[TEXTO] Ricardo Farinha [FOTOS] Bruno Martins
Pessoas de todas as idades, portugueses de todo o país, turistas de muitas nações, várias “tribos” urbanas. É impossível delinear um perfil do público do Lisboa Dance Festival, que este fim-de-semana atestou a LX Factory, em Lisboa. Afinal, apesar de nem todos gostarmos dos mesmos ritmos e sons, todos gostamos de dançar.
A maior casa do espaço, a Fábrica XL, recebeu os artistas mais techno do evento. Na sexta-feira, a Flow Records esteve representada por Johan, Cardia e Pedro Aguiar, enquanto a Bloop Recordings teve Rompante, Cruz e Magazino em cena. A grande explosão veio a seguir: a dupla alemã Âme fez as paredes tremerem e a festa desenrolou-se com as centenas de pessoas que estavam no espaço.
Os principais nomes internacionais chegaram no dia seguinte. O alemão Sven Väth recebeu a maior enchente do fim-de-semana e teve a honra de fechar o Lisboa Dance Festival na Fábrica XL, com a plateia ao rubro. Antes, passaram por lá as batidas de Move D, Prosumer e Motor City Drum Ensemble, que engenhou uma actuação melódica ao misturar as sonoridades do jazz e do funk com o techno.
Mas não só do techno e da grande fábrica se fez o festival. A LX Factory foi o sítio ideal para receber o evento, com quatro salas diferentes para danças de diferentes expressões, e outras actividades para complementar. Muitos foram os que aproveitaram para fazer pausas, relaxar, beber um copo com os amigos, espreitar as bancas de merchandise e discos no mercado, ou simplesmente dar uma volta por um dos espaços mais criativos e originais da capital portuguesa.
A sala Zoot recebeu os nomes mais hip hop do festival. Na sexta-feira, Rui Miguel Abreu, director desta casa e parte da organização do festival, teve a honra de abrir a sala, tendo sido seguido por DJ Spot, Keso – o único a cuspir rimas no primeiro dia, em que apresentou os principais temas do seu repertório e, acompanhado nos beats por DJ Spot, dB, M’Cirilo e o guitarrista João Vasconcelos, levantou o véu a algumas faixas do próximo disco – e ainda DJ D-One.
Ontem, sábado, ao fim da tarde, Slow J deu mais um concerto de qualidade, embora diferente de todos aqueles que já deu. O rapper e produtor fez-se acompanhar por Fred Ferreira na percussão e presenteou o público com temas inéditos de um disco que era até agora desconhecido. Falava-se de um EP para o início de 2016, mas provavelmente este tornou-se no álbum que está previsto para Setembro, The Art Of Slowing Down. Já pudemos ouvir algumas faixas, além de “Vida Boa”, que Slow J interpreta nos concertos desde o início de tudo. Um dos momentos altos da actuação foi a brilhante interpretação de “Comida” (“já foram ao restaurante?”), a faixa solta com 100 barras que o rapper de Setúbal disponibilizou no YouTube no último dia de 2015.
Mais tarde, DJ Ride apresentou From Scratch, num concerto especial com banda e convidados que Rui Miguel Abreu já dissecou aqui no Rimas e Batidas. Durante a tarde, Ride tinha estado a dar uma masterclass onde mostrou as suas técnicas de scratch e de live set a uma sala cheia de gente, onde se incluía, por exemplo, Nerve. Entre trabalho e conhaque, o rapper tinha estado a falar numa das várias talks que aconteceram na tarde de sábado, juntamente com Bruno Martins, editor do Rimas e Batidas, Darksunn, Fred Ferreira e Rui Miguel Abreu – o tema era Hip Hop: Do Underground à Força de Mercado.
Apesar das talks e do mercado, a música é a razão para tudo isto existir. A enérgica turma da Enchufada – Rastronaut, Dotorado Pro e Bison & Squareffekt – fez notar a sua presença na sexta-feira, com actuações calorosas. O espaço BI+CA tornou-se numa pista de dança para várias diferentes sonoridades ao longo do fim-de-semana. Um dos grandes momentos foi o set estrondoso de Violet na noite de sábado. A Monster Jinx também esteve lá a fazer a festa no mesmo dia, com sets de nitronious, Darksunn e Ghost Wavvves.
Ainda no universo da electrónica portuguesa, Xinobi e Moullinex mereceram casa cheia na sala Zoot para os seus sets em representação da Discotexas, e, mais tarde, a noite tornou-se Príncipe e mais afro com Maboku, Lilocox, Blacksea Não Maya e Niagara.
Na ponta mais a sul do recinto, a NormaJean esteve quase sempre cheia de pessoas, dança e calor humano. Prova disso foram os vidros embaciados, por exemplo, na actuação de Vakula, produtor ucraniano que mistura techno com sonoridades funk e que não deixou ninguém arredar pé apesar do calor que se fazia sentir e que contrastava com a noite fria de sexta-feira.
Em ambos os dias, a festa só acabou mesmo no Ministerium Club, no Terreiro do Paço, onde as noites só terminavam com o sol a brilhar lá fora: às 9 da manhã. O Lisboa Dance Festival prometia muito e cumpriu. Agora promete ainda mais. Que venha a segunda edição.