Uma vez mais, após idêntico exercício para a produção internacional, o derradeiro olhar para um ano repleto de emoções. E de grandes lançamentos, pois claro. A estrutura é idêntica à adoptada para a lista internacional: 21 discos que ilustram bem a diversidade da produção nacional e a sua capacidade de se alongar para lá das fronteiras deste rectângulo. Citam-se textos publicados ao longo do ano por aqui, mas também, no caso da entrada dedicada a Sara Serpa, parte da crítica que foi publicada no Expresso.
01 – [Sara Serpa] Intimate Strangers (Biophilia)
“O novo álbum de Sara Serpa resulta de uma encomenda de John Zorn originalmente apresentada em 2018 num espectáculo multimédia em Brooklyn, Nova Iorque. Intimate Strangers marca o encontro da voz e das composições de Serpa com as palavras do escritor nigeriano Emmanuel Iduma que, também em 2018, lançou A Stranger’s Pose, livro em que relatava os seus encontros com várias pessoas enquanto viajava por cidades africanas com o intuito de colecionar histórias de migrantes, os ‘estranhos’ que a Europa vai vendo darem à sua costa em perigosas tentativas de passagem que acabam frequentemente em tragédia.
Com os tocantes e vívidos relatos de Iduma, Sara Serpa, acompanhada pelas vozes de Aubrey Johnson e Sofia Rei, pelo piano de Matt Mitchell e pelo sintetizador modular de Qasim Naqvi, apresenta em Intimate Strangers uma extraordinária obra de profunda ressonância humana que é, simultaneamente, um completo triunfo artístico. Musicalmente (escute-se ‘Bamako’, por exemplo), boa parte do material do álbum aponta aos mais exploratórios domínios da música contemporânea, sobretudo quando o piano e o sintetizador se enredam em diálogos de abstracta atonalidade que, conjugados com a narração de Iduma, ganham contornos cinemáticos.”
02 – [Rodrigo Amado – This is Our Language Quartet] Let the Free Be Men (Trost Records)
“Amado conclui agora a trilogia iniciada em 2015 com a edição do álbum que acabou por ceder o seu título para nome do presente quarteto, entidade que inclui ainda o baterista Chris Corsano, o contrabaixista Kent Kessler e o veteraníssimo Joe McPhee que aqui recorre a trompete de bolso, saxofone soprano e tubo de pvc. Let The Free Be Men sucede então a A History of Nothing (de 2018) e puxa para o presente uma gravação de Março de 2017 na Jazzhouse, de Copenhaga. ‘Um dos melhores concertos do quarteto, gravado em condições excepcionais’, garante hoje o tenorista Rodrigo Amado. E compreende-se a afirmação quando nos deixamos submergir pela visceral intensidade da ‘linguagem’ aqui refinada pelo quarteto. Juntos (e de acordo com o site Discogs que agrega com bastante rigor discografias), estes quatro músicos somam mais de seis centenas de gravações, o que é indicador claro de uma vasta experiência que neste contexto resulta numa entrega sem reservas, já que cada um entende claramente o que significa improvisar sem a rede de estruturas pré-definidas. É nítida a procura de um plano elevado comum, com a secção rítmica a assumir-se como a agitada torrente de pulsos fluídos e sem aparente rigidez métrica sobre a qual os dois sopradores vão navegando à vista, ora deixando-se levar pelas ondas geradas pela bateria e pelo contrabaixo, ora procurando ir contra a corrente ou até mergulhando fundo para emergirem mais adiante com frases, gritos e rumores abissais. Músculo, imaginação, telepatia e inventividade em estado puro num hino vibrante à liberdade.”
03 – [Rodrigo Brandão] Outros Espaço (Comets Coming)
“As palavras são aqui matéria importante e não apenas elemento decorativo. Rodrigo Brandão é ao mesmo tempo antena de generoso alcance que capta mensagens culturalmente fundas vindas da prática do candomblé (‘Quando os Orixás Desfilam Sobre a Cracolândia’), dessa fonte de identidades que é o recreio de escola (‘Jamais Nos Esqueceremos’) e do estudo da filosofia do mestre Sun Ra (‘Eu Sou 1 Instrumento’, adaptação do poema ‘I Am an Instrument‘) e também megafone que amplifica pela sua própria escrita os gritos do presente (‘Quantos Coltrane’: ‘Enquanto isso eu lhe pergunto/ Quantos Coltrane foram calado à bala/ de colt 45 pela rota/ antes de emitir uma nota sequer / com seus respectivos saxofones?’; ‘Todo o Dia Tem +’: ‘Hoje o ambiente/ Por si só é um oponente/ Para ser sincero/ O que seria ponto zero/ Vira ponto de conflito’). E faz isso com voz expressiva, cujo tom vai respondendo, em tempo real, ao que a música lhe aponta: na já mencionada entrevista, Rodrigo fala em urgência e ritual que lhe comanda o corpo. Não é teatro, não, é energia de orixás mesmo, descarregada em palco quando soprada por um gigante, um Ojé, como Allen, e depois transformada em palavras por um Rodrigo Brandão nitidamente possuído pela força da música.
E que música é esta? Da ‘team Brasil’ escutam-se, em vozes de apoio, Tulipa Ruiz e Juçara Marçal; Thiago França toca flauta e saxofones tenor e alto; Guilherme Granado assegura efeitos e sintetizadores; Marcos Gerez toma conta do baixo eléctrico; Thomas Rohrer toca sax soprano e violino; Paulo Santos é percussionista. E depois há a embaixada da Arkestra, com Marshall Allen à cabeça, em sax alto e sintetizador, Elson Nascimento no surdo, Knoel Scott nos saxes tenor e soprano e o entretanto já desaparecido Danny Thompson em sax barítono e bongo. Sente-se uma clara sintonia entre todos os músicos, facto a que naturalmente não será alheia a mestria de Marshall Allen, com extensa experiência na condução de uma entidade feita de recursos humanos rotativos como a Arkestra, que dirige desde que Sun Ra regressou a Saturno, em 1993. E dessa sintonia nasce uma música inquieta, exploratória, inquisitiva. Tudo começa com um sintetizador que parece sintonizar uma qualquer vibração do cosmos e que precede entrada em cena de um saxofone que sola sobre uma selva de percussões chocalhantes. E a partir daí é sempre a abrir: ‘Salute to the Sun’ tem sax estridente e livre e base percussiva de recorte tribal; ‘Quantos Coltrane’ é drama ambiental, sobrevoado pela voz ‘meio sol, meia lua’ de Brandão; ‘Todo o Dia tem +’ é África projectada no futuro, com balanço polirrítmico e fanfarra de ensemble artístico de Sampa; ‘Sol da Meia Noite’ é música cósmica, um ‘samba na madrugada’ feito de voz com eco, como se tivesse sido gravada num amplo túnel deserto; já no final, ‘(Essa Noite) A Casa é Nossa’ mostra a voz de Rodrigo enquadrada por sintetizador a ‘crucificar o eclipse’ enquanto o colectivo diverge para terreno cinemático.”
04 – [Chão Maior] Drawing Circles (Revolve)
“O ensemble que Tembe desenhou é muito curioso: juntam-se a si e ao seu trompete, João Almeida, também em trompete, Yuri Antunes, em trombone, a vocalista Leonor Arnaut, Norberto Lobo, na guitarra, e Ricardo Martins, na bateria. Há por aqui uma pluralidade de idiomas e essa poderia ser aliás outra leitura do nome do colectivo: este chão que todos pisam é maior do que o do jazz, digamos, ‘tradicional’ – que é idioma ainda assim presente em certos momentos nas diferentes vozes – e toca noutras linguagens, tanto em termos formais (é sobejamente conhecido o trabalho guitarrístico de Norberto Lobo noutros domínios, por vezes mais próximos do que se poderia descrever como free-folk; o baterista Ricardo Martins tem ligações a Pop Dell’Arte ou Jibóia) como conceptuais (as ideias ‘harmolódicas’ de Ornette Coleman parecem representar aqui um papel determinante, com os planos melódico, harmónico e rítmico a assumirem idênticas responsabilidades). E é entre o espaço e a imaginação que esta música ganha vida, uma vibração quase telúrica e até algum drama derivado da tensão, como acontece no extraordinário ‘Circulo 3’, talvez a peça-chave de Drawing Circles, por ser a que, tendo a forma mais dilatada (ultrapassa os 13 minutos), permite a melhor exposição das ideias que animam este projecto: nos círculos desenhados pelas diferentes vozes, nas suas tangentes, confluências, encontros e desencontros, na propulsão estática da bateria que repete cadências, adivinha-se, enfim, a hipnótica originalidade que ampara esta música, que nos puxa para dentro desses círculos que podem, afinal de contas, ser espirais.”
05 – [Bruno Pernadas] Private Reasons (Pataca)
“Para pintar este dilatado mural, e tal como bem expresso na capa, Pernadas recorreu a uma palete de várias cores: os azuis dos sopros, os amarelos das cordas, o mais carregado recorte negro do baixo ladeado pelo grená das percussões, o laranja das guitarras eléctricas (esta é fácil…), o vermelho das vozes, o verde dos teclados. Combinadas todas as cores, obtém-se uma sucessão de painéis – 13, que Pernadas, tal como os Heróis do Mar, também não é supersticioso – de bom gosto inexcedível, de plena elegância cromática, de vincada imaginação.
Há um ‘truque’ a que Pernadas recorre desde o início: uma minúcia a toda a prova que se expressa nos detalhes dos arranjos. Tome-se como exemplo o tema ‘Fuzzy Soul’: harmonias de vozes masculinas subtilmente tintadas com auto-tune, guitarra dedilhada gentilmente… Bastava, não? Talvez a outro artista, mas Pernadas convoca a luz que se entrevê na voz de Minji Kim, adiciona secção rítmica, uma voz samplada de uma emissão de rádio da Europa de Leste, um sintetizador que sonhava ser clarinete, depois baralha tudo e põe o resultado a flutuar numa nuvem de algodão doce melódico, brincando com a disposição harmónica dos diferentes sons, como um maestro. Logo depois oferece uma ‘Theme Vision’ à memória do Brian Wilson de Smile. E isto não pára, com uma sucessão de pequenas surpresas que nos prende irremediavelmente à sua ‘narrativa’: ‘Jory’ e ‘Jory II’ são oásis de lúdica liberdade, em que Bruno Pernadas brinca com conceitos, ideias e marcas de identidade estética, num leve bailado que faz piruetas entre a Ásia e o Brasil, entre a electrónica yellowmágica e a acústica pernambucana. E tudo faz absurdo sentido, até o solo (guitarra?) em reverse e as vozes ‘exóticas’ à Les Baxter. E ‘Brio 81′, a ’tour de force’ do álbum nos seus quase nove minutos de duração, tem harpa e sintetizadores, percussões de orquestra clássica, drones que soam a sitar, vozes processadas, múltiplos samples, flauta, mais harmonias vocais, piano eléctrico, guitarra, sintetizadores variados, como se Pernadas tivesse decidido usar tudo aquilo a que conseguiu deitar mãos no estúdio em determinado dia, só porque sim, e fazer um psicadélico ‘filme’ de sons tão vívido como se tivesse antes usado imagens. Que dizer a isto? ‘Obrigado’ é bem capaz de servir.”
06 – [Luís Vicente Trio com Gonçalo Almeida, Pedro Melo Alves] Chanting in the Name Of (Clean Feed)
“Chanting in the Name of, trabalho do trio que Luís Vicente montou aqui com o contrabaixista Gonçalo Almeida e com o baterista Pedro Melo Alves. E, uma vez mais, é de diferenças que convém falar, porque o baterismo que Melo Alves aqui aplica é muito distinto daquele que se escuta no seu encontro com Pedro Carneiro, retendo apenas a sua inventividade de marca, a sua capacidade de contínua surpresa, o seu habitual gosto pela descoberta. Com um brilhante Gonçalo Almeida ao seu lado, esta secção rítmica dá ao incansável Luís Vicente um amplo terreno para a exploração, para o desenho de caminhos improváveis, mas sempre estimulantes, agindo em contraponto e injectando alguma turbulência sob o mais planante discurso do líder ou, pelo contrário, segurando-o na Terra, qual cabo que liga o balão de ar quente ao chão, quando parece envolvido numa espiral ascendente sem fim.
Escreve, nas liner notes, Hamid Drake (com quem Vicente gravou o espantoso Goes Without Saying, But It’s Got To Be Said), citando Hazrat Inayat Khan, místico sufi que apresentou o sufismo ao Ocidente no início do século XX, que ‘a música é muito mais do que uma forma de entretenimento para passar o tempo. É, na verdade, o código subjacente a todo o universo’. Drake não poupa depois justos elogios ao ‘maravilhoso trio’. O que é compreensível, sobretudo após uma escuta atenta deste álbum. É que este trio alcança planos cósmicos muito elevados. Escutando a peça título, a mais longa do álbum e a que ocupa o centro do alinhamento, entende-se tudo isto: sobre baixo dissonante tocado com arco, a soar quase como um violino ou violoncelo, Luís Vicente desenrola um lírico mantra que recorda a espaços o lado mais espiritual de Miles, não necessariamente por afinidades de técnica, mas porque aqui o trompetista português parece apontar a um mesmo plano de superior contemplação que o mestre americano logrou pontualmente alcançar. Mas esse é um registo que de forma inteligente é depois trabalhado de forma a dar espaço a um discurso mais visceral, que parece um vórtice que nos puxa para o centro, de forma irremediável. Essa força gravitacional que se sente ao longo de todo o álbum recompensa sem dúvida quem por ela se deixe levar. É que este é um trabalho de puro assombro espiritual.”
07 – [João Lencastre’s Communion] Unlimited Dreams (Clean Feed)
“Aqui, João Lencastre é secundado por Albert Cirera (saxofones tenor e soprano), Ricardo Toscano (saxofone alto), Benny Lackner (piano e electrónica), André Fernandes (guitarra eléctrica), Pedro Branco (guitarra eléctrica), João Hasselberg (baixo eléctrico e electrónica) e Nelson Cascais (contrabaixo), um autêntico grupo de ‘feras’ em que pontuam diversos líderes de pleno direito. Mas, ao mesmo tempo, um ensemble de geometria original graças à combinação de duplas de saxofones, guitarras e baixos, com o piano e a bateria a surgirem solitários, mas igualmente determinantes. O facto de dois dos músicos (Lackner e Hasselberg) ainda adicionarem variáveis electrónicas aos seus instrumentos principais afirma este colectivo como fonte de um vasto leque tímbrico, característica que serve na perfeição as composições panorâmicas de Lencastre.
Nas seis peças de que se faz o alinhamento deste álbum há uma inquietude que se adivinha na derivação colectiva por diversos territórios musicais, partindo-se sempre do jazz, mas com a estrutura das peças a revelar uma natural ‘curiosidade’ que as leva a acercarem-se de outras linguagens, seja pelo lado do dispêndio de energia (há momentos com autêntico nervo rock) ou pelo mergulho em lagos de maior abstracção (que remetem para modos mais próximos das músicas contemporâneas).”
08 – [Cíntia] Sítio (Cena Jovem jazz.pt)
“E o que resulta evidente do ‘passeio’ por este Sítio, e tal como já preconizado por REP, é a constatação de que este trio ergue a sua identidade em cima dessa fluência em diferentes linguagens, usando a química improvisacional como a cola que une todas as pontas do seu som. A bateria de Ricardo Oliveira não teme as figuras mais circulares, mas demonstra inquisitiva personalidade e uma criativa abordagem às questões do tempo (escute-se a cadenciada ‘Introspecção Mística’ como possível demonstração da sua ideia de síncope), os teclados e synths de Tom Maciel são tão lúdicos como assertivos no estabelecimento de frases de pronunciada modernidade que levam em linha de conta o que se tem criado noutros espaços, da electrónica ao hip hop. Mas é a guitarra de Simão Bárcia que parece assumir aqui a dianteira, espalhando faíscas eléctricas e poeira harmónica por todo o lado, mas sendo igualmente capaz de poéticas exposições, como acontece em ‘Teia’, delicado exercício de filigrana textural que sublinha as capacidades técnicas do músico.
Este álbum de estreia dos Cíntia, lançado há poucos dias, é assim mais uma séria adição a um esforço amplo de ampliação das margens do jazz contemporâneo nacional, um exemplo de criativa dispensa dos cânones em favor de uma busca de benignas vias de contaminação do pulsar espontâneo do jazz com ideias captadas noutras paragens. O que rende um exercício tão intrigante quanto excitante, que a cada nova audição parece abrir mais umas quantas janelas para novas paisagens. Espreitem, por favor.”
09 – [Ocenpsiea] Oceano-Mar (Ed. de autor)
“A secção rítmica é elemento fundamental na sonoridade dos OCENPSIEA e talvez esse estatuto seja exposto de forma mais clara em ‘Dança Teixeira’, tema que o grupo explica ter inspiração africana, mas que, em toda a sua gloriosa brevidade, deixa claro que é uma mais abstracta noção de ritmo – que pode surgir mais escaldante ou, pelo contrário, feito de leves brisas…. – que lhes serve de principal propósito, uma qualidade que podem ter herdado do óbvio amor que sentem pelo hip hop e que se se sente na forma como estruturam os temas e também na gestão dos diferentes elementos musicais.
Há, aliás, uma vénia clara a Mac Miller, com a voz do malogrado rapper a fazer-se ouvir em ‘Catch-22’, quando explica, no concerto que deu em Portugal em 2016, as qualidades curativas da música, uma cultura universal. Por baixo da voz de Miller, há uma bateria que se apressa, um baixo de inventiva sinuosidade e camadas e camadas de textura melódica fornecidas pelos teclados, sempre dispostos em exuberante filigrana.
Aproximando-se bastante da estética JazzNãoJazzPt explorada por bandas como YAKUZA, Bardino ou Mazarin, os OCENPSIEA trazem consigo a originalidade de uma leveza descomprometida que, no entanto, nunca os faz perderem o norte da assertividade musical, aditivando cada um dos seus temas com argumentos de musicalidade pura capazes de entusiasmar com a promessa de soluções musicais inesperadas em cada esquina dos diferentes arranjos. É o que acontece, por exemplo, em ‘Oceanografia’, com o piano acústico a expor uma coda melódica que se entrelaça de forma bastante fluída com a bateria, antes de uma injecção de electricidade no piano nos atirar para o lado mais cromaticamente explosivo do fundo do mar, soando o tema como a banda sonora de um filme que explora a exótica beleza doas recifes de coral, carregados de vida multi-colorida.”
10 – [Rodrigo Pinheiro, Pedro Carneiro] Kinetic Études (Phonogram Unit)
“Kinetic Études – comece-se por aqui… – é um belíssimo trabalho de interligação de piano e marimba, um ‘dueto’ não tão frequente quanto se poderia pensar, sobretudo ouvindo os belíssimos resultados deste álbum. Pinheiro e Carneiro são músicos dotadíssimos, tanto em termos técnicos como de domínio de diferentes linguagens, e neste conjunto de estudos (seis, ao todo) o que evidenciam é a capacidade de escuta mútua, de resposta ao outro, de complementaridade, num crescendo realmente exploratório de aproximação, de gestão de tensões, de pressão e libertação, que se traduz numa complexa teia harmónica tecida por Pinheiro no piano acústico e por Carneiro na marimba com extensão de quarto de tom. Jazz e música contemporânea em diálogo, em trabalho de eliminação de margens e de fomentação de afinidades, invenção livre a procurar servir a música, com cada um dos músicos a sabiamente evitar manifestações inusitadas de virtuosismo técnico, preferindo o mergulho incondicional no que o caminho tomado exige. O resultado é simplesmente estonteante.”
11 – Space Quartet – Directions (Clean Feed)
12 – José Lencastre NAU Quartet + Pedro Carneiro – Thoughts Are Things (Phonogram Unit)
13 – Coreto – A Tribo (Carimbo Porta-Jazz)
14 – Rodrigo Amado Motion Trio & Alexander von Schlippenbach – The Field (NoBusiness)
15 – Hernâni Faustino – Twelve Bass Tunes (Phonogram Unit)
16 – Garfo – Garfo (Clean Feed)
17 – João Mortágua Math Trio – Math Trio (Roda Music)
18 – Susana Santos Silva & Torbjorn Zetterberg – Tomorrow (Carimbo Porta-Jazz)
19 – Javier Subatin – Mountains (Habitable Records)
20 – Nelson Cascais – Remembrance: The Poetry of Emily Bronte (Robalo)
21 – Raquel Martins – The Way (Ed. de autor)