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Publicado a: 05/08/2018

Fuse: “Tudo o que faço é intemporal”

Publicado a: 05/08/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

Fuse acaba de disponibilizar o videoclipe de “Sangue Frio”, umas das canções de Caixa de Pandora. David Pereira realizou e produziu o vídeo e a cinematografia ficou a cargo de Irish Favério.

Em ano de celebração — o clássico Sintoniza… comemorou o seu 15º aniversário em Fevereiro –, o membro dos Dealema recupera mais um “pedaço” do seu último disco. “A ‘Sangue Frio’ é umas das músicas que gostaria de ter em vídeo desde o lançamento do Caixa de Pandora. A ideia surgiu agora a convite do David Pereira, para o seu projecto final de licenciatura. Percebi que o David tem uma visão musical fora da caixa, pensa como eu, por isso aceitei o convite de imediato”, contou Inspector Mórbido ao Rimas e Batidas.

Estivemos à conversa com o MC e produtor nortenho sobre “Sangue Frio”, o panorama português e a nova geração ou Caixa de Pandora.

 



Para alguém como tu que não deixa nada ao acaso, a escolha do “Sangue Frio” para novo single parece mais um “ataque” ao panorama musical actual. Aliás, em Janeiro deste ano, deixavas uma mensagem de desalento na tua página de Facebook oficial. De todas as canções, porque é que escolheste esta música em específico para ter vídeo? A temática da faixa não perdeu a actualidade?

A “Sangue Frio” é umas das músicas que gostaria de ter em vídeo desde o lançamento do Caixa de Pandora. A ideia surgiu agora a convite do David Pereira, para o seu projecto final de licenciatura. Percebi que o David tem uma visão musical fora da caixa, pensa como eu, por isso aceitei o convite de imediato.

A temática da “Sangue Frio” não perde a actualidade porque possui o ingrediente ego-trip-crítico que caracteriza o rap desde sempre. Esta faixa é uma das peças que formam o disco no seu todo, escrito há 4 anos, do qual me orgulho imenso. Uma obra intemporal nunca perde a actualidade, quem me conhece bem sabe que nunca me preocupei em seguir as tendências que todos seguem. Hoje, só podemos ser positivos em relação ao panorama musical português, que apesar de tudo está vivo e fértil.

Pegando ainda nessa post: era uma espécie de provocação ou esses discos de que falaste estão no horizonte?

Sim, essa pergunta que lancei ao público foi por curiosidade, tendo em conta a evolução da música e dos próprios ouvintes. Dealema temos toda uma geração que nos guarda como uma tatuagem no coração. A nossa arte foi construída numa enorme viagem humana, física, sabemos que marcamos vidas.

Actualmente, esta nova geração de músicos cresceu no mundo virtual, já possuem os conhecimentos e ferramentas necessárias para engrenar a máquina, são autênticos marketeers e sabem fazer com que a cena resulte. Como é óbvio, a autenticidade perde-se um pouco com a excessiva utilização dessas ferramentas. Sabemos que se desligassem a “tomada” das redes sociais, muitos perdiam essa engrenagem, porque ao contrário da arte, que fica para sempre…os feeds passam e são esquecidos. No final a música não é de ninguém, é de todos, é universal, por isso prefiro ver o lado positivo de tudo. Que o hip hop continue vivo e brilhante, que os fãs permaneçam curiosos e que os artistas permaneçam motivados e genuínos.

A “Sangue Frio” é bastante crítica, mas devem existir músicos que ainda te dão algum alento. Consegues apontar alguns nomes que te tenham entusiasmado nos últimos tempos?

Há muitos artistas a fazer boa música por todo o país, muitos projectos novos a surgir. O evento 22 Anos de Rap no Hard Club teve esse objectivo, apontar as luzes a todos esses projectos que merecem igual destaque. Como é óbvio fiquei muito feliz por ver que alguns dos nomes são do norte, como o Briga por exemplo, que aparece neste vídeo da “Sangue Frio”.

Trabalhas com o David Pereira neste novo vídeo. Como é que se conheceram?

O David Pereira contactou-me e fez-me o convite de produzir um vídeo do Caixa de Pandora para o seu projecto final de licenciatura. Escolhemos a “Sangue Frio” pelo peso da sonoridade. O David também é músico e fiquei curioso para ver a visão que ele teria deste som.

A estética do vídeo encaixa na perfeição no ambiente da canção. Foi um trabalho de equipa ou deste liberdade ao David para explorar as suas ideias?

O David Pereira e o Irish Favério assumiram o comando criativo do vídeo, é a visão deles e adoro o facto de desafiar esteticamente tudo o que supostamente deveria ser feito hoje num video de rap, principalmente em Portugal onde a semelhança entre todos começa a ser flagrante aos olhares mais atentos.

Passaram quase dois anos desde que lançaste o Caixa de Pandora. Numa era de consumo rápido, achas que o disco “envelheceu bem”? Teve o seguimento que imaginaste?

Quando lancei o Caixa de Pandora tinha noção da realidade actual, da futilidade e da rapidez do consumo de informação de que somos alvo todos os dias. Ninguém edita um disco duplo numa era em que as pessoas ouvem singles e não discos… Mas eu não penso assim. Para mim é muito importante o sentido e o valor que dou ao meu trabalho. Tudo o que faço é intemporal. A viagem tem sido feliz, o feedback foi enorme e ainda hoje me sinto surpreendido por realmente ser possível fazer a diferença quando acreditamos verdadeiramente no poder que temos.

 


Fuse – 22 anos de rap no Hard Club: Passar o testemunho

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