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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/11/2019

”O Ano da Morte de Amaru Shakur” e “Bênção” antecipam Porcelana, o próximo álbum da dupla.

Perigo Público e Sickonce voltam à carga com dois singles

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 15/11/2019
As rimas de Perigo Público e as batidas de Sickonce entrelaçam-se de novo em “O Ano da Morte de Amaru Shakur” e “Bênção”. As duas músicas antecipam Porcelana, o próximo LP da dupla algarvia, que será apresentado ao vivo na edição deste ano do Super Bock Em Stock. Esta será a segunda vez que rapper e produtor aliam as competências musicais num disco. No dia 22 de Novembro, Porcelana irá suceder a 1991, o trabalho que oficializou a parceria, editado há dois anos, e que se coloca entre uma das principais obras da Kimahera numa era pós-Tribruto. Apresentado à imprensa como um projecto que se afasta dos moldes convencionais, Porcelana irá ainda merecer uma edição física, numa data a ser revelada mais tarde, e cada cópia será peça única, parte de um grande mural ao estilo do azulejo, concebido pela artista plástica Inês Barracha. O longa-duração foi gravado nos estúdios da Kimahera e conta com Afonso Serro, Elísio Pereira, Edna Oliveira, Sara Espírito Santo, Filipe Valentim e Vasco Moura na lista de convidados. O Rimas e Batidas falou com a dupla sobre os novos dois singles, mas também sobre a abordagem conceptual utilizada em Porcelana.

Que conceito é este em torno d’”O Ano da Morte de Amaru Shakur”?

[Perigo Público] É preciso desmistificar, a comunidade idolatra o 2 Pac, mas não percebeu a ideia. Eu acho que, aquando da sua morte, o conceito de “thug life” ficou deturpado, o rap continua a vangloriar-se enquanto as comunidades continuam a ser estranguladas. Hoje, facilmente vemos super produções de vídeo com tipos que a seguir têm de voltar de autocarro para as periferias, é estranho para mim perceber que ninguém se incomoda com a perpetuação de um estado em que todos são pobres, e vivem e morrem em sítios que deveriam apenas ser pontes para uma vida melhor. Mas o importante continua a ser: ser o mais fluorescente da discoteca. [Sickonce] Eu entendo este tema como uma chamada à terra. É importante sonhar, ser positivo, é importante lutar pelo objectivo singular e comum, mas com noção da realidade. As conquistas devem reflectir isso mesmo, não tapar o dia anterior com um pano como se nunca tivesse existido ou como se estivesse toda a gente bem.

Exploram bastante as fragilidades da nossa sociedade neste single. O que vos levou a abordar esta temática numa das faixas que dá o pontapé de saída para a apresentação do vosso próximo disco?

[Perigo Público] Começar com este tema é dizer: como é possível vermos a extrema direita ganhar terreno? Cada vez há mais casos de racismo e xenofobia e 90% do rap só fala de futilidades, onde são todos muito maus, super rappers, super bandidos, super players. Eu acho que deve existir todo o tipo de música, mas não nos podemos alhear do que esta acontecer e não tem a ver com sonoridades mas com a mensagem que estamos a passar. [Sickonce] A ideia de ter dois singles de arranque é mesmo essa, mostrar duas abordagens, que podem parecer de dois assuntos diferentes mas que no fundo são exactamente o mesmo, duas formas de detectar onde e como podemos crescer utilizando o valor que cada um de nós tem.

Na “Bênção” o clima é bastante diferente. As palavras são de elevação em cima de um beat selvático, que incorpora algumas sonoridades e ritmos vindos de África. De que forma foi delineado este tema, desde a sua ideia original até ao produto final que apresentam no videoclipe?

[Perigo Público] Na “Bênção” a ideia é mesmo essa, celebrar mas sem quebrar a mensagem, é dizer que podemos pensar e dançar ao mesmo tempo. Voltar à génese rítmica sem perder a mensagem. [Sickonce] As sonoridades neste álbum são a demonstração da liberdade com que o fizemos. Cada sonoridade vem de uma vontade que os dois tivemos em experimentar o que nos fazia sentido para passar a mensagem que pretendíamos.

Daqui a uma semana lançam Porcelana, o vosso segundo álbum enquanto dupla. O que vos levou até a este título?

[Perigo Público] A ideia é olharmos para cada ser humano como uma delicada peça de porcelana, sendo que nunca deixa de ser forte e resistente. Fomos percebendo ao longo do processo que a nossa música é sobre pessoas reais, sobre essa luta que transforma pó em porcelana.

O disco é apresentado como uma obra “não convencional — nem do ponto de vista musical, nem do ponto de vista físico”. O que há de vanguardista nas 16 canções que compõem Porcelana?

[Perigo Público] Em primeiro lugar, nós trouxemos todas as sonoridades que nos influenciam para o nosso mundo, ou seja, toda a música está ao serviço de uma mensagem e não ao contrário, vimos falar de coisas que já ou ainda ninguém quer falar. [Sickonce] Na mensagem acho que está tudo explicado, na produção acho que sou eu, é o Perigo, sem filtros, sem preconceitos a ir por todos os lados que nos fazem sentido. Experimentar técnicas, sons, desafiar-nos um ao outro, evoluir e se isso servir de ponte para nos ligar a quem nos vai ouvir, perfeito.

No formato físico do álbum, as capas de cada CD, juntas, formam um grande mural. De onde vem esta ideia?

[Perigo Público] Chegámos a essa ideia quando nos apercebemos que é dessa forma que queremos que as pessoas vejam a nossa música, ela serve um propósito de elevar, de tornar as pessoas maiores, e essa celebração tinha de ser feita de forma especial. [Sickonce] Posso adiantar duas coisas, que não será um CD e será uma edição limitada em colaboração com uma artista plástica, mas em altura própria vamos avançar com a explicação de como será e como poderão encomendar esta edição.

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