[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Direitos Reservados
No meio do campismo do MEO Sudoeste, um pequeno oásis de novos projectos de música de intervenção social ergueu-se com o alto patrocínio da Santa Casa. Nos primeiros três dias da segunda edição deste mini-festival dentro de outro festival, XEG e Francisco Rebelo (Orelha Negra, Fogo Fogo e Cais Sodré Funk Connection) apresentaram nomes como Mynda Guevara, SXR, Del Tó ou Manifes7o na Vila Santa Casa. A correria dos festivais afastou-nos dos dias 8, 9 e 10, mas a escassez de nomes do universo Rimas e Batidas no dia 11 permitiu que marcássemos presença na curadoria assinada por Capicua.
Os artistas que viajaram do Porto para a Herdade da Casa Branca são uma espécie de “dream team“, palavras da autora de Sereia Louca, formada por membros de todas as edições da OUPA!. Com D-One a disparar instrumentais e scratch, a turma não se encolheu perante um público que estava mais preocupado em descansar. É compreensível: o corpo já se começa a ressentir depois de tantos dias no acampamento e o foco principal será sempre o que se passa à noite.
Mesmo com um cenário nada propenso à festa, DOC, Bonaparte, Drunk Nigga, Bonaparte, Mónica Guedes, Joca, Ricardinho, LS e Lucas Garcez não recusaram o desafio e atacaram beats que puxaram a melancolia do fado, mas também a celebração com ginga cubana e africana e com uma pausa curta no trap vindo directamente de Atlanta. A “alma” da única mulher em palco segurou as tropas que tiveram em Garcez o grande destaque — curiosamente, o MC entrou no último videoclipe de Fuse. Se o nível de todos os participantes se mantiver no disco que aí vem, estamos perante um caso sério que não deverá nada a projectos de artistas com créditos firmados.
Tal como Lil Pump, mas obviamente numa dimensão bem mais pequena (Portugal ainda não é os Estados Unidos da América), YUZI teve um dos crescimentos mais velozes do universo musical português — lançou a primeira música em Fevereiro de 2017 –, sustentando-o com bangers que citam o drill e o trap mais nocivo e carregado de graves.
No palco LG do MEO Sudoeste, a actuação foi sempre enérgica com os constantes moshs a levantarem tanto pó que mais parecia que tinham colocado uma máquina de fumo no meio da plateia. Um cenário de guerra que serviu a agressividade da música que saía disparada do sistema de som.
Ontem foi um dia especial por uma razão muito específica: a mãe de YUZI viajou de propósito da Alemanha só para ver o concerto do filho. A reacção bastante calorosa do público deve tê-la deixado orgulhosa.
A festa não poderia ser feita sem o seu mentor: ProfJam subiu a palco para tocar “Gwapo”, uma das faixas mais celebradas do alinhamento. Antes de abandonar o palco, Mário Cotrim rotulou a Think Music como “label mais quente da tuga”, algo que não estará assim tão longe da verdade. LON3R JOHNY, a mais recente contratação da editora, e Sippinpurpp, que mais cedo ou mais tarde deverá seguir o mesmo caminho, tocaram “Crystal Castle”, música que sai hoje, e “Avião”, respectivamente, com o segundo a ser recebido com maior entusiasmo pelos presentes.
Na companhia de Yellow (back vocals), YUZI começou com “TÓMAS”, passou por “#YUZIGANG”, “BANDO” e “Plug on the Phone” e fechou as contas com “#ShutUp”, “XXX” e “TSUBASA”, música em que decidiu brindar a plateia com uma bola de futebol autografada por toda a TM, que também esteve representada por Oseias., rkeat. e benji price, o responsável por disparar os beats e equilibrar a voz pré-gravada com os vocais ao vivo.
A energia punk que se sente no concerto de YUZI é única no circuito de rap português e isso tem-lhe permitido crescer a olhos vistos, mas, e tendo em conta a sua juventude e os artistas que admira, convém pensar no futuro e tomar uma decisão fundamental: vai seguir o caminho do aventureiro Travis Scott ou do limitado Lil Pump?
A 22ª edição do MEO Sudoeste fica marcada pelo falhanço nas apostas internacionais (Wizkid e Lil Pump, principalmente) e pela competência de todos os artistas nacionais (destaque para Deejay Telio, Mundo Segundo & The Sam The Kid, Phoenix RDC e Wet Bed Gang).