LP / CD / Digital

Little Simz

Sometimes I Might Be Introvert

AGE 101 / AWAL / 2021

Texto de Rui Correia

Publicado a: 03/09/2021

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SIMBI (Sometimes I Might Be Introvert) é a alcunha da artista britânica Little Simz, que tem como nome próprio e apelido Simbiatu Ajikawo. A sua origem nigeriana, mais especificamente do grupo étnico ioruba, é um dos tópicos influentes na construção da sua realidade no seu novo álbum. 

Ao quarto longa-duração e depois de outras tantas mixtapes e EPs, Little Simz escreveu aqui algumas das canções mais sentidas e mais bem escritas na sua ainda curta mas recheada carreira. É disso exemplo “Woman” — dedicada à sua mãe na sua recente apresentação no Tiny Desk –, música exuberante que introduz várias mulheres e as suas origens, enquadradas de resto num vídeo que as destaca socialmente, representadas no interior dum palácio. Este sentido de realeza é algo que encontramos espalhado um pouco por todo o alinhamento com a ajuda de interlúdios que vão ligando as diferentes peças lançadas por si. Neles ouvimos a sua voz interior ou uma voz conselheira e assertiva, que bem podia ser a rainha reunida com Simz em Buckingham. Com grande poder surgem grandes responsabilidades, e a artista está ciente disso. 

A vontade de se projetar no topo da cadeia musical é assumida como um acto de júbilo e de esperança seja para si, como para a sua comunidade e gerações futuras. O álbum é rico nessa experiência de elevação e de emancipação. A contribuição de Inflo na produção é enorme para esse efeito. O amigo de infância de Little Simz que já havia trabalhado no álbum anterior, GREY Area, e que desde então nos assaltou furtivamente de sucessivos álbuns carregados de afrocentrismo através dos SAULT, dá profundidade ao storytelling da rapper: em “Introvert” entramos na jornada mental da artista, um caos lírico acompanhado instrumentalmente por orquestra; “Two Worlds Apart” é um clássico rap com sample soul repetitivo do Smokey Robinson, onde Kendrick Lamar fica perto de rimar com marijuana nos tempos idos da adolescência; “Speed” é hype-estalada, bragadoccio à desgarrada (“Don’t you know you’re dealing with the boss?” lembram as crianças); a funky irónica “Protect My Energy” pede espaço para respirar, porque é preferível estar só do que mal acompanhado; e temas como “Point and Kill”, com participação de Obongjayar, e “Fear No Man” transportam-nos para o afrobeat activista de Fela Kuti.

SIMBI é um caleidoscópio pessoal, um exercício de auto-reflexão exponencial e ambicioso que reforça o percurso artístico independente da rapper londrina de 27 anos, e que nos oferece a melhor versão de si em pouco mais de uma hora de música. Do manancial de referências soul, funk, grime e r&b às texturas minimais, distorcidas ou orquestradas, encontramos um álbum equilibrado, sequencialmente próximo da perfeição. A cada episódio-faixa, são reveladas histórias de conflito, dualidade familiar, mensagens sociais ou sonhos por concretizar com escrita aguerrida, entrega dedicada e instrumentais detalhados. Sem pretensões de sucesso comercial, mas a procurar o estatuto de lenda. Um futuro clássico, pois claro.


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