pub

Publicado a: 03/01/2018

Os 5 melhores vídeos nacionais de 2017

Publicado a: 03/01/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro, Luis Almeida e Sebastião Santana [ILUSTRAÇÃO] Abel Justo

Nos últimos anos, o crescimento exponencial do número de criadores/autores no rap português levou a um aumento de videoclipes em circulação — afinal de contas, grande parte dos MCs gostam de “cuspir” para o microfone e, se possível, para uma câmara.

As escolhas ReB são, de certa forma, uma viagem pelos vídeos que tentaram fugir dos lugares-comuns. Dentro dessa lógica, a veemência de Valete, o humor subtil de PZ e Conjunto Corona, a emoção desbragada dos Wet Bed Gang e a execução de altíssima qualidade dos Orelha Negra mereceram peças audiovisuais que, sem sombra de dúvida, marcaram a agenda de 2017.

 


[ORELHA NEGRA] “Ready” (Realização de Richard F. Coelho)

Se os Orelha Negra representam a mais fina execução musical do universo português, os seus vídeos não podiam ficar atrás. E habituaram-nos mal — impossível esquecer “M.I.R.I.A.M”, realizado por Vhils. Para não quebrar o hábito, o grupo entregou mais um vídeo em que eleva a fasquia do que se faz em Portugal. Com uma execução técnica exímia, o realizador Richard F. Coelho afirma, na descrição do vídeo na sua conta Vimeo, que nos quer levar numa viagem à mente de vários bailarinos que lutam ou lutaram com vários traumas e problemas e como isso os fez superar as suas dificuldades, tornando-os melhores executantes da sua arte. E é isso: este vídeo casa de forma harmoniosa com o estilo dos Orelha Negra porque nunca nega as origens eclécticas do grupo, misturando vários tipos de dança, pessoas e personalidades. Com o ritmo certo, os planos de tirar o fôlego e passos de dança impressionantes, “Ready” tem tudo para, com o passar do tempo, passar ao estatuto de “icónico”.

 


[WET BED GANG] “Já Passa” (Realização de André C. Santos)

Depois de um excelente documentário, André C. Santos voltou a juntar-se ao grupo de Vialonga para nos trazer mais cinema. Sim, porque esta obra é mais do que um mero “videoclipe”. É uma curta-metragem que nos transporta para as realidades do bairro e a vida de muitas pessoas que vivem e sobrevivem nas periferias e que muitas vezes são esquecidas. Com um visual impressionante que relembra-nos La Haine — filme francês realizado por Mathieu Kassovitz –, o uso do preto e branco não é apenas uma questão estética, mas parte da criação do ambiente certo para esta faixa dos Wet Bed Gang, que é pesada e esperançosa ao mesmo tempo. A ausência de cor cria a neutralidade necessária para passar a mensagem — esqueçam a raça ou etnia… Um vídeo poderoso que deixará qualquer um de lágrimas nos olhos. Passem os lenços, se faz favor…

 


[CONJUNTO CORONA] “Mafiando Bairro Adentro” (Realização de 2H)

Vivendo uma era de throwbacks, a verdade é que perdemos a conta a todos os videoclipes de 2017 que recorreram ao filtro VHS da moda, muitos deles com uma utilização descontextualizada. Não foi o caso dos Corona, praticantes do rap conceptual em Portugal, que desenvolvem um universo ficcional desde o seu primeiro trabalho e finalmente fizeram um videoclipe à medida.

Nesta peça visual, o bairro do Lagarteiro é retratado como se fosse as torres de Queensbridge, recorrendo a filmagens de drone perfeitamente enquadradas com o resto do material (a ligação que falta em muitos videoclipes que recorrem a planos de drones). Da hilariante cena de monopólio até à clássica cena da crew a andar na rua máfia-style, a realização não poderia estar mais certeira em todos os momentos. No entanto, a produção é quem leva a taça: as localizações, as roupas, o tabuleiro do monopólio personalizado e o fundo de tijolo… Tudo bate certo. Concluindo, o Conjunto Corona conseguiu apresentar um universo fictício em que conseguimos acreditar.

 


[PZ] “Zona Zombie” (Realização de Check It Out Studios)

Quando falámos com PZ no ano passado, o artista revelou que era fã de programas de humor, e falou da presença de um humor nonsense na sua música, que desde o início se transportou para os vídeos. Sabendo de antemão que o argumento de “Zona Zombie” foi escrito por PZ, é impossível dissociar a criação da música e do vídeo. Porquê? O visual encaixa bem demais com a sonoridade, tanto as drums como os synths. Parece que tudo aqui tem um cheirinho 8bit. A utilização de sprites e do universo arcade já foi utilizada por outros artistas anteriormente — Snoop & Dam-Funk fizeram-no em “High Wit Me” –, mas, nas mãos de PZ, ganhou outra força. Existira melhor maneira de para ilustrar versos como “eu dou-te com um tazer no blazer”? Duvidamos seriamente.

 


[VALETE] “Rap Consciente” (Realização de Afro Digital)

Se queremos falar de impacto no movimento hip hop português em 2017, é preciso falar deste vídeo. Estreou com estrondo em Junho e não deixou ninguém indiferente, não fosse este o regresso de umas das figuras mais importantes do rap nacional. Inflamou as redes sociais, deu origem a inúmeros artigos e pôs a comunidade atenta aos problemas que o autor aponta ao movimento. Repleto de caras conhecidas do mundo hip hop, e não só, é um vídeo com um objectivo simples: recordar o passado e relembrar que existe uma história. Sem utilização de grandes efeitos, a dupla Johel Almeida e Silvio Moreira utiliza a luz de forma brilhante, criam momentos de contraste e planos poderosos com pormenores deliciosos que merecem toda a atenção. A mensagem não está apenas nas palavras do rapper, mas também nas imagens. Em “Rap Consciente”, os espectadores caminham nos escombros de um movimento destruído ao lado de Valete e do seu “exército”. Preparados para a guerra?

pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos