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Fotografia: MikeAK
Publicado a: 01/03/2024

Modo Superstar é o novo disco do produtor, em parceria com Zara G.

Progvid: “Gosto de potenciar os artistas e fazê-los chegar a sítios diferentes”

Fotografia: MikeAK
Publicado a: 01/03/2024

É um dos novos produtores que mais destaque tem tido nos últimos anos. Em pouco tempo, Progvid tornou-se uma referência no hip hop nacional, colaborando com inúmeros artistas, muitos dos quais rappers populares e consagrados, mostrando trabalho e afirmando-se como um dos principais escultores de batidas do circuito trap e do rap crioulo, mas de horizontes mais alargados.

Destacou-se também pelos discos feitos a meias com rappers, tendo já assinado trabalhos com Landim, Rafa G, Mad 283 e Nicholas. Esta sexta-feira, 1 de Março, junta ao seu currículo Modo Superstar, um álbum construído com Zara G, rapper dos Wet Bed Gang que nunca tinha tido um protagonismo a solo como aqui.

“Eu já sigo o Zara há bué e sempre quis trabalhar com ele”, explica Progvid em entrevista ao Rimas e Batidas. “Dentro daquilo que eu faço, é um dos artistas que sempre senti que poderia fazer cenas fixes. E, basicamente, em Março ou Abril do ano passado, falei com ele para a gente se ligar e começarmos a criar. Ele disse que sim, combinámos logo uma sessão. Na altura nem estávamos a pensar em projecto nenhum, estávamos só a ir ao estúdio criar. Só que começou a correr bem, começámos a fazer sons e pensámos que faria sentido fazer um projecto.”



Alguns dos instrumentais que estão em Modo Superstar até já se encontravam nas muitas pastas de Progvid, outros foram feitos a pensar especificamente neste disco com Zara G. Por um lado, o produtor sabia que tipo de beat iria agradar ao MC de Vialonga; por outro, queria equilibrar o álbum com temas diferentes, levando Zara G a explorar registos distintos.

“O Zara é bué fã daquele tipo de banger, mas num projecto completo não poderíamos só ter esses. Tínhamos que trazer outros flavours. Essa também foi a minha missão, direccionar em termos de som.” Felizmente, Zara G foi sempre “receptivo e aberto” durante o processo criativo. 

“Gosto de perceber onde é que o artista quer ir, e onde é que ele ainda não sabe que podia ir. Gosto muito de poder fazer esse trabalho. Neste projecto tenho dois bons exemplos disso, o ‘À Vontade’ e o ‘Sim ou Não’, porque sinto que são duas facetas do Zara que ele nunca tinha mostrado. E acho que isso também tem um pouco a ver com esse trabalho de direcção, do ‘bora experimentar’.”

Definindo a sua sonoridade como “espacial”, Progvid procurou construir uma estética específica. Para si, era fulcral criar um fio condutor sonoro. “Porque, se não, acaba por não ser bem um álbum. É um conjunto de sons soltos. Para que faça sentido, tem que haver um ambiente em que os pontos se liguem.”

O facto de criar os instrumentais sem recurso a samples tem-no ajudado neste processo, uma vez que não precisa de se basear nessas melodias pré-existentes para construir as suas canções.

Contas feitas, muitas faixas acabaram por ficar de fora. Daí que Progvid adiante que este será, certamente, o primeiro de muitos encontros entre as rimas de Zara G e os seus instrumentais.



Das aulas de piano ao trap, das colaborações locais às internacionais

Nascido em 1997 e criado em Benfica, Progvid começou, como tantos outros, a explorar o hip hop durante a adolescência. Mas um factor fundamental no seu trajecto, que não é tão habitual neste meio, é que teve aulas de piano a partir dos sete anos.

“Isso foi mesmo aquilo que me deu o que eu consigo fazer hoje em dia, sem dúvida”, exclama. “O que eu sabia era criar melodias e tocar teclas, então foi por aí que comecei. Lembro-me de, nos meus primeiros beats, os drums serem horríveis. Mas as melodias já lá estavam. Então nunca explorei muito os samples, nunca fiz esse caminho normal de producer.”

Começou, aos 16 anos, a gravar faixas de um amigo que tinha o desejo de ser rapper. Uma coisa levou à outra e rapidamente começou a explorar o universo dos beats, de forma autodidata, sempre muito ligado às correntes norte-americanas do trap. “Sempre fui o boy do trap. Porque eu não sou assim tanto do hip hop, consigo perceber as estéticas antigas, lá fora curto de algumas cenas, mas gosto mais é das novas estéticas.” Aponta T.I., a “cena de Atlanta” e os 808 Mafia como referências:

“Sempre foi esse mundo que me fascinou. Foram os que me fizeram querer fazer beats. Eu ficava maluco com aquelas sonoridades. E comecei a sentir que procurava as músicas pelos beats e não pelos artistas, e foi aí que senti que me estava mesmo a interessar por aquilo e que devia explorá-lo. Na altura também já gravava os amigos, então juntei o útil ao agradável.”



Os primeiros artistas com quem começou a colaborar e que tiveram alguma relevância foi a dupla de Hevvy x Fukk. Depois, o primeiro contacto que teve com alguém já estabelecido foi mesmo com Landim, com quem faria o álbum Programa (2022), juntando o início do nome de Progvid com o “drama” do KS.

“Sempre andei aí, a mandar mensagens a toda a gente, a tentar trabalhar. E o primeiro grande com quem trabalhei foi o Landim. Já lhe mandava mensagens para aí há um ou dois anos, até que um dia ele respondeu e veio, começámos a trabalhar, tivemos logo um workflow maluco. Ele depois até me disse: ‘Mano, devia ter visto a tua mensagem mais cedo’. Lembro-me perfeitamente disso e, até hoje, estamos a bulir non stop. Eu e o Landim temos essa relação, tal como tenho hoje com o Zara.”

Tanto que se tornou mesmo DJ de Landim, acompanhando-o nos concertos, como chegou a fazer com Rafa G e Nicholas para apresentar os respectivos discos. “Curto mesmo porque é o culminar de tudo, é ali que vemos o resultado do que fizemos no estúdio. É uma euforia e uma sensação incrível.”

Outra ligação importante que construiu nos últimos anos foi com LON3R JOHNY, tendo inclusive produzido diversos temas no EP ANTI$$OCIAL, que partilhou com Plutonio. Embora Progvid privilegie sempre o contacto pessoal e as sessões de estúdio, LON3R JOHNY revelou-se uma excepção:

“Gosto de estar com o artista no estúdio, é muito raro eu enviar beats. Faço isso com o LON3R porque já temos uma ligação, eu estou em casa e ele no estúdio. Mando-lhe as cenas, ele está a trabalhar, a mandar-me, é como se estivéssemos no estúdio. Mas, sem ser isso, não mando assim beats para ninguém. Porque gosto mesmo do processo de guiar o som até ao fim, que é isso que é produzir a música, na verdade. E sinto que posso ser uma mais-valia se fizer parte. Além disso, é assim que conheces o artista, porque tu nunca o conheces por um trabalho que ele já fez consegues conhecer uma parte, sim, mas para trabalhares com ele tens de conhecer o que é a actualidade da cabeça dele, porque o que ele fez há um ano… Ele pode já nem estar virado para cenas parecidas. Só estando com ele é que consegues perceber por onde é que ele quer ir verdadeiramente.”



Progvid também já produziu para o brasileiro Greg Ferreira, que resultou no single “Predestinado a Vencer”, mas diz que por enquanto está mais focado em Portugal e a querer construir o seu legado aqui. “Mas vou querer partir para isso no futuro, obviamente. Quero trabalhar com o Future, com artistas que me fizeram querer fazer música. Esse é o sonho. O sonho antes era estar onde estou agora, mas agora já estou a sonhar com outras coisas. O que eu curtia era partir lá para fora e criar um legado fixe enquanto produtor, é o que quero deixar para o futuro.”

Além de ter na calha diversos projectos em andamento, com rappers mas também em nome próprio tal como quando lançou em 2022 o álbum Hoodstarz, reunindo uma série de convidados , Progvid também tem produzido para artistas da música urbana que não fazem necessariamente rap.

“Para mim é refrescante como produtor não estar sempre… É isso que me faz evoluir também, para um produtor não é bom estar sempre a fazer a mesma coisa, porque depois não… E até podes ir buscar coisas a outros estilos e géneros, cenas que te vão dar bons inputs naquilo de que gostas mais e no que queres deixar como a tua marca. Por isso, também gosto de ir a outros sítios para provar que consigo e que não é só trap. Sou um produtor de música. Tudo aquilo de que gostar e que sentir que consigo fazer, quero fazer. Para onde quero chegar, obviamente tenho de trabalhar com vários artistas e ir por caminhos diferentes, não me focar só numa cena.”

Certo é que parar é morrer e Progvid ainda tem uma longa vida pela frente. “Nunca paro, tenho sempre aquele bichinho. Mesmo quando lanço, estou sempre a pensar na cena a seguir. Para o futuro, gostava de fazer uma label de producers e também de artistas, mas começar a focar-me nos producers porque é algo que existe muito lá fora e que aqui ainda não está bem explorado. Quero continuar a potenciar os artistas e a fazê-los chegar a sítios a que ainda nem sabem que podem chegar.”


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