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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 31/01/2021

Eternizar o vilão em tons de púrpura.

Monster Jinx faz enorme vénia a MF DOOM em MJ DOOM

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 31/01/2021

A Monster Jinx reuniu as tropas para a compilação MJ DOOM, uma grande homenagem ao malogrado rapper e produtor MF DOOM.

Provavelmente a maior vénia feita por artistas portugueses ao eterno vilão do hip hop que vão poder ouvir, MJ DOOM convoca uma larga percentagem dos militantes da turma roxa e serve-nos remisturas, covers e outras deambulações em torno do legado deixado por Daniel Dumile, com assinaturas de DarkSunn, Stray, NO FUTURE, Vasco Completo, Maria, M.A.F., Arekkusu, Raez, OSEB, Don Pie Pie, Liquid, Sh33p, E.A.R.L. e Saloio.

Há três semanas, ainda na ressaca da notícia que selou um assombroso ano de 2020, DarkSunn destacava os traços que a sua Monster Jinx adoptou do herói do indie rap numa breve conversa com o ReB:

“A valorização da mística e mitologia foi fundamental para a Monster Jinx. Sem DOOM, a Jinx não seria como é, seria diferente. A ideia de um Monstro — o Jinx — que lidera a label é similar à ideia da máscara: toda a gente pode ser o DOOM, o que interessa é a máscara e, consequentemente a música, e não o que está por trás dela. Propriamente, Monstro Robot é a brain child da ideia do poderes rimar sobre cenas geeks, sobre cultura popular, sobre os cartoons que vias enquanto comias os cereais ao sábado de manhã, sobre anime, godzilla e os seus vilões, sobre Star Wars. Sem DOOM seria difícil — talvez impossível — existir Monstro Robot como existiu e a Jinx seria algo completamente diferente do que é.”

Desta vez falámos com todos os intervenientes que deram o seu contributo a MJ DOOM, procurando perceber a importância do criador com a Metal Face nos seus respectivos trajectos.



[Arekkusu]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Não me lembro ao certo, mas provavelmente na altura em que andava a consumir muito Madlib e J Dilla. Foi muito provavelmente quando me deparei com Madvillainy pela primeira vez e daí foi meio caminho andado para andar a vasculhar todas as faixas do DOOM. 

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

Em particular a sua voz e flow, muito viciante, mas sem pôr de parte o que ele é a nível de beats e os projetos todos que tem lançados.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Para ser sincero, não. Na minha opinião, os dois combinam-se e agregados a outros valores tornam-no no excelente artista que foi.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Não consigo dar um top 5 mas no meu top de álbuns favoritos estão sem dúvida o Madvillainy e o álbum que contém a “Doomsday”. Já lá vão uns anos e volta e meia estou sempre colado nessa faixa. 

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

A faixa é basicamente umas das faixas que mais gosto do DOOM. Usei a SP-404SX para samplar do iPhone os samples originais que a música contém, em particular o som da Sade. Depois adicionei alguns efeitos e samplei de novo para a MPC One. Na MPC One foi onde se deu todo o processo criativo e no final usei a SP-555 para samplar a track da MPC One e adicionar mais alguns FXs.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

J Dilla.



[DarkSunn]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Foi à volta do ano 2000/2001, com o Operation Doomsday. Apareceu-me meio do nada, num fórum qualquer e eu achei o nome engraçado pela ligação com os comics.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

Comecei a prestar atenção ao DOOM devido especialmente à sua faceta de MC. A inteligência patente no que ele escrevia, a forma como ele o dizia e o grau cómico das dicas puxou-me imediatamente. As faixas serem todas pequenas, as métricas, o obrigar-me a voltar a track atrás. As referências ao Dr. Doom e a toda a sua ideia de vilão puxaram-me também, o que eventualmente levou a que eu tropeçasse no seu universo e ficasse completamente submerso.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

São indissociáveis na minha opinião. Podemos ter visto o DOOM a produzir para outros, ou a rimar em beats de outros, mas a junção dos dois era única. A forma raw como produzia, pouco polida, a escolha das fontes dos samples, juntando-se às métricas, assunto… Era a conjunção perfeita: a melhor tela para o DOOM pintar os quadros vívidos que só ele sabia fazer.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Antes de mais e acima de tudo, os DOOMposters. Segundo, o seu Universo. E agora faixas sem ordem específica: “All Caps”, “Can I Watch”, “Trap Door”, “Old School Rules”, “Next Levels” e podíamos ficar aqui a noite toda.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Usei uma acapella bootleg da “All Caps” com um twist: não usei da faixa original, mas sim do remix do Madlib. Sobre o beat, a faixa original usa um sample do genérico do Ironside, programa de TV do final dos 60s. Fui buscar a theme song desse mesmo programa, de autoria do rei Quincy Jones – muito conhecida pela sua utilização num filme do Tarantino — e samplei algumas peças ao longo da faixa para tentar compor algo sujo e raw o suficiente para que não destoasse da voz do Metal Finger Villain (e que não ofendesse o instrumental lendário do Madlib).

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Antes de qualquer outro, foi freestylar com o Subroc.



[E.A.R.L.]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Não sei precisar o ano, mas talvez tenha sido por volta de 2010. Lembro-me que foi num daqueles grupos de Facebook “Hip Hop / Rap”. Alguém postou esta faixa (“Gas Drawls”) de um MC cuja capa do álbum era completamente diferente de todas as de rap que alguma vez tinha visto. Percebi que se tratava de alguém “à parte”. Até hoje, Operation: Doomsday é um dos meus álbuns favoritos DE SEMPRE.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

Penso que começou pela ilustração. Mais tarde comecei a perceber melhor a música, mas começou pela ilustração. Achei maravilhoso alguém ter aproveitado o vilão de comic books para criar o seu personagem à volta daquela imagem. Só mais tarde entendi o propósito. A partir daí, entrei na música, que, por todos os motivos, é um universo a explorar. A produção raw e agressiva, mas não violenta, tinha tudo para me agradar, com drum breaks repletos de ruído, samples fora do comum, muito para além daquilo que dentro do mundo do hip hop estamos habituados e letras bem estruturadas mas com um comic relief. DOOM é um universo á parte.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Ponho os dois no mesmo patamar, pois DOOM tinha um grande sentido de humor (verificado nas entrevistas), então conseguia transpor com excelência o sentimento indicado em cada instrumental, cada verso. Sendo produtor, adoro identificar os elementos alienígenas, breaks, cortes em cada um. Os samples de séries animadas, de filmes clássicos, mas, ao mesmo tempo, de um núcleo específico. Não descuro as letras, cheias de humor e referências aos mesmo que mencionei anteriormente mas também bastante egocentrismo sem ser chato ou cliché, com o propósito de dar ênfase ao seu personagem. “He wears a mask just to cover the raw flesh/ a rather ugly brother with a flow that’s gorgeous”.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

“Gas Drawls”, “Hands of Doom”, “Monkey Suite”, “Beef Rap” e “Hoe Cakes”.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Como referi anteriormente, “Gas Drawls” foi a faixa de DOOM que me chamou a atenção. Decidi recriar a partir do sample e não da música original por já estar no seu estado “quadrado” e também por estar a dedicar mais tempo às teclas e à teoria musical. Quis dar-lhe um tom mais claro e funky pois foi a sensação que me deu na altura que a ouvi pela primeira vez. O modern/synth funk é algo que me conforta e traz boa energia. Abordei a minha faixa por aí. Para as drums usei instrumentos samplados de uma TR808 com uma clap extra de LinnDrum. Usei VSTs para fazer o resto: as keys vêm de um simulador do Fender Rhodes e a atmosfera de um VST mais recente. Moog Bass e Lead vieram do mesmo VST que contêm inúmeros sons que emulam os clássicos dos 80s. Retirei ainda samples vocais tanto da música original de onde vem o sample como da faixa de DOOM, pois me marcaram bastante.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Imagino um cenário onde DOOM já está com o seu irmão, Subroc, encontram-se com J Dilla e juntam forças com Sun Ra, Miles Davis, Alice e John Coltrane para uma super produção. Que filme incrível!

R.I.P., Daniel Dumile!



[Liquid]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

O meu primeiro contacto foi por volta 2012/2013.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

A primeira vez que ouvi MF DOOM achei algo super diferente, a sua energia, a própria sonoridade enquanto produtor e rapper. Métrica e estética sonora foi o que me agarrou logo à sua música. As atmosferas diferentes que se encontram nos seus temas, tanto densas e escuras como também quentes e aconchegantes, por vezes até ácidas.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Acho que todo o seu trabalho converge em algo único e perfeito.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Não é uma seleção fácil, por isso vou lançar um pouco à sorte: “Batty Boyz”, “Phantoms”, “Rainbows”, “Rap Snitches” e “One Beer”.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Sempre gostei muito daqueles separadores icónicos entre faixas, interlúdios e pormenores que ele utilizava, acho que tentei recriar um pouco do seu universo focando-me nesses aspectos.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Essa é fácil: J Dilla.



[M.A.F.]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Por volta de 2002 com o Doomsday.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

Em primeiro lugar, toda a carga estética associada com a personagem MF DOOM. O mistério do homem da máscara, uma persona que sendo de reminiscente do Dr. Doom da Marvel apresentava um forte carisma. Na altura era um ávido colecionador de comics, naturalmente suscitou a minha curiosidade. O som mais cru distinguia-se daquilo que o mainstream apresentava e os conteúdos eram densos, carregados de referências que nunca tinha pensado ouvir no rap. As músicas obrigavam a ouvir uma e outra vez, como quem lê um livro repetidamente para interpretar figuras de estilo e intenções, ou como um filme que te obriga a visualizações repetidas. Nunca tinha sentido isso na música.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Penso que são aspectos indissociáveis, a soma das partes faz o todo. O instrumento serve a arte e não o contrário. Qualquer artista almeja a ter esse nível de identidade nas criações, sejam elas quais forem. Quando tens uma forte intenção artística o meio não importa.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Sem ordem específica: Operation: Doomsday, Vaudeville Villain, Take Me to Your Leader, Black Bastards e Madvillainy. Menção honrosa para o Christmas With Doom em 2006 na Adult Swim.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Usei a “Rap Ambush” do Born Like This (2009) e uma entrevista feita ao próprio Daniel Dumile. A minha abordagem foi tentar criar um ambiente agressivo que sinto que a mensagem pede. Optei por trabalhar o sound design para explorar esse lado mais denso e pesado usando distorções e saturações out of the box. No final dei um twist mais calmo e etéreo, samplei uma entrevista em que MF DOOM nos fala sobre o amor pela música e pela criação.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Acredito que terá uma conversa com o George A. Romero. Gosto de pensar que poderão colaborar para a rodagem de um zombie movie, Doomsday, claro está.



[Maria]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Não me recordo do momento exacto, tenho ideia de ter sido uma coisa gradual. Mas tenho ideia que o primeiro disco que ouvi terá sido o Madvillainy.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

A Stones Throw. Eu conheci primeiro o universo da Stones Throw e posteriormente MF DOOM. Mas a particularidade do DOOM que me chamou alguma atenção foi o timbre de voz. Eu sou produtor e quando comecei a ouvir rap tinha muita dificuldade em entender o inglês falado, mas o timbre do DOOM é muito particular.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Não sinto que essa relação possa ser dissociada uma da outra, as personagens (às vezes com alter-egos ligeiramente diferentes como é o exemplo de Metal Fingers) são compostas pelas mesmas características, embora sejam disciplinas diferentes o principio é o mesmo: servir ideias.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Não tenho um top 5, mas a minha edição preferida é o Special Herbs: Vol. 9 & 0.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Como disse anteriormente, o Special Herbs: Vol. 9 & 0 tem um tema chamado “Orris Roots Powder” (que posteriormente foi abordado num disco de Masta Ace chamado MA Doom: Son of Yvonne que usa beats desse volume de compilações) que tem um sample bastante conhecido que eu já gostava de ter abordado, e foi esse o meu mote, o acapella do Masta Ace e o sample de “Boca do sol”. Sonicamente, back to basics: quatro sequências de loop, não ha chops, baixo filtrado, dois drum breaks, poupar os recursos; o que vale é a ideia.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Não acredito na “5ª dimensão”. E mesmo se existir uma passagem para além da carne, não a vejo como uma representação do mundo físico como o nós conhecemos. Talvez uma grande nuvem de fumo verde proveniente de Special Herbs.



[NO FUTURE]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Não consigo precisar quando e como, mas especialmente para qualquer pessoa que tenha o hip hop como background, MF DOOM é um nome incontornável.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

A sonoridade gritty cruzada com o knowledge nas letras e, claro, toda uma persona envolta em misticismo e curiosidade muito próprios da identidade do MF DOOM.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

São duas formas de expressão diferentes e considero não haver uma comparação. MF DOOM cravou a sua identidade em ambas.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

“Vomitspit”, “Kon Queso”, “Doomsday”, “One Beer” e “Fazers”.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

A partir de um acapella, fui cortando e colando, experimentando sonoridades e ver o que poderia criar a partir daí. É sempre um processo desafiante mas muito livre, respeitando a identidade do artista mas mantendo-me fiel às minhas ideias.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Esteja ele em que dimensão estiver, nós aqui na 3ª dimensão iremos continuar a preservar o conhecimento e a música que ele nos deixou. “All caps when you spell the man name”.



[OSEB]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Não tenho a certeza mas tenho a sensação que foi no fórum da Jinx algures entre 2009-2010 (RIP). Sei que só mais tarde é que “diguei” pela discografia toda, por volta de 2013.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

A pergunta diz tudo, foi o próprio “universo DOOM”. Quando comecei a ouvir fiquei logo intrigado pelas colagens do seu universo fictício e das suas sobreposições com o mundo real. Parece que és puxado para dentro de uma BD. Depois desse primeiro impacto tens sempre algo novo para descobrir e como eu sou preguiçoso tive muitas pérolas ao longo dos anos.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Não sei se sou a pessoa mais qualificada para fazer este  tipo de julgamento, mas acho que o lado de MC supera o de produtor. Eu não me apercebi logo, porque sou aquele tipo de ouvinte lazy (desculpem, rappers reais). Primeiro é o feeling/vibe e o beat, e, se eu ainda estiver interessado, oiço com atenção o que estão a dizer, ahahah. O que muitas vezes se traduz em desilusão. No caso de MF DOOM é ao contrário, é estar de boca aberta ou rir daquela piada que não apanhaste enquanto scrollas as lyrics

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Não sei se consigo dizer por faixas, porque ouço quase sempre os álbuns dele por inteiro (o que faço cada vez menos com novos artistas). Eu adoro o Mm…Food, foi o que colei primeiro. O Madvillainy é o Madvillainy. Por fim, talvez menos consensual, o Vaudeville Villain. É dark, gritty e tem uma força diferente, não sei explicar. E aqueles beats? Weird AF, adoro.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

No início estava a pensar refazer uma faixa que adoro, a “Deep Fried Frenz”, mas sabia que nunca ia conseguir aquela vibefake happy“. Não querendo destruir a essência desse som fui à procura de umas acapellas e diggar samples usados, para ver se conseguia fazer algo com algum sentido. Quando me deparo com a “Let Me Love You Down”, dos Ready for the World, que ele altera no início da “Great Day”, fez-se luz! Era perfeito, aquela cornyness de juntar a referência com o DOOM num dueto, numa cena leve e engraçada. Pode parecer corny, mas estava mesmo a imaginar o DOOM numa viagem para o além a cantar a “Great Day”. Para contrastar decidi juntar ao corny um corte repentino e um beat mais pesado, psicadélico e sample based, onde sobressaísse o flow, até porque… “All that really matters is if your rhymes was ill/ Girl, that’s all that really mattered to me, oh baby”. Não costumo samplar desta maneira mas foi a minha pequena homenagem ao craft.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Se o Lord Quas existir como ser independente nessa dimensão, quero que eles se juntem e tragam o caos.



[Raez]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Por volta de 2006/2007.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

A primeira impressão e a mais óbvia é a curiosidade que a própria personagem desperta em quem se depara pela primeira vez com o seu universo. 

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

É sempre uma questão ingrata, e sendo eu produtor, por incrível que pareça, consigo ter mais admiração por aquilo que não é a minha área, o lado MC. Não menosprezando o outro lado, acredito que o DOOM pensasse primeiro a letra/tema e o beat surgisse depois como complemento à atmosfera que ele quisesse transmitir.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

“Figaro”, “Accordion”, “Monkey Suite”, “Gas Drawls” e “Next Levels” (sem ordem específica).

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Comecei por samplar a mesma faixa que o DOOM samplou (Billy Butler – “400 Girls Ago”) mas utilizei chops de diferentes partes da música. Durante o processo deixei-me levar para o lado mais funk, adicionei uns metais, e terminei com um excerto da RBMA Lecture de 2011.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Dilla, Sun Ra, Ras G, Tony Allen, Alice Coltrane; consegues imaginar esta MF Arkestra?



[Saloio]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Não consigo remontar o momento exacto em que o ouvi pela primeira vez, muito provavelmente terá sido com o meu irmão a pesquisar música no seu quarto e eu (ainda na minha pré-adolescência), a chateá-lo para brincar comigo e os meus brinquedos, como era o meu papel de um bom caçula. Já uns anos mais tarde, na altura em que terminava o ensino secundário, o meu primo partilha comigo uma música chamada “Rapp Snitch Knishes”, e logo então fiquei embasbacado com tudo, tanto com o Mr Fantastik (até aos dias de hoje não sei quem realmente ele é) bem como o MF DOOM pela sua voz densa e carregada de um lirismo vanguardista totalmente novo para mim, aliado sempre à sua máscara misteriosa, o seu vínculo de marca, que despertava uma maior curiosidade em conhecer todo esse amplo mundo do “Vilão”. É uma das músicas, particularmente pela melodia de guitarra, que me deixou intrigado a indagar mais sobre a cultura do “sampling”.  

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

A curiosidade em saber a razão pelo o qual utilizava a máscara, sendo essa alusiva à de “Doctor Doom”, o principal antagonista nas BD do Quarteto Fantástico que gostava muito de ver animado na televisão. Nunca tinha visto ninguém ou pelo menos que me lembrasse, assumir o papel de “Vilão” e representar esse lado “infame” e “oculto” na música. 

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Há uma parte da sua discografia que não conheço tão bem, principalmente os instrumentais, mas acredito que em grande parte o caminho de MF DOOM como MC e produtor foi indissociável. Participou como MC em muitas das suas produções, e mesmo com os diversos alter-egos criados, é possível identificar o cerne identitário inerente em toda a sua obra.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

“Meat Grinder”, “Rapp Snitch Knishes” / “Coffin Nails”, “Accordion”, “One Beer” e Vaudeville Villain.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

“Meat Grinder” (Don Pie Pie) — Foi a escolha óbvia para nós, é uma música que os três gostamos muito e que ouvimos recorrentemente, principalmente a versão de Abstract Orchestra. Antes de a gravar fizemos um arranjo instrumental para tocar ao vivo nos dois concertos que demos no início do ano. Devido às novas regras do estado de emergência, cada um gravou a sua parte em casa excepto a bateria que já tinha sido gravada na nossa sala de ensaio. Tentámos manter a crueza do beat original e transpô-lo para a nossa banda. Ambas as guitarras e teclas estão ligeiramente distorcidas o que torna a música mais cavernosa.

“Accordion” (Raez & Stray) – Eu e o Stray escolhemos a mesma música então achámos por bem unirmos essa vontade. A abordagem foi simples, peguei na guitarra e recriei a melodia do “sample” (Daedelus – “Experience”), utilizei também o sample original para manter como referência, adicionei teclas para dar alguma textura e por fim gravei um baixo subtil com um pedal octaver na guitarra. O Raez foi fundamental com o seu contributo, ficou a cargo da mistura e criou o beat que ajudou ainda mais a voz a sobressair, porque a ideia era mesmo essa, tentar fazer jus ao original com a letra do Stray, que por sua vez homenageou barra a barra este acordeão.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Numa realidade alternativa com o Ol’ Dirty Bastard seria incrível, ou num possível purgatório a fazer das suas para voltar à Terra.



[Sh33p]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Com o Liquid. Nas viagens para os concertos de DPP ele punha a dar imensas vezes a “Meat Grinder”, ficava imenso na cabeça. Já queríamos fazer cover dessa música há muito tempo. Pena que tenha sido nesta circunstância.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM

O ardor que a Jinx sente por ele. Ainda o estou a descobrir!

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Too soon to tell.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

Too soon to tell x2.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Usei a “Coffin Nails”, o meu piano cá de casa e o Omnisphere. Tenho perfeita noção que sou o mais maçarico no universo do DOOM aqui no pessoal da MJ, e por isso ao começar fiz uns takes no piano e mandei ao resto do pessoal para ter opiniões. Chegámos à conclusão que seria a música de entrada e isso deu-me a direção que a música tomou, que foi o sentimento nostálgico de saber que algo muito grande acabou, mas com a calma que as memórias deixam. A partir daí procurei que a musica abrisse a porta ao sentimento da homenagem que aí vinha…

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Na 5ª dimensão, ele e o Dr. Doom fazem fusão!



[Stray]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Por volta de 2001-2002. No entanto, foi apenas com o lançamento do Take Me to Your Leader, de King Geedorah, em 2003, que me tornei num verdadeiro fã. Na altura estava muito atento aos lançamentos da Big Dada, também pela associação à Ninja Tune e, felizmente, tive acesso a esse disco. E acho que o amor profundo pela obra do Vilão se solidificou com os lançamentos de 2004.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

Para lá da destreza lírica, há um factor mais pessoal que me puxou muito: o DOOM conseguia trazer para dentro do hip hop referências típicas de um outsider, coisas que também me interessavam, mas sem deixar de ser inequivocamente hip hop. Digo isto sobretudo fazendo o paralelismo com outros rappers contemporâneos que, apesar de também o fazerem, não pareciam, à época, manter a mesma solidez nos cânones que o Vilão conseguia.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Acho que não. Para mim, o DOOM é um dos raríssimos casos em que o skill num campo só parece alimentar o outro.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

“Kookies” do MM.. Food, “A.Q.H.F.” de DANGERDOOM, “The Fine Print” de King Geedorah, “Accordion” de Madvillian e “That’s That” do Born Like This.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

Eu tive a sorte de poder rimar na reinterpretação do instrumental da “Accordion” impecavelmente conseguida pelo Saloio e pelo Raez. A minha abordagem para este tema foi completamente nova para mim: pela primeira vez, não tentei somente criar rimas da minha perspectiva mas sim encarnar uma versão minha de outro MC. Com as rimas originais do DOOM como ponto de partida, tentei criar uma composição que mantivesse uma grande parte das mesmas referências mas que me permitisse explorar os meus próprios caminhos. De certa forma, tentei localizar o DOOM, criando uma versão portuense e que habita em mim, mas que continua a ter os olhos do Vilão — MF Rafeiro. Acho que a parte mais interessante para quem ouvir será mesmo comparar a letra original e a minha rendição.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Acho que antes de procurar músicos, o DOOM iria primeiro conversar com o Stan Lee para o convencer a colaborar com ele.



[Vasco Completo]

Quando é que tomaste pela primeira vez contacto com a música de MF DOOM?

Terá sido durante o secundário, salvo erro. Eu cheguei ao universo hip hop relativamente tarde, mas recordo-me que o Madvillainy foi dos primeiros discos desse estilo que ouvi — o Alexandre Ribeiro [sub-editor do Rimas e Batidas] e o Stairstep (produtor) disseram-me que era “inovador” e “obrigatório”. Concordei à primeira escuta. Mais tarde fiquei a conhecer o lado da sua produção com o Operation: Doomsday e o MM…FOOD e fui-me conectando cada vez mais com o que fazia. É único.

O que é que te puxou particularmente para dentro do universo de DOOM?

Tudo o que rodeia o Dumile é fascinante. Toda a persona por trás da máscara, o mistério e a inexistência no mundo tão hiper-conectado nas redes sociais, sem nunca deixar de ser uma figura incontornável na música dos últimos 20 anos. Mas o mais importante foi sem dúvida a individualidade nos flows, nos temas que aborda quando rappa, e a voz.

MF DOOM era um MC singular e um produtor igualmente distinto, com skills avançados em cada um desses muito diferentes departamentos. Achas que um dos lados de DOOM superava o outro?

Não creio que superasse, porque tinha muitos pontos fortes e muita individualidade na maneira de criar nas duas vertentes. Não obstante, diria que a sua voz será sempre mais marcante do que a sua produção, e estará num panteão bastante mais selectivo.

Top 5 pessoal das criações de DOOM?

1º “Rhinestone Cowboy”, 2º “Accordion”, 3º “Doomsday”, 4º “Figaro” e 5º “Operation Lifesaver aka Mint Test”.

Fala-nos sobre a faixa em particular sobre a qual trabalhaste: qual foi a tua abordagem, o que é que usaste para a criar?

A escolha foi imediata, porque é a minha música preferida dele, mas não foi a mais sensata, porque não encontrei nenhum acapella da “Rhinestone Cowboy”. Tive de trabalhar apenas com a original. O beat sozinho era relativamente fácil de trabalhar, mas era obrigatório a voz aparecer: isto é sobre o MF DOOM. A primeira ideia foi pegar naquele glide agudo que marca o original do beat do Madlib. Depois optei por adaptar um pouco a harmonia e gravá-la em piano e guitarra. A partir daí fui experimentando com partes do instrumental e com momentos da voz do DOOM e inevitavelmente cheguei a esta estrutura mais ou menos bipartida. Há algumas cordas, outras camadas de sintetizadores ou samples e guitarras muito alterados para tentar dar alguma força emocional à ideia. Mas, além disso, veio tudo da harmonia e de samples da original. Aproveitei e cortei a frase “for the decades to come”, que achei profética; “You heard it on the radio, tape it/ Play it in your stereo, your crew’ll go apeshit” passou a fazer mais sentido com este lançamento.

Chegado à 5ª dimensão, com quem foi DOOM ter imediatamente e com quem estará ele agora, de máscara posta, pois claro, a colaborar?

Dilla e Hendrix, à partida. Mas é claro que ele está só à espera da Sade para fazerem o álbum perfeito, não é?


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