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Fotografia: João von Hafe
Publicado a: 12/12/2021

De gala.

Natal do Marginal’21 – 10 de Dezembro: na estrada dos solitários

Fotografia: João von Hafe
Publicado a: 12/12/2021

O segundo dia do Natal do Marginal’21 começou no Passos Manuel. Depois de uma noite de euforia no Hard Club, foi altura de reduzir os decibéis e usufruir das poltronas desta sala de cinema. Uma plateia composta por diferentes gerações aguardava pela apresentação do mais recente álbum do baterista e produtor Fred Pinto Ferreira.

Series Vol1 – “Madlib”, lançado em Setembro deste ano, é uma reimaginação do trabalho de Madlib, produtor norte-americano. O músico português rodeou-se de um quarteto de luxo para dar vida às suas reinterpretações, contando com Eduardo Cardinho, no vibrafone, Tomás Marques, no saxofone, Márcio Augusto, no baixo, e Karlos Rotsen, no piano e teclados.

O palco iluminado por três candeeiros domésticos e tons de roxo projectados na bateria, que se encontrava numa posição de destaque central, criou o clima intimista que esta viagem de jazz com apontamentos eletrónicos exigia. Quando soou a primeira progressão do tema “HMB”, as portas da percepção dos presentes abriram-se e convidaram-nos a conhecer novas dimensões.

Ficou provado que a música fala por si, tanto é que o artista quebrou o silêncio uma única vez para os agradecimentos habituais e para apresentar os instrumentistas. Nas teclas, ao lado de Rotsen, esteve Diogo Santos, que, entre solos tremendos e harmonias dissonantes, foi o responsável pela manipulação dos sintetizadores que conferiram a realidade espacial presente neste trabalho. No sax e no vibrafone, os jovens músicos que fizeram parte da elaboração do disco, Tomás e Eduardo, tiveram espaço para evidenciar o seu valor. Por fim, consolidando a base rítmica de Fred, esteve em palco José Garcia no baixo eléctrico. 

Foi um concerto muito agradável que marca pela positiva a união entre gerações. Na linha de nomes como os britânicos Ezra Collective ou os canadianos BADBADBNOTGOOD, esta onda traz um amadurecimento ao hip hop convencional aliado a uma lufada de ar fresco para as notas azuis, reforçando-as com estéticas e sonoridades contemporâneas.

Por outro lado foi marcante a cumplicidade entre os músicos: o pilar do projecto foi subtilmente coordenando todas as entradas, o que resultou numa performance bastante limpa entre tantos devaneios. Para além de dirigir, Fred, que normalmente brilha como instrumentista pela sua cadência uniforme e consistência rítmica, revelou um lado mais livre, com mudanças de andamento e breaks mais charmosos. 

No final, a banda foi aplaudida por uma plateia que aos poucos começava a regressar à realidade depois de uma caminhada que foi da “Road Of The Lonely Ones” até uma “Distant Island” perdida no imaginário de cada um. Os aplausos pediam um encore que não foi correspondido; e às vezes é preciso aceitar que as viagens têm princípio, meio e fim, e que depois de um bom final o silêncio é a melhor resposta.


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