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Fotografia: Tiago Ribeiro
Publicado a: 14/10/2022

De momento em momento.

Moullinex: “O Flora vive mais da dinâmica da banda e é mais analógico. O Requiem é mais vídeo, luz e componente cénica”

Fotografia: Tiago Ribeiro
Publicado a: 14/10/2022

Amanhã, dia 15 de Outubro, Luís Clara Gomes cola as palavras “disco” e “drama” para uma dançocomédia que durará seis horas no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. A divisão desta celebração será feita em três actos, o primeiro dedicado a Flora (saiu em 2012, por isso já lá vão 10 anos), o segundo a Requiem For Empathy e o último a abrir espaço na pista para DJ sets. Este grande espectáculo foi razão mais do que suficiente para revermos a matéria com o próprio Moullinex — e ainda deu para abordar, por exemplo, o mais recente single que produziu para Marisa Liz, “Guerra Nuclear”, que é, na sua génese, um inédito de António Variações.



Comecemos por falar de visuais. Vai existir algum tipo de intervenção sobre o espaço?

Vai. Eu queria mesmo fazer uma grande distinção entre os actos. O Coliseu é aquele sítio no qual já vimos tanta coisa. Gostava de, pelo menos, marcar uma clara distinção cénica entre os actos. Para mim, o universo do Flora é super tecnicolor e exuberante. O Requiem for Empahy é mais austero. Depois, fazer um DJ set no Coliseu… “Como é que metemos uma pista de dança, que seja convidativa, num espaço tão virado para uma coisa unidireccional?”

Não tem que ser. Há um camarim presidencial, por exemplo. Daria uma óptima DJ booth, ou não? [Risos]

É verdade [risos]. Essa é uma das hipóteses. É entre isso e a regie técnica, que também se pode tornar numa DJ booth. Mas o camarim presidencial é uma das hipóteses. Para mim, é importante separar as coisas, em termos audiovisuais. O Flora vive mais da dinâmica da banda e é mais analógico. O Requiem é mais vídeo, luz e componente cénica. Pelo meio vai haver uma curta-metragem, que é um videoclipe do Flora. Vai ser realizado esta semana pelo Bráulio Amado e pelo Bruno Ferreira. Eu achava que já não ia acontecer. Vão realizar um videoclipe para uma música que já saiu há 10 anos mas que nunca teve videoclipe. Vamos estrear isso.

Eu estava mais a falar de: vai haver chuva de confettis? Bola de espelhos? Um mini-ringue de patinagem no meio da pista?

Se eu te dissesse essas coisas deixava de ser surpresa. “Olhem, vai haver chuva de confettis. Preparem-se para a receber ao minuto 53”. Deixa de ter o seu impacto. Ou seja, não confirmo nem desminto [risos].

Então, esse tipo de coisas, para transformar aquilo num espaço com espírito de clube, estão pensadas?

Estão pensadas e são essenciais. Quando eu te disse que tinha as coisas separadas, é exactamente isso: haver uma linguagem de transformação para um acto, outra para o outro acto, e uma terceira para os DJ sets.

Comecemos pelo princípio, pelo acto I: 10 anos de Flora. A esta distância — e, pelos vistos, ainda faltavam fazer coisas, nomeadamente esse vídeo — como é que sentes que esse trabalho evoluiu? E que espaço é que sentes que representa na tua carreira?

Essa é uma pergunta difícil…

Se tu fosses o Fausto… O Fausto renega o seu primeiro álbum, por exemplo.

É verdade [risos].

E há outros artistas que têm relações difíceis com primeiros trabalhos. Como é que é a tua?

Não tenho uma relação difícil porque, de facto, ele representa-

Tanto não tens, que a vais celebrar, não é?

Sim. Mas a razão pela qual quero conter a celebração num só momento e não andar a visitá-lo muito é porque não quero andar a olhar demasiado para trás. No Kalorama, na última data desta fornada de festivais que fizemos no contexto do Requiem, dei conta que não tinha no alinhamento nenhuma música dos primeiros três álbuns. Nem do Flora, nem do Elsewhere nem do Hypersex. E, para mim, era importante aguentar um espectáculo só com material com que estou a trabalhar agora, e não aquele compromisso de “vou ter de fazer arranjos de 2022 das coisas que fazia em 2012”. O Flora fez todo o sentido na minha vida E naquele momento. Não é algo que eu tenha vontade de revisitar constantemente e de trazer sempre para os espectáculos. Já que é um momento de celebração dos 10 anos, aí já vamos assumir o compromisso de revisitar aquele universo como ele foi imaginado na altura. Fazia sentido separar o Discodrama em actos. O primeiro tem a formação e instrumentação normal do Flora — guitarra e baixo eléctricos, bateria acústica, convidados particulares, uma disposição em palco e uma cenografia muito próprias — tem cor, tem luz. Esse primeiro acto vai ser o Flora como ele é. Respondendo ao “como é lidar com o passado?”, eu não renego este disco. Acho que ele, em muitos aspectos, permitiu que eu pudesse fazer um segundo, um terceiro e um quarto. Mas também não gosto de o revisitar demasiado ou de procurar reinventá-lo dentro daquilo que é o que estou a fazer agora.



No rock, a ideia de repertório é bem-vinda. Tu não vês artistas — mesmo que com 10 ou 12 anos de carreira — a deixarem de olhar para o seu próprio passado, porque consideram isso quase como medalhas no peito. Sobretudo quando esse passado comporta singles de sucesso, como é o caso do Flora. Será uma característica da música electrónica, essa vontade de viver permanentemente no presente?

Acho que é característica da música electrónica a vontade de abraçar tudo o que é novo e fresco. Neste caso, do Requiem para o Flora, vai uma distância muito grande, conceptual e esteticamente. Para mim, era muito difícil manter as canções à luz dos arranjos que faço no Requiem. É mais por aí. Até porque eu, no Hypersex tinha a plataforma ideal para tocar as músicas do Flora também. Aqui se calhar não. Em vez de estar a tentar desvirtuar um em função do outro, é melhor separar mesmo. E, para mim, é quase que obrigatório odiar o álbum anterior para conseguir fazer mais um.

Portanto, vai haver um momento em que vais ter de fazer como a Madonna e trocas de roupa do primeiro para o segundo acto, não é?

Isso vai acontecer literalmente.

Já percebi que não vais abrir o jogo e revelar-me os convidados da primeira parte. O que é que me podes dizer sobre o segundo acto e o que é que as pessoas vão ouvir de diferente nesse momento?

Eu nunca anuncio os meus convidados, mas a verdade é que a celebração do Flora não faria sentido sem as pessoas que o cantaram. É óbvio que vão estar. Até há pouco não tinha a certeza se a Peaches poderia estar ou não, mas agora já tive a confirmação de que sim. Então estou muito contente. A Iwona Skv cantou três músicas no disco e é uma voz essencial no Flora. Ela vai participar também. A Da Chick também tem uma participação no Flora e, entretanto, na Discotexas Band, acabou por cantar connosco outro dos temas. Não fazia sentido ter este momento de celebração dos 10 anos sem os convidados. Já os convidados do Requiem não vão poder estar todos, mas vou tentar trazer o maior número de convidados possível.

Há bocado falavas da diferença entre actos não ser apenas visual, mas também sonora. Isso significa diferentes sistemas de som ou apenas uma relação diferente com a mesa de mistura naquele momento para haver, de facto, uma arquitectura sónica distinta para cada uma das partes do espectáculo?

Há uma arquitectura sónica clara. O facto de o Flora ter sido feito com instrumentos eléctricos — baixo e guitarra eléctricos — faz com que haja som de palco, nos monitores. A bateria é mais completa, tem mais peças inteiras e não é uma bateria híbrida, como no Requiem. Logo, existe uma relação diferente com o som que vem do palco só por causa disso. É muito mais acústico. É como se fosse um concerto de rock, no sentido em que não é só o PA que te dá energia. É, também, a energia sonora que vem dos instrumentos em palco. Logo aí, fazia sentido que fizéssemos a parte do Flora sem inears. Depois, o Requiem é uma experiência de laboratório, com instrumentos electrónicos e sintetizadores, e quase não há som em palco. Então, o som é muito mais laboratorial no Requiem, e mais “punk”, se quiseres, no Flora. Do ponto-de-vista técnico, isso traduz-se em energias diferentes. Havendo som no ar, entre os músicos, faz com que haja mais movimento no Flora. O Requiem é mais um exercício de-

Noise canceling e mergulho para dentro de ti próprio?

Exactamente. Como é que eu hei-de dizer? É mais tântrico, nalguns aspectos [risos].

Mais Sting, neste caso?

Epá, não [risos]. Mais laboratorial. Eu gosto mais de Police do que de Sting.

A dinâmica do espectáculo é engraçada. Tu começas com uma celebração, depois tens uma viagem interior e há um libertar final a partir de um conjunto de DJ sets. Ainda não foram anunciadas as tuas parcerias na cabine, pois não?

Ainda não. Há alguns nomes mais óbvios e que faziam mais sentido do que outros. Mas ainda não posso falar sobre eles.

Vai ser dividido em segmentos? Tocam b2b ou é tudo ao molho e fé em Deus?

Neste momento, há condições para haver três sets separados. Mas temos seis horas para trabalhar, o que parecia imenso quando embarquei nesta aventura e, agora, está a ser difícil de gerir. Talvez faça um b2b e um slot com outro DJ.

Como é que se prepara um embate de seis horas, até mesmo do ponto-de-vista físico? Vais andar a fazer jogging todas as manhãs durante as semanas que antecedem o concerto? [Risos]

Já ando a fazer jogging todas as manhãs [risos]. A pessoa que me preocupa mais, em termos de estamina para essa noite, é o Diogo Sousa, o baterista que toca comigo. Porque estar a fazer aquilo com os gémeos… Não deve de ser fácil estar a fazer um kick em 4/4 durante três horas [risos]. Inclusivamente, vem-me à memória quando tocámos Hypersex no Mexefest, no Coliseu: foi um concerto de hora e meia e tivemos de fazer um breakzinho porque o Diogo teve uma cãibra. Portanto, existe muita banana, muito potássio disponível, e uma preparação física a sério. Eu nem dou conta. A adrenalina é que comanda e eu era capaz de estar a tocar as seis horas, a banda e em DJ set, se fosse preciso. A adrenalina comanda, mas depois vou pagá-las. Essa é a verdade [risos].

Já tens marcada uma sessão numa câmara hiperbárica para a recuperação?

Sem dúvida [risos].

E que fase é que marca este espectáculo? É o fim de um ciclo e já estás a projectar o próximo? Representa uma vírgula, umas reticências, um ponto final e um parágrafo?

É uma excelente questão e eu pensei nela, em relação ao que eu queria que fosse o momento do Requiem. Se vou fazer o Flora à luz do que ele era, não queria que o Requiem fosse, também, só um final de ciclo. Nós fizemos os concertos de apresentação ainda durante a pandemia, para gente sentada que teve autorização para se levantar, mas ainda assim com muitas restrições, na Culturgest e na Casa da Música. Aí foi com bastantes compromissos, porque o disco foi pensado para ser dançado. Apesar de ter existido oportunidade para isso acontecer, foi um ambiente um pouco hostil. Aqui não. Aqui, o ambiente é o de um espectáculo de produção própria, o primeiro desde esses dois concertos de apresentação do disco. Queria celebrá-lo, tocá-lo como ele foi imaginado, e queria aproveitar o facto de termos umas condições técnicas que são pensadas por nós — tanto do ponto-de-vista técnico como cénico e de instrumentação — para pensar naquilo que será a fase seguinte. Desde que o Requiem saiu, em 2021, tenho vindo a lançar música constantemente, sobretudo nas colaborações com o GPU Panic. Esses singles soltos também acabam por ser o meu laboratório para experimentar aquilo que quero fazer a seguir. Quero aproveitar este momento como se fosse um laboratório de ideias novas, para pôr em prática na estrada daqui para a frente. Se calhar, é uma espécie de fotografia daquilo que é o Moullinex agora, em 2022, e não uma retrospectiva do que é que foi o Requiem.



O que é que representa o trabalho que acabaste de fazer com a Marisa Liz? Antes de mais, gostava de te ouvir falar sobre o que foi pegar naquela cassete, transcrevê-la… Imagino que tenha sido como uma viagem no tempo. E isto também representa a abertura de uma porta para que te possas assumir mais como produtor que trabalha com outros artistas, um bocado mais na “sombra”, digamos assim?

Eu estou sempre confortável na sombra. Mesmo no meu projecto a solo, eu não dou muito a cara. Não sou um frontman por excelência em Moullinex.

Mas é o teu nome que surge na capa do disco.

É verdade. Concordo com o que estás a dizer. Sobre visitar o trabalho do Variações, se fosse apenas do ponto-de-vista do espectador, sim, teria sido uma viagem no tempo incrível. Como sou curiosíssimo com a história da música, ter nas minhas mãos esta peça, à qual pouca gente tinha acedido, foi um privilégio enorme só por poder ouvir aquela demo. Depois chega a altura em que tenho de trabalhar sobre ela e é aí que surge a responsabilidade. “O que é que o Variações acharia disto?” Esta foi uma pergunta constante que eu e a Marisa nos colocámos enquanto estávamos a trabalhar. Não querendo gabar-me muito, acho que chegámos a um resultado que o deixaria orgulhoso. O convite foi em diferido — a Marisa recebeu este convite e convidou-me a mim para produzir com ela. Quando ouvi esta demo, começámos a trabalhar imediatamente. Eu sabia que quanto mais tempo deixasse passar, o síndrome de impostor mais forte se tornaria. O resultado foi muito natural. gravámos as primeiras maquetes da nossa versão na tonalidade em que ele a cantou, o que permitiu usar a própria voz dele, que eu extraí com uma ferramenta de inteligência artificial. Eu extraí a voz do instrumental, que tinha guitarra acústica e uma drum machine, e coloquei-a no nosso instrumental. Tudo fluiu de forma incrível.

Usaste aquelas luvinhas brancas de museu, com que se pega nas obras de arte e nos artefactos arqueológicos?

Praticamente. Até te posso dizer que a terceira pessoa que estava nestas sessões era o Diogo Branco, que toca guitarra no tema, e ele trouxe uma guitarra acústica que era do avô. “Esta guitarra está a soar bem”. E ele, “pois, era a única guitarra que tinha do meu avô”. “Mas o teu avô era músico?” “Sim, claro. Nunca te contei? É o José Mário Branco”. Nesse momento, eu estava com a guitarra nas mãos e pousei-a imediatamente no sofá, do género, “isto merece muito mais respeito do que estar eu a tocar nela” [risos]. É esse o respeito que eu tenho pela nossa música. Para mim, um José Mário Branco e um Phil Spector não têm qualquer diferença na minha cabeça. Por serem os nossos ídolos nacionais, se calhar olhamos para eles de outra forma. Mas um José Mario Branco ou um David Bowie — como tens na tua t-shirt — não têm diferenças, para mim. Muito honestamente, acho que se o António Variações tivesse nascido num país anglo-saxónico teria tido outra celebração. Portanto, essas luvas brancas de museu existiram. O momento que me emocionou mais foi este sábado, quando recebi uma mensagem de um dos sobrinhos do António, que disse algo como, “se o tio fosse vivo, teriam sido estas as opções tomadas para a estética da música”. Trabalhar com a Marisa também foi uma novidade para mim. Achei que foi a voz certa para pegar neste projecto em 2022. A imediatez e a urgência deste tema fez com que fizesse todo o sentido fazê-lo agora e eu fiquei super feliz com o convite. Se calhar resisti muito em relação ao facto de produzir para outras pessoas. Muito honestamente, eu agora posso dar-me ao luxo de escolher o que é que faço e, por isso, só escolho coisas que vou adorar fazer, nas quais tenho uma liberdade clara e há cumplicidade, tempo e espaço para experimentar parvoíces. Para mim é importante não olhar para as coisas de forma muito orientada a resultados e a singles. Os singles aparecem naturalmente, quando existe liberdade. Eu penso como editor — porque tenho uma — e gosto de canções. Não tenho medo nenhum de canções. Gosto de canções e gosto de música pop. Só não gosto nada ter de fazer música pop e canções pop por obrigação. Elas aparecem naturalmente, quando há liberdade, e isso tem-me acontecido nos projectos de produção que tenho tido. É o caso da Marisa Liz, em que estou a trabalhar com ela para o disco dela e estou a adorar. Mas o caso imediatamente antes, o do disco dos Fado Bicha, foi dos projectos dos quais eu tinha menos expectativas do ponto-de-vista comercial e dos que mais gozo me deu fazer. Aquele resultado final deu-me uma satisfação profunda. Estou mesmo orgulhoso daquele trabalho.

E representam dois espectros bastante diferentes, não é? Um mais underground e o outro muito pop e muito mais visível. Isso também diz algo da tua capacidade de te encaixares em diferentes contextos.

Sim. É verdade. No caso da Marisa, apesar de ser um household name — toda a gente conhece a Marisa — ela nunca tinha feito nada a solo. Era uma tela em branco. E essa perspectiva, de descobrirmos a voz dela juntos… Apesar de toda a gente conhecer a voz dela noutros projectos, ninguém conhece “a voz” dela, não é?

Exacto.

Descobrimos a voz dela juntos. Tive esse privilégio de ajudar na viagem. Seria um peso muito maior já existir a carga de um primeiro álbum. “O que é que se vai dizer a seguir, num segundo álbum?” Com Fado Bicha foi igual. Nós começámos a trabalhar numa altura em que eles estavam a fazer, sobretudo, covers. São quase como standards e eles estavam a fazer as suas versões. Estavam com uma dificuldade enorme em ter as autorizações dos herdeiros dos autores dos mesmos, pelas mais variadas razões. A única hipótese foi eu desafiá-los a escrever originais. E ainda bem que o fiz, porque eles escrevem originais como ninguém. E se não fosse o tempo e a liberdade com que estávamos — sem a expectativa de “o disco tem de estar pronto daqui a três meses — não tínhamos chegado a este porto. O que eu retiro é: estou muito confortável a trabalhar como produtor e consigo assumir essa cadeira, esse chapéu, se puder estar a trabalhar com as outras pessoas da mesma forma como trabalho na minha música. É deixar as ideias aparecer com tranquilidade. A não ser que construas o teu espaço — DIY, indie, como fizemos aqui na Discotexas; ou como é Fado Bicha; ou se tiveres a liberdade discográfica que tem a Marisa Liz — é difícil teres essa oportunidade, em 2022. Tenho-me dado ao luxo de poder escolher e escolho não só pela música mas mais pela atitude perante aquilo que se quer fazer. Isso foi uma revelação grande em mim.

Quem é que vem a seguir? A Maria Reis e a Carolina Deslandes, para manter este paralelo entre o indie e o mundo pop? Quem é que já te ligou?

Já ligou bastante gente. Mas sobre os “nãos” que eu dou, não falo sobre isso [risos]. Normalmente, tenho dificuldade em dizer não, porque vejo sempre uma oportunidade em eu crescer com o projecto e a outra pessoa também ter alguma coisa a ganhar. Tenho de achar que posso fazer alguma coisa por aquele projecto e aquele projecto pode fazer alguma coisa por mim. Mas, de facto, o tempo… Não consigo esticá-lo. E se eu fosse dizer “sim” a tudo o que me aparece, ia estar a prestar um mau serviço a quem já estou a trabalhar. Se eu apregoo a liberdade e o tempo, o ter as coisas a maturar, o que é que vai acontecer se eu, de repente, “consigo sim senhor, mas só dois dias em Novembro ou três dias em Janeiro”. Não pode ser assim. Quando me meto num projecto, estou nele por inteiro. Nem sequer o telemóvel faz sentido existir na sessão.

Música nova em 2023, assinada por ti, vai existir? Ou planeias que seja um ano mais de estrada? Como é que o estás a pensar, para já?

Felizmente tinha coisas prontas, que vão sair. Vou-me estrear na Crosstown Rebels, a editora do Damian Lazarus, em Outubro. É um selo de qualidade enorme.

Outubro, mas deste ano ou do que vem?

Este ano. Ainda não anunciei, mas sai um EP meu a 28 de Outubro, lá na Crosstown Rebels. É música que tinha feito há mais tempo. O Damian convidou-me e é um privilégio enorme. Tenho mais coisas, como uma colaboração com o Xinobi, que temos de acabar. Ele foi pai e está difícil de conciliarmos horários. Mas obviamente que temos imensa vontade de a acabar. Abordamos os temas da extinção iminente da civilização humana quando ele acabou de ser pai [risos]. Não deixa de ter a sua graça. Estou super contente com o álbum de Da Chick, que vem aí no início de Outubro e no qual participámos mais como misturadores do que propriamente a produzir. Fiz arranjos de cordas e dei uns toques de produção em algumas coisas, mas foi, sobretudo, da cabeça da Teresa. Temos um orgulho gigante naquele trabalho. Vou concentrar-me na Discotexas, produzir mais coisas. Tenho mais música com o GPU Panic, que também será para sair.


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