Nos primeiros dois fins-de-semana de Julho, mais precisamente os dias 5, 6, 12 e 13, Serralves voltar a ter um palco no campo de pó de tijolo — onde outrora se jogava ténis — para abrigar mais uma edição do Jazz no Parque, que contará com a curadoria do músico Rodrigo Amado.
Caberá a Gonçalo Almeida, Susana Santos Silva e Gustavo Costa inaugurar os sons do programa deste ano, dia 5 às 17h. States of Restraint inscreve-os em processos de construção livre e libertadora, partindo desse motivo concreto de constrição contido como propósito estimulante a ser revelado. Sem sair dos campos criativos do jazz português sucedem, às 18h30, Old Mountain. Uma ideia concreta de sabedoria musical em mecanismo de viagem de sabor melancólico. Um idealismo gizado a dois, entre o habitualmente guitarrista Pedro Branco, assumindo-se ao piano neste projecto de cumplicidade autoral, e o baterista João Sousa. Another State of Rhythm contará em palco com o saxofone de José Soares e uma dupla linha de tempo, vincada por João Hasselberg e Hernâni Faustino nos contrabaixos, como o registo discográfico testemunha. O domingo terá no piano um fundamento maior. Às 17h do dia 6, Alexander Hawkins apresenta-se a solo com um programa em torno de Song Unconditional, edição bem recente pela helvética Intakt. Hawkins é história, cátedra e símbolo de inovação na improvisação ao piano. Depois, às 18h30, abrir-se-á espaço a Eve Risser e ao seu poder, irreverência e ritmo empolgante. Virá acompanhada com Nainy Diabaté, voz da formação alargada Red Desert Orchestra, que um dia Risser conjurou para a eternidade. Diabaté transporta essa ancestralidade griot mandinga e juntas devolvem um poder feminino e demonstrativo do lugar da música.
O arranque do segundo bloco, dia 12 às 17h, ficará marcado pela presença de uma incontornável referência na música de improvisação e do contrabaixo. Joëlle Léandre tem uma longa e destemida trajectória, e inscreveu o seu nome para sempre nos domínios de solos absolutos, capazes de estender o instrumento a campos inesperados. Ainda nesse dia, às 18h30, apresenta-se aquele que foi considerado o Grupo do Ano de 2024 para a Festa do Jazz. MOVE é o mesmo que dizer Yedo Gibson nos saxofones, Felipe Zenícola em baixo eléctrico e João Valinho na bateria, e deles se pode esperar sentir energia em cascatas, em ondas de vibração festiva a transbordar do palco. O desfecho justifica o concerto único de domingo, dia 13 às 18h30, com três nomes que valem cada um por si. Peter Evans em trompete, Petter Eldh no contrabaixo e Jim Black na bateria, num muito aguardado concerto que tem um capítulo extraordinário em Extra, gravado em Lisboa para a finlandesa We Jazz Records. Uma ideia superlativa no campo musical, na qual cada músico, no seu domínio, traz a ousadia inovadora bem demonstrada noutros contextos e formações. Três vectores do jazz contemporâneo, dispostos numa frente activa fora de controlo. Antevê-se como um marco desta edição e das que nem se suspeita ainda como serão.