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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/12/2019

O DJ e produtor britânico actua na próxima semana no Pérola Negra, no Porto.

O “caos analógico” de Ceephax Acid Crew

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/12/2019
Com mais de vinte anos de carreira a elevar o acid house, o acid techno e o drum n’ bass, Ceephax Acid Crew, ou Ceephax para os amigos, é uma referência no cimentar destes géneros. Leva duas décadas a lançar música – muita dela na sua própria editora, a Waltzer – e a manter-se também uma figura incontornável na produção analógica de música electrónica. Nascido Andy Jenkinson, o produtor não tinha particular interesse em tornar-se músico, mas o destino colocou-o nesse caminho: cresceu ao lado dos sintetizadores e das drum machines do irmão Squarepusher. Tornou-se uma figura muito associada a uma sonoridade nostálgica, remanescente dos jogos com música em 8-bit e synth-based, principalmente pela sua relação com as máquinas que acompanham a sua produção e as actuações ao vivo. Ao lado de monstros clássicos como as drum machines TR-909, TR-606 da Roland e o TB-303 da mesma marca, ou o também icónico Korg MS-20, Ceephax diferencia-se claramente pela sua falta de ligação ao mundo digital. Em conversa com o ReB, o músico admite não ser uma pessoa atenta ao que se passa à sua volta, pelo menos quando se fala sobre música electrónica, mas com a boa desculpa de que se mantém constantemente ocupado na sua própria criação e performance, confessando ter mais de 100 músicas feitas — de momento encontra-se processo de selecção para o alinhamento do próximo disco. No dia 13 de Dezembro, Andy toca no Pérola Negra numa actuação incluída nas noites Em Bruto da Lovers & Lollypops, dividindo o espaço no cartaz com CZN, Supa e Lynce.

És um produtor muito hands-on e tens sido uma referência por produzires maioritariamente com analógico. Tens novas máquinas no teu arsenal que te têm entusiasmado mais recentemente ou mantens-te com instrumentos que já conheces? Normalmente fico com as máquinas que uso desde sempre. Demoro muito tempo a habituar-me a alguma coisa nova, e não gosto de ter muito equipamento; distrai-me. Tenho coisas novas como o Behringer Model D, mas de momento ainda está parado na sua caixa numa prateleira. Começaste a gravar em cassetes. Vinte anos depois, como evoluiu a tua abordagem à volta do equipamento? Aprendi mais coisas, como gravar em multipista, mas ainda gravo em cassete também. Vejo que diferentes métodos e sons funcionam para diferentes faixas. Adoro construir uma música a fazer jams em sintetizadores em diferentes pistas e ver que coisas inesperadas acontecem, mas também adoro gravar em estéreo, directamente pelo que sai da mesa de mistura, sendo que soa muito mais sólido que uma gravação multipista, em que tens de trabalhar muito para recuperares esse som coeso. De qualquer forma, eu sempre experimentei diferentes maneiras de fazer as coisas. Normalmente eu esqueço-me muito rápido de como se fazem as coisas, ou do que fiz no passado, portanto estou sempre a ter de reaprender. Além disso o material está sempre a estragar-se, por isso às vezes tenho de ir com o que está a funcionar no momento. Quanto ao teu processo criativo, a forma como compões faixas evoluiu? Sim e não. Consigo fazer mais do que conseguia, mas por vezes eu tento e acabo a fazer menos. Eu faço muita música para live sets, e não as quero complicar demasiado para tocar e dançar no concerto. Regularmente faço à volta de 10 secções diferentes para uma música e uso duas ou três no máximo — não faz sentido tornar cada tema numa Acid Opera escarrapachada. No entanto, geralmente não tenho nenhum método. Começo simplesmente com um som, uma melodia, uma progressão de acordes ou uma batida que gosto, e depois construo tudo o resto à volta disso para complementar. Não digo “hoje vou fazer uma música acid sea shanty” ou “techno banger medieval”. Não consegues forçar essas coisas, vai sempre soar artificial. Sendo que trabalhas também com o formato visual, como sentes que isso mudou a forma como crias? As duas valências influenciam-se uma à outra? Nem por isso. Muitas das minhas faixas não funcionariam com os meus vídeos, por isso só escolhos as que são divertidas o suficiente para ter um monte de visuais malucos a acontecer. Mas ainda não fiz faixas propositadamente para um vídeo. Geralmente os meus vídeos demoram demasiado a fazer, e fazer música também, é por isso que só faço um por cada dois ou três anos. Houve algum instrumento digital ou algum software que te inspirou o suficiente para usares na tua produção? Tentas desenvolver uma conexão entre o digital e o analógico, ou evitas a primeira opção? Eu uso muita coisa digital, na verdade, talvez até metade dos meus instrumentos o sejam. Por exemplo, eu consideraria o Yamaha RS7000, que é um dos instrumentos que mais uso, muito digital, mesmo que por vezes o utilize para emular sons analógicos. Além disso, todos os efeitos são digitais, além dum tape echo que raramente uso porque o meu gato o ataca. Quanto a software, eu uso um pouco para gravar ou editar, e os ocasionais efeitos em plug-in. Apesar disso, ainda não me liguei verdadeiramente com softwares no geral. Além do Octamed no meu antigo Amiga, que usei no passado ocasionalmente para fazer jungle ou coisas sem nexo. Disseste numa entrevista com a Motherboard que os concertos passaram a ser tão importantes quanto os teus discos. Quando produzes, consideras como as pessoas percepcionariam as faixas num concerto/rave ou arranjas apenas as músicas para versões live? Eu faço muitas músicas para tocar ao vivo e depois faço uma versão produzida em casa à volta do arranjo que funcionou melhor ao vivo. Faixas que faço sem concertos em mente são normalmente demasiado mellow para um club ou não têm drive suficiente para a pista. Portanto, se eu quisesse tocá-las, teria de lhes dar mais elementos pulsantes de dança, mas geralmente o mood é demasiado melancólico para clubbers, e prefiro que as pessoas se divirtam. Um dia posso vir a ter datas onde as pessoas podem sentar-se à volta e chorar um bocadinho, veremos. É claro – e já foi dito antes – que os videojogos e a sua música de influenciaram muito a tua produção. Há alguns jogos que te têm entusiasmado mais recentemente? Eu descobri a música de dança/rave mais ou menos ao mesmo tempo na minha vida em que estava a jogar muitos videojogos, portanto vão estar sempre fundidos como influências. Eu só conheço mesmo jogos antigos que ainda jogo diariamente, porque sou tão mau a jogar que ainda não completei nenhum dos que jogo há trinta anos ou mais. Se descubro nova música de videojogos é normalmente de jogos antigos. Tenho apreciado muito a música do Daggerfall (jogo dos anos 90) pelo Eric Heberling, especialmente quando jogado com uma placa de som Adlib. Todos esses jogos de computador são novos para mim como ter uma Amiga nos anos 90. Não jogo nada mais recente que o Goldeneye na N64, há demasiado para passar. E quanto a músicos e produtores? Há movimentos específicos, editoras ou músicos que tens seguido ultimamente? Eu acho muito difícil estar a par de tudo o que se passa. Passo tanto tempo a fazer música e não quero distrair-me pelo que outras pessoas estão a fazer. Apesar disso, ultimamente andei a apreciar a música feita pelo Syphus! Eu oiço DJs em clubs, oiço faixas incríveis e não sei o que elas são. Por isso, simplesmente tento lembrar-me de alguma coisa sobre a música da qual posso talvez retirar inspiração. Isso é bom, porque da forma que a minha memória inevitavelmente desvanece e altera as coisas, acabo com uma sonoridade completamente diferente, que soa a mim e não a outra pessoa qualquer. Tens planos para lançar nova música em breve? Sim, tenho bem mais que 100 faixas para pegar. Estou a planear finalizar um álbum para o fim de Janeiro, especificamente. Depois devo fazer alguns EPs com as músicas que não encaixam em álbum. A produzir e a editar música há mais de 20 anos. O que pensas do panorama da produção de música electrónica actual, a finalizar esta década? Provavelmente será muito boa, embora não saiba bem: acho sempre tão difícil estar a par. Eu penso que quando fizer menos música, terei mais tempo para ouvir tudo o que tem sido feito. O que podemos esperar do teu concerto no Pérola Negra no dia 13? Podem esperar muitos sorrisos, dança, acid, melodias camelot, “raveriffs” e um pouco de caos analógico! Que percurso farei, dependerá da audiência, mas é escusado dizer que será divertido…

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