Na segunda parte da Season Impulso 2024, o festival mais alternativo das Caldas da Rainha reúne 12 nomes até ao final do ano. A primeira leva de concertos, que teve lugar ontem, dia 27 de Setembro, abriu com Mønção, a “superbanda” de Surma, Tiago Bettencourt e TOMARA, criada no seio de uma residência artística propulsionada em 2019, na segunda edição do Impulso, e trazida de volta à vida no festival que a viu nascer.
A noite arrancou no Centro Cultural e Congressos com o trio estrategicamente colocado no centro da sala com o público acomodado em seu redor. Ali brilhavam as cores dos synths e dos pedais, num pisca-pisca de vibrações sónicas desprovidas de obrigações e cânones. A experimentação como comunhão, a exploração como ressurreição e a surpresa de três artistas diferentes poderem ter como confluência artística o içar da bandeira da liberdade. Uma compenetração absoluta no mundo criado para eles e partilhado então connosco. Um mundo pequenino e colorido onde a electrónica ambient experimental faz gritar cordas e sussurrar vozes como instrumentos. O deleite da entrega numa etérea e apaixonante partilha.
O tempo urgia para que as badaladas do segundo concerto não batessem antes da descida até aos Silos, onde se preparava aquela que seria a actuação mais suada da noite. Há um calor característico nos Baleia Baleia Baleia. Não é só dos seus corpos quase desnudados inundados em suor e feromonas, mas do seu público sempre banhado no fulgor líquido que o rock lhes faz escorrer pelos corpos incansáveis. Os saltos, as letras em coro e o “mosh fofinho” como o vocalista Manuel pediu, para que todos possam partilhar o espaço e para que todos possam estar perto, o mais perto possível. Nós diante deles, eles no meio de nós. Às vezes questiono-me de onde vem tanta garra de apenas duas pessoas em palco, mas é melhor sentir do que pensar. Não deixar o racional atropelar o emocional e permitir que todas e cada uma dessas emoções possa pulsar corpo afora. Purgar todos os “deixa passar” para que nenhuma angústia fique sem porta de saída, repudiar o ego do “Egossistema” e trocar todos os gatinhos no ecrã por um concerto, porque os Baleia Baleia Baleia têm “bueda amor para dar”.
A fechar a noite nos Silos, a nova dupla sensação abençoada pela Maternidade. Girls 96 é o nome do projecto fresquinho, cheio de vida e vontade, onde Paloma e Ricardo falam sobre inseguranças, noites e relações. É uma pop electrónica divertida e descontraída a abarrotar de juventude, capaz de fazer borbulhar uma sala só com a força dos sintetizadores. Se há uns meses atrás Girls 96 davam um concerto tímido na Sala Lisa, em Lisboa, agora pelas Caldas cravaram os passos da emancipação com um espectáculo maduro e confiante. E a audiência, rendida aos sintetizadores palpitantes, conseguiu ainda sacar um encore. Daqueles verdadeiros, onde a banda diz que não tem mais músicas — e não tem mesmo. Que se lixe, “Ainda Importa” e “Bonita” valeram uma recepção ao quadrado. E deixaram vontade para mais.
O Impulso volta a atacar no dia 18 de Outubro com Rod Krieger, Estilhaços e Broken Fingers. A 23 Novembro haverá LEIDA, Arapucagongon e Lian:e. E para finalizar o ano Memória de Peixe, Carolina Miragaia e Fuensanta, a 14 de Dezembro.