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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 27/12/2023

O artista português estreia-se no Maus Hábitos na sexta-feira.

MRCOMEDINA: “O mais interessante para mim é dar vida às personagens que crio”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 27/12/2023

Depois de se ter apresentado no B.Leza em Agosto, concerto teatral ao qual o Rimas e Batidas assistiu, MRCOMEDINA ruma ao Maus Hábitos, no Porto, para apresentar as suas Crónicas de Balazac esta sexta-feira, 29 de Dezembro. Ainda há bilhetes à venda por 8€.

Editado em Junho, Crónicas de Balazac é o seu álbum de estreia, que sucede ao EP Roda Punk Jazz apresentado no ano passado. Com 28 anos, MRCOMEDINA é em si mesmo um melting pot cultural, daí a miríade alargada de influências e estéticas na sua arte. Descendente de cabo-verdianos e guineenses, nasceu em Lisboa rodeado de brasileiros daí ter uma ligação tão íntima à cultura do país sul-americano e possuir um sotaque carregado. 

Cresceu entre Lisboa, o Porto e Barcelona a beber da música tradicional brasileira (e em particular da cultura afro-brasileira), do rap, do jazz, dos blues ou da energia suja do punk rock. “É esta mistura de várias culturas que deu no MEDINA”, explica ao Rimas e Batidas. Aponta como referências nomes tão distintos como Cazuza, Djavan, BK’ ou o português Tristany, artista multidisciplinar que tem sido uma influência directa para MRCOMEDINA, até por o ter convidado para integrar o cartaz do Festival Iminente em 2022.

Também MRCOMEDINA é um projecto artístico conceptual múltiplo, de música entrelaçada com artes visuais. “Eu sempre tive muita ligação ao cinema”, conta. “Apesar de não estar envolvido directamente, sempre foi algo que me cativou porque tive muitos amigos ligados a essa área. Desde pequeno que cresci em ambientes artísticos, com amigos da minha mãe, e isso ajudou-me a desenvolver esta vertente mais próxima das histórias, muito através do visual. Independentemente do lugar, estou sempre atento aos pequenos pormenores e a mente vai trabalhando. Viver nestas várias cidades permitiu-me ver coisas que fazem com que eu também consiga construir as minhas histórias musicais, criar os meus próprios conceitos, dar vida às personagens.”

Daí que sempre tenha tido uma propensão por narrativas: o álbum Crónicas de Balazac tem uma forte componente de storytelling e, ao vivo, MRCOMEDINA apresenta performances verdadeiramente teatrais, o que não é nada comum quando olhamos para o panorama do rap em Portugal. “O objectivo do álbum foi mostrar à sociedade que os jovens de hoje em dia, apesar de não terem tantas oportunidades, até ao nível financeiro e isto é relativo porque o mundo é gigante, porque na Europa temos uma qualidade de vida que em África, por exemplo, não existe… No fundo, quis juntar várias nacionalidades de diferentes continentes no álbum. A mensagem acaba por ser: mesmo que seja um risco, vale a pena viver o risco para conseguir alcançar os prazeres da vida.”



O disco relata as jornadas de “seis ou sete personagens” e evidencia as “dificuldades que cada um deles tem” ao ponto de “cada um deles ter participado no assalto” que serve de fio condutor para esta história. “E mostro o ponto-de-vista de cada um. Por isso é que o álbum está cheio de interlúdios, para situar o ouvinte, no que está a acontecer de uma faixa para a outra. E o resto está na mente das pessoas, é deixar o público reflectir para si mesmo sobre aquilo.”

Crónicas de Balazac foi construído durante um ano e meio, parte do qual em simultâneo com o EP Roda Punk Jazz. “Surgiu de uma forma super natural, porque é a minha forma de escrever e de relatar aquilo que vejo no dia-a-dia. Consigo personificá-lo através de personagens e cenários. O mais interessante para mim é dar vida às personagens que crio, com ritmos musicais distintos, mas sempre com um storytelling”, explica.

O seu projecto musical não foi de todo planeado. Simplesmente aconteceu, no Verão de 2021, em plena pandemia, quando regressou a Lisboa para viver com a mãe. “Era um momento em que toda a gente estava a tentar fazer algo, eu já tinha alguns amigos envolvidos, como o Tristany, que já faziam música. Comecei a ter curiosidade sobre como é que eu me sairia fazendo algo musical, e foi através de uma brincadeira que acabei por ter os resultados que depois me permitiram fazer o meu primeiro EP.”

Aquilo que começou por ser algo descomprometido foi-se tornando mais sério. E cita Cazuza quando diz que olhava para o palco como uma “sala de estar” e que, “com o passar do tempo” e a sua evolução artística, começou a encará-lo como “uma coisa bem mais séria, como algo sagrado”. “A minha transição de um disco para o outro é muito por aí também.”

Embora não levante o véu sobre o que se vai passar na sua estreia no Maus Hábitos, revela que será “uma coisa diferenciada” do espectáculo de Lisboa. “É sempre diferente, mas desde o concerto no B.Leza muita coisa mudou, fui criando outras concepções, e o concerto no Maus Hábitos, também por se tratar de uma cidade diferente, com outras características… Tento sempre adequar os shows que faço mediante as características dos lugares onde vou actuar.”

Além disso, diz que o distanciamento face ao lançamento do álbum permitiu que tenha “absorvido outras coisas” e esteja a “usufruir” mais do disco, para que agora, com tudo “recentrado”, possa “aparecer de uma forma diferente nos shows”. Assumidamente ainda a construir uma identidade, embora não faltem elementos próprios na sua arte, diz que está na busca por um “entendimento” melhor do seu trabalho, daquilo que é e daquilo que pretende ser. “Antes estava numa coisa mais punk rock, mais suja, mais moshpit. Tem sido um processo de evolução e ainda estou à procura de respostas.” Para os próximos tempos, e para o novo ano de 2024, planeia transformar as suas Crónicas de Balazac numa curta-metragem.


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