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Fotografia: Ed Rocha
Publicado a: 30/04/2021

Um elogio fúnebre à empatia.

Moullinex: “Foi muito importante para mim conseguir chegar ao fim de algo que me deixava tão inseguro”

Fotografia: Ed Rocha
Publicado a: 30/04/2021

Alto e pára a dança!… ou talvez não. Moullinex está de volta com Requiem For Empathy, um título que podia ser um retrato dos tempos actuais, mas que, na realidade, é apenas uma grande e assustadora coincidência. Gravado antes dessa nuvem negra chamada pandemia, Luís Clara Gomes — o produtor que nos deu a Discotexas, que revisitou Plantasia, que definiu o ananás como um símbolo de festa e que vê a dança como uma afirmação política e, sobretudo, social –, volta a pôr-nos não só a dançar mas também a contemplar. Ao seu quarto disco, ele não nos tira as dores num acto de magia envolvendo BPMs, mas dá-nos ginga com as suas tristezas e melancolias num projecto honesto e pessoal, sem tanta festa e com muitos tons de cinza.

Numa viagem à volta do seu “disco mais electrónico”, o músico realça a sensibilidade, a magia da pista de dança e o momento da electrónica nacional, explicando-nos ainda a necessidade de se reinventar, os desafios que este álbum trouxe consigo, o motivo de dar um passo atrás e subtrair a sua voz e, sobretudo, o porquê de este ser um trabalho dedicado à empatia.

Afinal de contas, quem dança os seus males espanta. Haja empatia.



Vou começar a entrevista com algo que pode soar estranho tendo em conta a tua carreira. Não sentes que este é o álbum mais electrónico que já fizeste?

[Risos] Sinto! É verdade, foi uma escolha. Para mim foi obrigar-me a trabalhar em algo que não me era confortável. O Elsewhere também foi um bocadinho assim, porque trabalhei com muitos instrumentos tradicionais e nunca fui um grande instrumentista. Ainda não sou, por isso tenho sempre que me forçar a aprender e a dominar as coisas para conseguir pôr em prática as ideias que tenho na cabeça, não é? Aqui o que aconteceu foi que já estava tão habituado a trabalhar com baterias acústicas, com baixo eléctrico, com o funk e o groove, que meio que já era o meu conforto natural. Então obriguei-me a tirar essas muletas e tentar criar um universo totalmente artificial com sintetizadores. E tens razão, sempre gostei muito deles, mas nunca os deixei sozinhos. O Flora, se calhar, foi um esforço de fazer um álbum que soasse a banda, mas totalmente electrónico. O Elsewhere foi o meu esforço de tocar instrumentos tradicionais. O Hypersex foi o esforço de fazer um funk do presente e do futuro. Efectivamente, este é o disco mais electrónico, mas também o disco mais humano nas vozes e nos instrumentos como as cordas, o piano, a harpa. Instrumentos que eram um pouco mais “alienígenas” no meu mundo.

Interessante falares que este é o disco mais humano, porque algo que eu também senti, é que é o mais emocional e talvez, até, o mais pessoal.

Sim. É engraçado que digas isso, sendo tu um fã do Elsewhere [confidência feita no pré-entrevista], porque era um álbum em que eu cantava inteiramente, mas os temas eram muito na terceira pessoa, eram histórias imaginadas aos olhos de outra personagem. Este álbum foi feito com assuntos muito mais pessoais. Quando dei conta que estava com temas, e mesmo com colaboradores, tão vulneráveis e tão pessoais, achei que, em termos de instrumentação, como pano de fundo, tinha de fazer contraste e ter um bocadinho essa tal parede de cimento, distopia “orwelliana” dos sintetizadores, do techno e das texturas mais hostis.

Quando ouço o Requiem For Empathy tanto choco com os WhomadeWho, como com a cena de um Jon Hopkins e não sei se é por isso, mas sinto que não encontro muito aquela festa que foi uma constante na tua carreira.  Quiseste chocar com essa ideia de festa? Fazer algo muito mais reflexivo?

Eu vejo este álbum como a parte ritualista da dança e da purga. A dança como terapia e forma de nos libertamos, como o título daquele álbum de 1975, o Dance Your Troubles Way. É mais o ritual do que propriamente o glitter, as bolas de espelhos ou a festa no sentido colorido. Se calhar em 2018/2019, quando comecei a trabalhar no Requiem For Empathy, também estava a viver num mundo menos a cores, mas continuava a precisar da música de dança e desse ritual.

Pensei se seria honesto da minha parte inserir estas coisas que estou a produzir como Moullinex e acho que é o mais honesto possível. Assim como também foi um desafio encaixar este disco com tons mais negros e mais melancólicos naquilo que eu já fiz. Espero que aqueles que já conhecem o meu trabalho consigam perceber que este é o meu álbum mais honesto.  

Interessante… Eu até associava isso com o factor da pandemia, mas afinal ela até nem teve muita influência nos tons deste álbum.

Não influenciou tanto assim. Eu posso te dizer que, tirando o “Luz”, foi tudo fechado, tanto misturas como mastering, uma semana antes do primeiro confinamento. Lembro-me perfeitamente das datas porque estava a fechar a mistura com o David Wrench cá em Lisboa, e estávamos a ouvir ecos com medo de se ele conseguia regressar a Londres ou não. Ou seja, os primeiros choques da pandemia.

A verdade é que, às vezes, até me assusta o quanto de premonitório foi este tema para mim. No fundo, quase que a minha realidade em paralelo ficou sincronizada com a realidade do resto do mundo. Curiosamente, o “Luz”, que acho que é dos temas mais positivos do álbum, já foi feito em pandemia. Foi um bocado o ter de libertar-me, um pouco a minha luz. Atravessei este momento e precisei dele para ver soluções e o futuro à minha frente.

E a empatia? Como é que sentes que as pessoas estão hoje em dia com toda esta pandemia.

Olha, eu sinto que, no geral, estivemos todos muito menos preparados para lidar com este segundo confinamento. Sinto que já estamos todos um bocado saturados e acho que estamos todos a precisar de festa e de nos encontrarmos em segurança. Vejo muitas notícias sobre estatísticas em relação a saúde mental e de haver cicatrizes permanentes que vão continuar muito para lá desta pandemia. Sei que vão haver consequências que também vão para lá da saúde e da economia. Vai haver uma consequência permanente na nossa geração no que diz respeito aos sonhos. Acho que o facto de não haver espetáculos nem público vai deixar uma cicatriz na nossa geração. Mas, ao mesmo tempo, tenho a certeza que apesar de tudo isto, vamos viver, se calhar, as melhores festas, mais honestas, com maiores manifestações de humanidade numa pista de dança, num clube, numa noite para 100 pessoas suada e escura, numa festa de pôr do sol numa praia…. Acho que vamos viver as melhores festas, portanto, é óbvio que olho para o futuro com algum realismo, mas também com optimismo. 

Eu acho muito interessante o título do teu álbum e a comparação dele com a actualidade. Há algum statement em Requiem For Empathy?

Obrigado! Eu nunca penso primeiro nos conceitos e depois executo, é sempre ao contrário. Tenho de deixar-me trabalhar nas ideias sem limitações e depois é que tento fazer a desconstrução, de perceber porque fui por aquele caminho. Foi esse o meu exercício e aqui percebi que tinha um disco para a pista, emocional, melancólico, mas dançável. Então o que é que me levou a fazer isto? Porque é que não foram baladas ou exercícios de música ambiente? Porque, se calhar, há algo em comum no facto de gostar tanto de estar na pista, de ser DJ, de ser produtor de música de dança, de ter uma banda que faz música dançável. Foi essa ideia mágica, que só existe nessa experiência colectiva de música que é a pista de dança, que se manifesta através da empatia. Então decidi dedicar este disco à empatia. O requiem, obviamente, é uma brincadeira sobre o facto de ser um elogio fúnebre. Se calhar é mais uma pergunta do que uma certeza. Ainda existe empatia? Estamos a perdê-la enquanto sociedade? Sobretudo, então, quando vi uma pandemia como uma nuvem negra a pairar sobre todos, acho que ficou ainda mais pertinente como título do disco. Foi quase uma profecia auto-cumprida [risos].

O que é o Laboratório da Empatia?

Olha, tudo começou há anos, depois do Hypersex, numas sessões de conversa informal com um grupo de cientistas da Fundação Champalimaud que faz umas maluquices na pista de dança. Ou seja, é um grupo de cientistas da fundação que, à parte do trabalho que fazem na área da neurologia, estudo do comportamento e outros estudos na vanguarda da ciência, são também interessados na música de dança e no poder que as experiências colectivas têm sobre nós. Já fizeram coisas noutros espaços e noutros eventos de música de dança, como o Boom, por exemplo, e decidi desafiá-los a ocuparmos a pista do Lux, numa primeira instância, com sensores em que o movimento colectivo dos bailarinos e do público conseguia controlar o sistema de luz e os strobes. Ou seja, criando um loop de feedback em que quanto mais o público estava ligado à música, mais isso afectava as luzes e, obviamente, a experiência de todos. E acho que este Laboratório da Empatia vem muito desta ideia do loop único que se cria entre o DJ ou performer e o público. Porque não é só numa direção, não é só do DJ e do sistema de som para o público, mas é algo que volta e afecta o rumo da música que escolhes e a forma como interpretas e executas as tuas canções. Eu acredito muito nesta magia. Tive o convite do Craveiral e do Espaldar para fazer este laboratório e decidi desafiar estes cientistas para fazermos esta residência e pensarmos na empatia como base para tudo o que podemos fazer.

Na prática, isto resultou numa performance, que quero depois pôr em palco assim que possível, que é com voluntários que estão ligados por sensores que captam as ondas cerebrais, o ritmo cardíaco e a respiração, e com esses dados conseguimos manipular essas visões que vão afectar tanto o público como os músicos que tocam para estes voluntários. Com isso sabemos de que forma conseguimos provocar emoções diferentes nos voluntários e como essas emoções afetam toda a performance.

E estás a pensar transportar isso para as apresentações do Requiem For Empathy?

Sim! Muito do universo visual que se criou no Craveiral e no Espaldar foi transposto visualmente para os espectáculos que vamos fazer em Junho na Culturgest e na Casa da Música. Contudo, não consigo pôr sensores nas pessoas por causa da questão da pandemia. Eventualmente vamos colocar sensores nos músicos e deixar que isso afecte a performance.



Uma das coisas que me chamou a atenção no disco é a ausência da tua voz. Eu acho que não a consegui ouvir.

[Risos] Não, não ouves a minha voz. [Risos] Sou capaz de ter feito segundas vozes no “Ven”, no “Ngoma Nwana” e nos temas com o GPU Panic. Vou-te dar um exemplo: na “Hey Bo”, a música que encerra o disco, eu tentei cantá-la, mas não me senti capaz de exprimir aquilo que eu queria. Senti que não chegava àquilo que queria dizer emocionalmente e estava sempre a imaginar a voz do Afonso Cabral nela. Decidi não me martirizar mais e avançar com a pessoa que sabia que a ia cantar como eu idealizava e ele foi super generoso em aceitar e cantou para lá do que eu tinha concebido.

Mas porque é que tomaste essa decisão de dar o passo atrás e entregar as vozes a outras pessoas?

Porque eu nunca me senti um vocalista, sabes? Nunca me senti um cantor, sinto sempre que não é algo que me sai naturalmente e que fico sempre em esforço a chegar aos sítios onde quero. Isso limita-me e neste álbum eu queria que as vozes soassem humanas, naturais, vulneráveis e não esforçadas e demasiado esculpidas e escondidas atrás de efeitos, que era o eu fazia nos meus temas. Punha muita cosmética na minha voz porque não gostava como ela soava ao natural. Aqui, com cantores tão excepcionais como a Selma Uamusse, a Sara Tavares, o Guilherme [GPU Panic], o Afonso, a Ekstra Bonus, penso que foi um exercício tão sem esforço que acho que isso se nota nas vozes. São naturais e humanas. A minha seria sempre muito plástica neste contexto.

Mas já tinhas a produção feita e eles colocaram as vozes nos temas ou as vocalizações deles acabaram por influenciar o teu processo criativo?

Influenciou muito, posso-te dizer que os temas com o Guilherme foram feitos a meias de origem. Noutros casos, por exemplo o tema com a Selma, tinha a canção mais ou menos pronta, mas a decisão de pôr cordas, harpa e toda uma exuberância na segunda parte da música foi quando eu senti o grau emocional com que ela cantou aquele tema. Achei que precisava de uma ascensão aos céus e de dar-lhe aquelas texturas orgânicas, ou seja, acabou por influenciar muito o processo. Já fiz alguns temas no passado em que entrego um instrumental totalmente pronto ao vocalista. Aliás fiz muitas remisturas em que só aproveitei as vozes do original, mas acho que deito sempre a perder…. Acho que perco sempre uma oportunidade de fazer algo melhor se não deixar a coisa a meio. Por isso sim, fiz os temas com os vocalistas ainda muito a meio do processo para deixar que esse contributo vocal pudesse influenciar o instrumental.

Falaste no Guilherme; é interessante porque ele já te acompanhava ao vivo e agora meio que o colocaste debaixo do spotlight. Foi uma espécie de empurrãozinho que lhe deste para ele se chegar à frente.

[Risos] Fui buscar o Guilherme para Moullinex porque achei que ele era um guitarrista incrível. Gostava muito do trabalho dele em Salto, mas foi, sobretudo, pela sua sensibilidade na guitarra e pela sua performance. Isto em 2015. Depois quando comecei nos ensaios, nos soundchecks e no estúdio a ouvi-lo cantar é que vi que ele tem esse tal à vontade com a voz. O Guilherme está sempre a cantar, constantemente [risos], em palco ou fora dele. Senti essa ligação natural à voz dele, que eu não tinha, e comecei a desafiá-lo para cantar. O primeiro tema meu que ele deu voz foi o “Painting By Numbers” do Hypersex, e até hoje é um dos meus temas preferidos do álbum. Acho que ele tem uma sensibilidade enorme na voz, especialmente quando canta em inglês. Fica ainda mais vulnerável. Claro que adoro ouvi-lo cantar em português, mas acho que tem umas cores diferentes que vão mais para o soul. E disse-lhe: “Olha, Guilherme, eu gosto muito da tua voz e adorei o processo do ‘Painting by Numbers’, por isso bora fazer mais”. E ele entra em quatro temas deste disco! O único que não foi feito totalmente a meias foi o “Luz” porque estávamos confinados e, lá está, eu fiz o instrumental em casa, mandei, ele colocou a voz e mudei muito pouca coisa depois.

Uma coisa interessante nestes convidados todos é que sinto que eles marcam uma variedade e uma união de culturas e de estilos. Tinhas isso em mente quando os convidaste, essa ideia de criar uma união de culturas?

[Risos] Eu fiz os temas para/com os convidados, ou seja, ou começámos do zero juntos, ou fiz já a pensar neles. Eu quis fazer uma espécie de pano de fundo, ou uma casa em que eles se identificassem, não é? E acho que não há nada mais individual que a nossa cultura. A cultura de um povo é a soma das suas sensibilidades e a nossa cultura é muito complexa e muito rica. Tem muitas sensibilidades diferentes, muitas sub-culturas e matrizes diferentes dentro do único guarda-chuva da música portuguesa. É um conceito muito complexo. Tem de ser música cantada em português? Não, para mim não. Tem de ser música feita por portugueses? Não, para mim não. Tem de ser música feita em Portugal? Não, mas há um qualquer sentimento aglutinador. Para mim, foi importante criar um ambiente onde o convidado estivesse confortável. Se calhar foi um exercício do meu subconsciente integrar as cores da cultura deste convidado no meu instrumental, mas de uma forma que sinto como sendo minha. No caso deste disco é a ausência de cor. [Risos]

Sentes que este é um álbum de redescoberta?

Sem dúvida. Para mim foi um processo muito pessoal, um processo em que me desafiei a ver-me livre de muitos dos tiques que já tinha enquanto produtor. Eu fiz três discos em que, como muito bem disseste, a festa era constante e não me sentia confortável se fizesse um quarto em que a festa estivesse lá da mesma forma. Para mim era um desafio importante, mesmo que falhasse no processo. Não te falo cheio de certezas que este é o meu melhor disco, mas sinto que é o disco com o qual me identifico mais. Por isso, para mim, é o meu melhor disco, no ponto de vista que é o mais honesto, em que aprendi mais e que cresci mais como pessoa e como produtor e músico. Acho que foi um desafio enorme, saí muito da minha zona de conforto, obrigou-me a sair do disco e do funk. Foi muito importante para mim conseguir chegar ao fim de algo que me deixava tão inseguro.

Lembro-me quando apareceram as primeiras produções de Moullinex, ainda antes mesmo do lançamento do Flora, eras visto como algo extremamente fresco na música electrónica nacional. Não havia artistas a fazer propriamente o teu som ou pelo menos a ter essa visibilidade mais mainstream. Agora que já vais no teu quarto disco, como é que olhas para a música electrónica em Portugal?

Muito sinceramente, vou avaliar isto à luz da pré-pandemia, claro, porque neste momento o ecossistema está todo em causa. Nós fomos o primeiro sector (sobretudo o da música electrónica) a fechar e vamos ser dos últimos sectores a reabrir em pleno, portanto estou para ver o que sobrevive, mas a electrónica em Portugal estava de muito boa saúde, estava a gostar muito de ver desde o underground até ao mainstream, os géneros e os sub-géneros e as sensibilidades todas a comunicar entre si e a contaminarem géneros ortodoxos como o fado e a música experimental. Temos labels óptimas a acontecer e muitas delas até a acontecer à margem dos circuitos óbvios como é o de Lisboa, seja em Leiria, Covilhã, Braga…. Há muitos esforços locais de promover este underground da música electrónica. Eu, às vezes, sou entrevistado para meios de outros países e muitas vezes sou categorizado como electro, e acho que em Portugal há uma grande sensibilidade para o que é o house, o que é o hip hop, o que é o tarraxo, músicas de sintetizadores usada no jazz ou no experimentalismo. E isso deixa-me muito feliz, ver essa polinização cruzada dos géneros. Fico muito contente por ver as gerações mais novas a estar muito atentas ao passado, mas não com respeito a mais.

Com isso fizeste-me lembrar da “Running In The Dark”, que tem aquele feeling meio breakbeat, que é algo que há muito não escutava na eletrónica mais popular, mas lembro-me de que no ano passado, por exemplo, nomes como o Four Tet ou Special Request editaram temas com um feeling idêntico. Achas que isso está a entrar novamente em voga?

Para mim isso é muito interessante porque as minhas primeiras paixões na electrónica foram Squarepusher, Amon Tobin, Aphex Twin, U-Ziq, Venetian Snares e, claro, Prodigy e Chemical Brothers, não me podia esquecer deles. Eu vinha de uma costela mais experimental do rock e foi pela costela mais experimental da electrónica que me apaixonei primeiro. Por isso, é um pouco um regresso às origens de uma forma que me soe respeitadora do passado, mas também a fazer coisas novas. Efectivamente, tudo o que está a acontecer na música mais 4/4 fez-me sentir um pouco desinspirado. Tivemos aquela fase do EDM, mas que não me interessou muito e estamos agora a passar por aquilo que chamam o business techno, que é muito desprovido do sentido de comunidade e do lado transformativo da música de dança. Acho que o trabalho fora do mainstream estava a influenciar-me muito mais no processo.

O Four Tet também é uma grande paixão inicial, lembro-me que o Rounds e o Pause foram CDs que até os gastei de tanto tocar de um lado para o outro, e é um artista que sempre admirei muito pela sua capacidade de se reinventar, nunca perdendo a sua identidade, mas sendo sempre contemporâneo. Isso, para mim, é o maior achievement e é algo que, à minha escala, tento sempre fazer. Não ficar refém do passado. 


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