Como o blockbuster que é, MONTERO foi apresentado com o devido trailer hollywoodesco esta quinta-feira. O álbum de estreia de Lil Nas X sai no dia 17 de Setembro com a chancela da Columbia Records.
Composto por 15 faixas, o projecto que sucede ao EP 7 (2019) já tem três singles cá fora: “MONTERO (CALL ME BY YOUR NAME)“, INDUSTRY BABY” — tema com participação de Jack Harlow — e “SUN GOES DOWN“. O primeiro avanço mereceu atenção particular de Pedro João Santos, que já tinha escrito sobre Nas X em Junho de 2019, na edição de Março passado da #ReBPlaylist:
“Em 2021, a meio de uma pandemia, precisávamos disto? De um homem negro a acompanhar um – levíssimo como uma brisa de Verão, ‘flamenqueado’ e ribombante q.b. – tema pop com um teledisco maximalista, gabarito Hype Williams/MTV nos anos 90, em que o protagonista escorrega por um varão (como numa audição do Hustlers 2) para aterrar no colo de um Lúcifer musculado – e lhe roubar o título como majestade infernal?
Sim.
Precisávamos.
Para cada fenómeno pop minimamente trangressivo, como nota Craig Jenkins, há uma madalena ofendida e a sua turba. Podemos passá-las em revista, que são bem giras: aquelas que, instadas por Prince e a sua ‘Darling Nikki’, inventaram o selo ‘Parental Advisory’; as forças que interditaram a venda do obsceno CD dos 2 Live Crew; os odiosos, homofóbicos (transfóbicos, islamofóbicos, antissemitas também) “católicos” da Westboro Baptist Church a boicotar um concerto de Lady Gaga; o formigueiro do canal FOX News acirrado por uma ‘WAP’ a transbordar.
Pois que se levante a afronta conservadora contra Lil Nas X – em contrapartida, é provável que as rádios encham a barriga com este manifesto de um rapper que não tem que escolher entre o sucesso comercial e a abertura sexual. E, mesmo que a canção não seja o evangelho pop que se pudesse esperar a seguir a ‘Old Town Road’, este é um homem negro nos palanques a poder ser franco sobre a sua sexualidade. Basta pensarmos em como ainda só se passaram nove anos desde a carta de Frank Ocean – e os desenvolvimentos têm sido poucos. Coragem para este cowboy.”
“Criar este álbum tem sido terapêutico para mim”, disse o rapper americano em comunicado. “Aprendi a deixar de tentar controlar a percepção das pessoas sobre quem sou, o que posso fazer e onde vou estar. Eu percebi que a única opinião sobre mim que realmente interessa é a minha”. Daqui a menos de um mês, o mundo vai ver o resultado dessa sua nova maneira de estar e ser.