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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 07/10/2023

Sempre com vista para a ponte.

Larry June no B.Leza: um (bom) trabalho 100% orgânico

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 07/10/2023

Nada como nos sentirmos em casa a milhares de quilómetros da dita. E assim como o português médio se vê encantado quando esbarra com natarias e camisolas de Cristiano Ronaldo no estrangeiro, também Larry June terá certamente sentido um calor no peito ao olhar para a Ponte 25 de Abril — se é que não chegou mesmo a atravessá-la antes da sua paragem definitiva no B.Leza, a 4 de Outubro, uma quarta-feira de véspera de feriado nacional.

É que, de onde veio, há uma ponte-gémea que se crê ser o modelo da estrutura mandada erguer por António de Oliveira Salazar na década de 60. Na verdade, a inspiração até veio da ponte construída (pela mesma empresa) sobre a Baía de Oakland, em São Francisco, mas é pela Golden Gate Bridge que a cidade californiana se dá a conhecer ao mundo em formato postal. Adjust To The Game, álbum editado por Larry Eugene Hendricks III em 2020, apresenta na sua capa o autor de The Port of San Francisco estacionado à margem dessa ponte. Um autêntico homem na (sua) cidade.

E não podia ser mais bem recebido nesta. A mesma sala ribeirinha que abriu braços a WESTSIDE BOOGIE na semana anterior viu um público semi-renovado render-se novamente ao convidado desta noite. A regra voltou, porém, a confirmar-se pela excepção com Monroe Flow a alinhar-se — como havíamos dado conta em relação à abertura de Ben Rilley para a actuação de Boogie — com a bitola de openers como Brodie Fresh e Jae Skeese: ao parceiro do protagonista da Larry’s Market Run 2023 não se pode, apesar de tudo, acusar a falta de vontade em puxar pela plateia, mas facto é que a performance propriamente dita não acompanhou a boa energia preliminar que trouxe à capital portuguesa.

Já o mesmo não se poderá dizer do rapper e empreendedor da indústria dos sumos naturais. Carisma tem para dar e vender, quer na persona artística, quer na própria música, mas esses atributos não lhe ficam curtos na hora de dar espectáculo. E que espectáculo, deixem-nos que vos diga. Daqueles que o sorriso, estampado do princípio ao fim, de quem o encabeça não esconde. Nem poderia ser de outra forma, aliás. Afinal, Larry June é um dos incondicionais para aqueles que “compram” a sua lábia orgânica. Daí que o seu slogan — um deles, na realidade — seja “good job, Larry”. “Sock it to me” ou os sucessivos “ay’s” são outros, repetidos até à exaustão (nada exaustiva para ninguém, em boa verdade) ora pelo respectivo criador, ora pelos espectadores. Bom trabalho, mesmo.

Poupam-se as buzinas recorrentes em certos DJ de apoio e ganha-se, neste caso, um fôlego renovado a cada passagem de tema — até porque temas é coisa que não lhe falta. Se é justa a denúncia de um reportório invariavelmente monótono (por muito que nos custe reconhecer), há que pelo menos louvar a ética de trabalho deste pregador de “numbers”, que só em 2020 editou seis discos em seu nome. Acresça-se uma média de dois projectos por ano e façam-se as contas às faixas que June teria por filtrar na preparação da sua estreia em solo português. Foi, por isso, mais do que generoso com o alinhamento que nos trouxe, distribuindo o mal pelas aldeias (leia-se, as faixas pelos álbuns), com especial acervo de temas do recentemente editado The Great Escape, longa-duração produzido na íntegra por The Alchemist — e cuja capa esconde ao canto superior esquerdo a incontornável bridge. Lá para os lados de Palisades, CA. Onde qualquer aposta que faça, “it’s a hit”.


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