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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/02/2021

Da modernidade jazzística nacional.

PEDRA: “O que mais me fascina no jazz é o ritmo”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/02/2021

Há um novo talento portuense a despontar nos quadros da Jazzego. Pedro Castro é o seu nome e a estreia pelo selo de Hugo Oliveira (aka Minus & MRDolly) e André Carvalho acontece com “Karimeen”, avanço que partilha o título com o curta-duração em que se inclui.

O músico encontra na bateria e na produção as ferramentas para se expressar e encontrar um lugar no cada vez mais populado universo JazzNãoJazz português, recorrendo a um actual interesse por nomes como Yussef Dayes, Robert Glasper ou Alfa Mist para a procura de inspiração.

O seu primeiro EP, Karimeen, sai no dia 5 de Março e, para além dos três originais, existem ainda duas remisturas da autoria de Il-Brutto e SaiR. Uma semana antes de se estrear, fomos saber um pouco mais sobre PEDRA.



Caro Pedro: podes começar por te apresentar? Quem és, de onde vens, o que fizeste até chegar aqui (não há uma canção assim?…)?

Sou o Pedro Castro, mais conhecido como PEDRA, e sou da Maia. A música já me acompanha desde pequeno… muito resumidamente, influenciado pelo meu pai, comecei por ser guitarrista auto-didacta durante cinco anos, até aos meus 17 anos. Sempre com influencias de rock, nu-metal, prog… bandas como Muse, Rage Against The Machine, Limp Bizkit, Rammstein, Dream Theater, etc.

Entretanto, decidi comprar uma bateria pelo OLX e comecei a desenvolver um gosto enorme pelo mundo do ritmo. Na mesma com influências do metal, progressivo, jazz, djent e bandas como Deftones, Animals as Leaders, Meshuggah, etc. Nessa altura criei e inseri-me em vários projectos. Pouco tempo depois decidi aprofundar mais o meu instrumento e fui estudar jazz para a escola de jazz do Porto durante três anos, enquanto fazia o secundário, com o objetivo de entrar na ESMAE.

Não consegui entrar, mas criei bases suficientes para desenvolver musicalmente o que pretendia. Por isso tirei o curso de Design de Multimédia. E foi nesta altura que comecei a produzir! Com a minha “menina” Maschine Mk2. Trap, hip hop… com influências de prog e jazz. Muito importante: foi também nesta altura que descobri o mundo da música eletrónica, desde house ao techno minimal e trance.

Este teu EP de estreia, como foi gravado? És apenas tu o responsável pelos instrumentos? E, já agora, que ferramentas usaste para o construir?

Neste meu EP, eu sou responsável por toda a instrumentação e composição. A arte do sampling é uma ferramenta que uso bastante para desenvolver ideias, melodias. Foi através desta técnica que criei a maior parte das bases para estas faixas e depois aprontei estas bases com arranjos de piano, guitarra. E a partir daí segue o que eu chamo de “trabalho de rato”, que honestamente é uma das minhas partes preferidas no meu processo musical. É quando eu posso experimentar e modificar radicalmente a sonoridade de qualquer instrumento e também criar a estrutura/história que quero contar! Quem trabalha em Ableton Live sabe exactamente o poder desta DAW para este propósito.

Como é que chegaste até à Jazzego?

Eu conheci a Jazzego através de um grande amigo meu, também músico e rapper: Diogo Tavares, mais conhecido como Ser. Depois, em conversa com o Minus e o André Carvalho, desenvolvemos este trabalho com o intuito de ser editado pela Jazzego.

O press-release refere a influência que recolheste na corrente cena jazz britânica: podes especificar e dizer-nos nomes de que te sintas mais próximo?

Eu desenvolvi este projeto numa altura que andava viciado em artistas como Yussef Dayes, Alfa Mist, Yussef Kamaal, Christian Scott, Robert Glasper, Tom Misch…

O que é que identificas como interessante, fresco, na proposta dos jovens músicos que agitam a cena jazz londrina: exactamente o que é que na sua música te inspira?

Em primeiro lugar, a bateria. É, sem duvida, o que mais me fascina no jazz, o ritmo. Mas toda a envolvência experimental, feeling e vibe que é gerada através destes músicos inspira-me. Desde melodias arrepiantes com Alfa Mist a ritmos e padrões alucinantes com Yussef Dayes.

Acho que é mesmo o facto de nunca saber o que esperar destes artistas, que me deixa com mais vontade explorar o que eles têm para contar. É sempre novo e surpreendente, para mim.

O teu som navega águas tranquilas, entre o hip hop e o jazz: dirias que é nesse limbo que te sentes bem ou sentes que és mais de um género do que do outro?

O hip hop sempre me influenciou muito, mas sinto que não sou de um só género. Eu considero que este EP é uma boa mistura de influências. Desde hip hop à cena techno, que, por exemplo, me leva a criar texturas mais espaciais e estruturas menos formais.

Começa a desenhar-se uma cena muito interessante no nosso país que, e à falta de melhor termo, temos por aqui identificado como JazzNãoJazzPT. Sentes-te parte dessa cena? Conheces outros protagonistas?

Talvez me possa inserir nessa cena — como disse, a minha música acaba por ser uma grande mistura de influências em que o jazz é uma delas, e muito importante. [Mas] não conheço outros protagonistas.

Há dois “agitadores” convocados para te remexerem no material, salvo seja: o Il-Brutto e o SaiR. Pode-se dizer que estão em extremos muito diferentes. São habitantes de duas galáxias muito distintas. Como é que se envolveram nisto?

Achei super interessante, da parte da Jazzego, esta ideia de convocar dois artistas para remexerem uma das faixas do EP cada um. Honestamente, à conversa com o Minus, chegámos em conjunto a estes dois nomes. E, por exemplo, até foi através deste remix que comecei a conhecer o trabalho do SaiR, que fez um remix muito bom da faixa “Bangus”. O Il-Brutto, também grande produtor e grande baterista, adequou-se perfeitamente a este desafio e criou também um remix muito groovie da faixa “Karimeen”.

O que apresentas neste EP tem forma de ser traduzido ao vivo? Já pensaste nisso?

Confesso que criei este projeto sem pensar muito como se adequaria ao vivo, mas tem todo o potencial para ser feito. Pode ser que futuramente, em conjunto com mais uns parceiros, seja criada uma versão live de um ou dois temas do EP.

Quais os planos daqui para a frente? Que outras cartas tens na manga?

Continuar a criar — expressar-me musicalmente — que é o que eu me sinto melhor a fazer. Trabalhar com mais malta, seja produtores, rappers, cantores. Lançar todo o meu projecto eletrónico que já venho a desenvolver há uns anos.


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