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Publicado a: 28/12/2017

Nosaj Thing, o produtor que gosta “de viver no estúdio”

Publicado a: 28/12/2017

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

De Portugal para os Estados Unidos da América, a ligação com Nosaj Thing faz-se através de uma chamada telefónica, um meio que, retirando a possibilidade de acontecer cara-a-cara, facilita a interacção entre entrevistador e entrevistado. A diferença horária acaba por levar a um “choque” de estados de espírito: uns estão a acabar o dia de trabalho e outros estão a começar o dia.

Depois de uma pausa de dois minutos, Jason Chung pega no telefone e damos início à nossa conversa. O artista de Los Angeles lançou Parallels, o quarto disco de originais, em Setembro deste ano, e voltou a trocar as voltas a todos aqueles que achavam que sabiam para onde ia. O seu processo criativo é o primeiro tema que vem à baila: “Tenho algumas ideias enquanto estou na estrada e faço algumas coisas, mas é muito raro. Eu gosto de trabalhar no meu espaço e leva algum tempo para colocar a minha mente em modo ‘escrita’. Eu gosto de estar numa zona onde consigo não pensar nas coisas. Preciso de ‘desligar-me’ para conseguir criar…”

 



Não existe uma linha condutora em Parallels: é um conjunto de experiências que, por obra do destino (ou de Nosaj Thing, acreditem no que quiserem), acabaram juntas num longa-duração. “Habitualmente não tenho uma narrativa. É o resultado da experimentação e daquilo que acho que encaixa. Eu dou a volta a todos os meu projectos e compilo uma história no fim. É assim que tenho feito o meu trabalho. Mas tenho mudado isso nos últimos tempos”.

Em permanente mutação desde que lançou o seu primeiro álbum, Drift, Nosaj Thing não se cansa de testar novos caminhos e novas fórmulas. Depois de ter colaborado com nomes como Kid Cudi, Kendrick Lamar ou Chance The Rapper, o arquitecto sónico de 32 anos convidou o britânico Steve Spacek, Kazu Makino e Zuri Marley para o seu novo projecto. Sobre o primeiro, Chung revela: “Eu e o Steve Spacek temos amigos em comum e é interessante: não se conheciam, mas ambos sugeriram que eu trabalhasse com o Spacek. Eu sou um fã do Spacek há muito tempo”. E, falando da criação de “All Points Back To U”, acrescenta: “Demorou algum tempo a acontecer. Quando conseguimos entrar em contacto, a faixa foi feita tão rápido… Eu mandei-lhe quatro ou cinco demos e ele mandou-me de volta a canção com todas as vozes feitas passado dois dias. A partir daí, eu não toquei mais na canção.”

A participação de Zuri Marley, filha de Ziggy Marley e neta de Bob Marley, também é fruto de um encontro fortuito. “Também nos conhecemos através de um amigo comum. Eu estava num concerto do Blood Orange, em Los Angeles, e ela estava a actuar com ele. Depois da actuação, nós ficámos a curtir e tornámo-nos amigos. Quando estive em Nova Iorque uns tempos depois, ela veio ter comigo ao estúdio e fizemos uma jam session. Tudo aconteceu de forma orgânica”, conta ao Rimas e Batidas.

Se pensamos nele como um “produtor”, a verdade é que Chung não tem assim tantas certezas sobre essa conotação: “As letras são escritas por eles e eu só faço pequenos arranjos na mistura, mas eu sinto isto como colaborações. Eu não produzo assim tanto… o Spacek também produz, por isso confiei nele a 100%. Eu senti que estávamos no mesmo estado de espírito.”

 



Num ano em que o venezuelano Arca decidiu utilizar a sua própria voz no álbum homónimo, a questão pareceu-nos totalmente adequada: quando é que vamos ter Nosaj Thing a cantar num disco? “Tu encontras a minha voz em todos os álbuns que fiz até agora. Costumo samplar a minha própria voz. Eu tenho um monte de canções em que cantei, mas acho que ainda não estou confortável para lançar isso. Eventualmente, isso é algo que irei fazer no futuro, de certeza.”

A era tecnológica acaba por nos dar ferramentas que, de outra forma, seriam inacessíveis. As redes sociais, por exemplo, são, muitas vezes, uma verdadeira mina de informação privilegiada. Uma pesquisa rápida pelo Instagram de Nosaj Thing mostra-nos que os maiores nomes da música norte-americana não lhe passam ao lado, publicando fotos de Kendrick Lamar ou Frank Ocean, por exemplo. No entanto, e olhando especificamente para o campo da electrónica, Nosaj Thing refere que admira produtores como Dedekind Cut, Andy Stott e Whoarei, membro da sua editora Timetable.

A saborear os últimos de dias de 2017, o músico já pensa no futuro: “Estou à espera para trabalhar no meu primeiro filme no início do próximo ano. Não posso adiantar grande coisa. Mas é algo que quero fazer mais no futuro. Basicamente, eu gosto de viver no estúdio [risos].”

Nos dias 9 e 10 de Março, Nosaj Thing actua no Lisboa Dance Festival, no HUB Criativo do Beato, um regresso a Portugal depois da passagem pelo Musicbox em 2013.

 


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