutar, não há força da natureza que o extinga. Aqui o bicho só se manifesta nas rimas e batidas, e os nossos soldados não baixam canetas nem no pior dos cenários.

De semana em semana, há novas linhas por decifrar, novos sons por escutar, novas dicas (*) para encaixar. Seja em português ou em crioulo, do masculino ao feminino, desde as maiores estrelas nacionais aos mais anónimos rappers de sótão, do trap ao drill, há espaço para tudo o que nos faça abanar a cabeça, por dentro e por fora. 



[JULINHO KSD] “Podi Dan” 

Luzes, câmara, acção. Nova semana, novas canções e, com a chegada do Inverno, Julinho KSD veio aquecer as casas de quem troca lareiras por colunas. Para Júlio Lopes não há estações, e “Podi Dan” bem podia ter sido mais um hit de dias de céu limpo e noites de temperatura elevada.  

Nas batidas veranis destaca-se um quarteto já conhecido, composto por Fumaxa, Migz, Rubik e Ariel, que serviu os versos de Julinho numa linha cada vez mais sua, e cujo rasto já é bem visível. Nesse caminho, não tem como não dar: quem pode, podi



[Vlad] “0-0-11” (feat. Nameless) 

Se vêm na sequência lógica desta rubrica, preparem-se agora: a ligeireza das batidas anteriores já se foi, e os graves marcados pelos kicks e snares pontapeados por NetuH alertam os sentidos para uma potencial ameaça sonora. A previsão confirma-se assim que Nameless entra à carga, barra a barra, sem comer sílabas ou saltar palavras.  

O rapper “com rap das Índias” está cada vez mais confortável no seu registo tão característico, dominando a sua cadência regrada e, aqui, desacelerada. Vlad entra em campo na segunda parte para imprimir ritmo e circular jogo, depois das investidas directas de Nameless. Ainda assim, a táctica não se altera: “0-0-11” – tudo ao ataque. 


https://www.youtube.com/watch?v=W_jGV3dNN2k

[Youngstud] “Bora” 

Outra vez por aqui? Parece que sim. Youngstud tem cumprido o advento natalício ao oferecer, de mãos largas (a semana passada foram quatro), temas para todos os gostos e feitios. Depois de “Nerd Flavour”, com produção de Geta, para os crominhos do rap que arregalam as íris (e os tímpanos) com ScHoolboy Q, Mac Miller e A$AP Rocky, o rapper e produtor deu-nos boleia há uns dias com “Bora” para uma viagem sem precedente. Quem se junta? Vou lá voltar agora. Bora? 


https://www.youtube.com/watch?v=rMowpfhTDpE

[SUBTIL] “PASSATEMPO” 

Subtil despede-se de 2020 com “Passatempo” numa faixa solta com beat de Beatowski. O rapper do Algarve rimou para os seus botões; e se mais vale sozinho do que mal acompanhado, Subtil levou à letra essa companhia solitária nos dois sentidos da expressão. 



[Regula] “Futre” 

O rap tuga anseia pelo sangue novo do brasão Lopes, de pai para filho – “yo, pai, dá-lhe bem, pai” –, como Cristiano Ronaldo e Cristianinho Jr., e faz figas para que a genética acerte em cheio e a dinastia do Catujal continue a reinar no hip hop nacional. Assim, a fazer lembrar a “Westside Pootie” de Westside Gunn no outro de “Raw Is Flygod Part One” (que não é caso único em aparições da filha do rapper de Buffalo), progenitor e primogénito sentam-se à mesa para juntos comerem bitoques – o Bellini tem agora um parceiro de refeições. 

Regula começa por dizer que é “dono do Freeport”. Madkutz acena a confirmar esse estatuto, mantendo as costas do rapper quentes com um instrumental abrasador. “Futre” é, então, mais um pequeno grande avanço em direcção ao pote de Ouro Sobre Azul, que vai sendo desvendado aos poucos. Conta ainda com a visão apurada de Midnight Madness Crew, fotografia de Noshwork, e a participação especial de um Porsche amarelo a la Paulo Futre.  

Regula, o Pai Natal do rap tuga: “onze meses de férias e um a trabalhar”.  



[xtinto, benji price] “Éden” 

Para os acérrimos (que são todos, na verdade) fãs de xtinto, o Natal chegou mais cedo com um novo tema do rapper de Ourém, que se juntou ao seu patrono da agora extinta Think Music para colher frutos no “Éden”. 

benji price tem vindo a ser uma constante nos trabalhos de xtinto, e depois de deixar uma marca irreversível no SYSTEM (álbum dividido com ProfJam, numa estreia em longa-duração do produtor enquanto rapper), tem-se distinguido como uma voz diferenciadora num jardim onde muitos procuram o seu espaço, mas poucos o encontram. Neste, o multifacetado artista abre os portões com essa voz que se vem a tornar inconfundível (quase como um Frank Ocean à nossa escala, e com as devidas aspas na comparação) e une-se com a voz de xtinto, numa agradável (mas não chocante) surpresa; nem só (como se fosse coisa pouca…) de escrita complexa se faz o rap de xtinto. E o fim da Think Music está a revelar inícios ainda mais promissores. Fiquem por aí que ainda há mais novidades… 



[Sippinpurpp] “1000 Jogos” 

A Think Music foi árvore que deu frutos ao longo dos anos e das estações. A árvore já não cresce mais, mas esses frutos não caíram muito longe uns dos outros; alguns continuam unidos por ramos inquebráveis. “Das money trees o papel tá caindo” no “Éden” de benji price e xtinto, e Sippinpurpp hoje está “debaixo dessas trees onde o Kendrick dorme”.  

“1000 Jogos” marcou a semana no rap tuga por todas as razões possíveis. Os fãs de Sippinpurpp ficaram ainda mais fãs do artista de Ovar; muitos daqueles que não iam à bola com este jogador viram os seus queixos cair (com conversão assumida por estes lados) depois deste pontapé do meio da rua, como um Éder do hip hop tuga – “’tão o que é hip hop tuga, mesmo?” – a marcar o golo menos esperado; e os vulgarmente conhecidos por haters (dentro e fora de campo) deram ainda mais hate às novas tonalidades da tinta roxa. 

O que é facto é que se já nada esperávamos deste inimaginável ano de 2020, Sippinpurpp guardou o prestige deste truque para o grande final, com um trunfo na manga puxado por benji a abrir as cortinas a Purpp ao som de um boom bap jazzy, para espanto (a bem ou a mal) de toda a plateia. O saldo parece-nos francamente positivo, e os aplausos abafam certamente os apupos inconformados. Afinal, o que é que interessa saber se Sippinpurpp pertence a Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw ou Hufflepuff? Ou se pertence sequer a Hogwarts? Não chega mostrar que sabe usar a varinha?  

“1000 Jogos” trouxe dicas da semana que nos fizeram abanar a cabeça, por dentro e por fora. É só isso que interessa. É essa a magia da música. 

(*O título da nossa coluna, Dicas da Semana, inspira-se num clássico de Biru)

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