Kyron lança Ascending Plume of Faces no dia 5 de Novembro. O próximo trabalho do fundador dos Beautify Junkyards sai pelo selo inglês Library Of The Occult, uma edição especial (e limitada) em vinil 180g com poster e fanzine incluídos. O artwork é da autoria de Nick Taylor.
Neste seu primeiro longa-duração, Kyron inspira-se na obra e vida do artista e ocultista Austin Osman Spare para criar música cósmica, gótica e electrónica. Em comunicado, Jim Jupp (da Ghost Box) fala de canções “sensuais e estranhamente poderosas” e “ritmos analógicos que se misturam e tremeluzem como chuva de Verão ou nuvens de poeira em redemoinho”.
Em 2020, o músico português mostrava-se em nome próprio com o lançamento de Starlit Remembrance, que era composto por “material de arquivo”, pela também britânica Miracle Pond. Na Oficina Radiofónica, Rui Miguel Abreu discorreu sobre essa edição:
“João Branco ‘Kyron’ tem uma fascinante história que recua até ao Brasil, país em que viveu e onde deu os primeiros passos na música, integrando a “contra-cultura” new wave dos anos 80 do Rio de Janeiro que mais directamente se ligava com o espírito tropicalista da tradição local. Em Portugal, onde se fixou mais tarde, fundou os Hipnótica, grupo de que orientou os destinos entre 1998 e 2010 e com o qual lançou meia dúzia de álbuns. Já na recta final do projecto Hipnótica, fez ainda trabalho paralelo como O Maquinista. E depois, claro, em 2013 estreou a nova aventura Beautify Junkyards, um grupo com que parece sintetizar todas as suas experiências passadas e que, entretanto, se ligou à britânica Ghost Box, etiqueta com que deverá editar novo longa duração ainda este ano.
Mas em jeito de interlúdio, Kyron lança agora, através da igualmente britânica Miracle Pond, o álbum Starlit Remembrance, compilação de material inédito recuperado para o presente mercê de um bem vindo gesto de arqueologia pessoal: a música agora lançada foi encontrada numa cassete datada de 1999 em que Kyron resguardou algumas das suas primeiras experiências no domínio da electrónica mais solitária, numa era em que, como o próprio admite, vivia mergulhado em cinematografia de ficção científica e nas respectivas bandas sonoras. No ano em que a música agora revelada foi criada, os Hipnótica lançaram o seu segundo álbum, Enter, registo em que a sua pop informada por Stereolab e pelas mais exploratórias experiências dos terrenos pós-rock já arriscava a convivência com as ferramentas da electrónica que aqui foram por Kyron aplicadas até ao limite.
Curiosamente (ou talvez não…) não há exactamente algo que date a música de Starlit Remembrance. Este trabalho poderia, na verdade, ter sido gravado em 1983, 1999 ou 2020, e isso acontecerá, porventura, por resultar de um conjunto de referências muito particular, coleccionadas na tal “dieta” de cinema de ficção científica e nas suas respectivas bandas sonoras. O interessante, é como João Branco revela aqui um agudo antecedente para o trabalho desenvolvido com os Beautify Junkyards, grupo que combina uma devoção pelo psicadelismo e um certo pendor tropicalista com um aturado estudo da história da electrónica mais “assombrada” por ideias de futuro que entre os finais dos anos 60 e finais dos anos 90 do século passado sustentaram algumas das mais interessantes discografias para que a Hauntology hoje remete (Broadcast, Plone, Boards of Canada, etc). Há 21 anos, Kyron já revelava muita sintonia com essa música que resgatava o passado através de memórias pessoais e de experiências nitidamente geracionais. E a música de Starlit Remembrance, com o seu carácter lo-fi, apoiada em programações rítmicas algo musculadas, mas sobrevoada por um ambientalismo descaradamente “cinemático”, com interessantes gestos de gestão de tensão dramática e com algumas ideias de sound design manifestadas na mistura ‘espacializada’ que já denotava uma certa ambição narrativa (confirmada pelos títulos carregados de referências aos ‘elementos’: ‘Sun’, ‘Asteroid’, ‘Fire’, ‘Water’, ‘Comet’…). Tudo isto organizado em temas de diferentes durações, alguns curtos apontamentos que quase nos fazem pensar nas ‘cues’ tão comuns em discos de library music, micro temas que serviam para sublinhar imagens de documentários, filmes ou reportagens. A Miracle Pond edita este Starlit Remembrance em cassete, formato apropriado já que foi numa cassete que esta música ficou a aguardar que o futuro a descobrisse.”