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Publicado a: 26/12/2017

A lista do ano de Kap

Publicado a: 26/12/2017

[FOTO] Direitos Reservados

Directamente de Vila Nova de Gaia, Kap é um dos nomes mais promissores do rap nacional. Em 2015, Do Nada Nasce Tudo marcou a sua estreia no formato longa-duração, a melhor maneira de dar sequência a 16 anos acumulados, a primeira mixtape, Sobrenada e Difícil de ser encontrado, dois EPs lançados em 2012 e 2013, respectivamente.

A preparar o sucessor de DNNT e a ajudar outros artistas em ascensão na mistura e masterização – recentemente trabalhou com Lójico em “Vim do Nada“, por exemplo – , José Poças esteve atento ao que se fez a nível nacional e internacional. A selecção do rapper e produtor fala por si mesma.

 


[MELHOR ARTISTA NACIONAL] Slow J

Em contínua ascensão desde o The Free Food Tape EP, 2017 foi o ano do primeiro álbum e da continuação da consagração de um dos artistas com mais potencial e margem de crescimento que se tem visto recentemente, com capacidade de convencer tanto as massas como os ouvintes mais críticos e cuidadosos, tanto os hip hop heads como os outsiders. Será garantidamente um nome forte do rap e de toda a música portuguesa durante muito anos.

 


[MELHOR ARTISTA INTERNACIONAL] Elza Soares

A Mulher do Fim do Mundo foi lançado no final de 2015, eu ouvi o disco em Outubro de 2016, fui vê-la à Casa da Música um mês depois e ainda repeti a dose em Junho no Primavera Sound. Elza Soares é, para mim, um dos maiores símbolos de esperança na vida artística. Vencedora de um Grammy Latino este ano, Elza é o exemplo paradigmático de que não há limite de idade para se vencer à vida. Estamos a falar de ter um boom na carreira aos 78 anos (notado nas tours que passaram por países não-lusófonos, até agora raro na sua carreira), ainda para mais falando de alguém que andava pelas sombras mesmo no meio musical brasileiro. Este último disco tem provavelmente a abertura de álbum que mais me abanou e vê-la ao vivo é ver o carinho com que é tratada pela sua equipa, músicos e público, mesmo quando ela se engana na letra ou quando tem dificuldades em segurar a afinação numa voz que está gasta mas ainda não cansada. Confesso que foi emocionante vê-la das duas vezes. Deixem-na cantar até ao fim, porque ela quer, ela pode e ela consegue. E, numa idade avançada, mostra-nos que mesmo que só esteja a tentar cantar até ao fim, ainda tem vitórias, ainda ganha à vida.

 


[MELHOR PRODUTOR NACIONAL] Here’s Johnny

Quem pensa que em Portugal não há muitos bons produtores está enganado, e são muitos os que estão num nível muito elevado, comparando não só com o que se faz cá, mas com tudo o que se faz no mundo, rap e fora dele. A minha escolha do Johnny deve-se ao facto de ele ser hoje em dia o gajo que marca tendências sem nunca mergulhar muito em lugares comuns, nunca demasiado preso a fórmulas e sempre com vontade de explorar novos grooves e sonoridades que não sendo totalmente desconhecidos e inexplorados, saem sempre enriquecidos quando ele põe lá o pé. Aguardo o álbum em 2018. Vai certamente chamar à atenção.

 


[MELHOR PRODUTOR INTERNACIONAL] Arca

Tenho reparado que os álbuns que me vão fascinando mais nos últimos anos têm uma equipa de produção estável ou até só um produtor que muitas vezes é o próprio artista. Os meus dois álbuns all time de rap português sofrem dessa característica “o rapper produziu o disco todo”. Neste caso, não se trata de rap. Arca lançou um álbum homónimo este ano, por sinal também se estreou a cantar e é a única voz do projecto inteiro, cantando unicamente em espanhol, sua língua materna. É mais um caso, como por exemplo Ibeyi e Elza Soares, em que não cantando em inglês, ou pelo menos não unicamente (o primeiro disco das Ibeyi é cantado em inglês, francês e yoruba) consegue-se ter um impacto internacional bastante significativo, inclusive sendo editados por grandes editoras internacionais também (tanto este último de Arca como o primeiro das Ibeyi saíram pela XL Recordings, carimbo que até há bem pouco tempo segurava a Adele, por exemplo). Não sei se isto se pode concluir como tendência, a língua em que se canta estar a perder alguma importância no mercado em prol da produção musical, mas de facto tem acontecido. Não foi nem o artista nem o álbum que mais ouvi este ano, mas, sem dúvida, que ouvir álbuns como este me fazem perspectivar até onde é que o rap pode ir buscar influências. Eu sem dúvida que tiro coisas de álbuns como este. Dinâmica, texturas, timbres, por aí.

 


[MELHOR FAIXA NACIONAL] “Última Deixa” de Here’s Johnny (feat. Gson)

O Gson também é uma das figuras incontornáveis do rap tuga em 2017. Tornou-se o convidado mais apetecido do país pela versatilidade, musicalidade e capacidade de trazer cores novas para cima dos grooves mais cansados. Confesso que foi a partir desta faixa que me senti convencido com as capacidades dele. Recuem 4 ou 5 anos no rap português, seria possível ouvir algo assim? A todos os níveis: instrumental, vocal e mistura.

 


[MELHOR FAIXA INTERNACIONAL] “(No One Knows Me) Like The Piano” de Sampha

(in my mother’s home). Esta é sem dúvida a categoria mais difícil de preencher e ao mesmo tempo de certa forma a mais insignificante. Há mais umas 10 músicas que podia escolher em vez desta, e estou longe de achar que este ano ninguém fez melhor do que esta música unicamente a piano e voz (não quer dizer nada mas you feel me). Só neste álbum há talvez mais umas 3 ou 4 músicas que poderiam estar aqui, mas fica o registo mais nostálgico e despido do álbum.

 


[MELHOR DISCO NACIONAL] Orelha Negra de Orelha Negra 

Aquela que é uma das formações mais interessantes da música portuguesa pela sua própria organização, método de composição e capacidade de esbater fronteiras entre géneros lança o 3º disco de um percurso coerente tanto ao nível musical como gráfico, de imagem. Não consigo deixar de sentir que ainda há mais caminhos para eles irem sem ser necessariamente para trás, revisitar sonoridades, mas isso só o futuro dirá. Como disse em cima, é um dos grupos mais interessantes em Portugal, e este álbum não foge à regra.

 


[MELHOR DISCO INTERNACIONAL] Process de Sampha

Se tivesse que escolher o melhor concerto que vi este ano, provavelmente também iria para este britânico que só aos 28 anos lança o seu primeiro longa duração. Este disco é a explosão da sonoridade que ele já vinha a trabalhar em Dual, EP que antecedeu este Process. Uma das estreias em LP mais coesas, maduras e ainda assim frescas que ouvi recentemente. Com um timbre meio que arranhado fruto também de umas intervenções cirúrgicas às cordas vocais e responsável pela maior parte da produção do disco, Sampha estreia-se em grande com um dos registos mais entusiasmantes do R&B actual. É um daqueles discos que hão de ficar por vários anos na minha prateleira (ainda que virtual hoje em dia) para ser revisitado com alguma frequência.

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