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Publicado a: 14/05/2016

De La Soul is Dead completou 25 anos

Publicado a: 14/05/2016

[TEXTO] Rui Miguel Abreu

De La Soul is Dead, segundo álbum do trio  nova-iorquino De La Soul – que este ano nos visitará para um concerto no Super Bock Super Rock a 16 de Julho – completou ontem 25 anos de idade e mereceu uma homenagem especial. Mase, Posdnuous e Trugoy lançaram dois “memoriais” em Nova Iorque, convidaram as pessoas a passarem por lá para depositarem flores, velas ou quaisquer outros objectos e a partilharem fotos nas redes e ainda criaram um site especial – delasoulisdead.com – onde é possível ouvir todo o álbum, incluindo algum material inédito.

Na sua conta de twitter, o grupo partilhou igualmente alguns documentos de arquivo:



Há alguns anos, ao escrever sobre os De La Soul, eu tentei explicar porque razão 3 Feet High and Rising, o álbum de estreia dos De La Soul de 1989, acabou a dada altura por ser um fardo para o trio:

Apesar dos anos, apesar das suas incríveis capacidades em cima de um palco e apesar de álbuns incríveis como “De La Soul is Dead” (91), “Buhloone Mindstate” (93) ou “Stakes is High” (96), os De La Soul ainda continuam a ser vistos como os tipos que fizeram “3 Feet High and Rising” (89), sendo continuamente perseguidos pela longa sombra lançada por esse primeiro registo. No fundo, os De La Soul – provavelmente o mais Hip Hop de todos os grupos de Hip Hop – conseguiram inadvertidamente a proeza de assinarem o único álbum de rap que toda a gente que odeia rap adora. “3 Feet High…” é de facto uma obra-prima, mas não pelas razões que normalmente lhe são apontadas (o humor, as rimas technicolor, a aura hippie, os instrumentais dançáveis…). Maseo, Dave e Pos ergueram a sua discografia em cima de um manual de sampling, um verdadeiro turbilhão que resumia a história da música negra em 52 minutos e 44 segundos de retalhos colados com a habilidade de quem tinha passado os dez anos anteriores agachado ao lado da cabine do DJ, a estudar com afinco obsessivo as etiquetas e as capas de todos os discos responsáveis por moverem a multidão. Prince Paul definiu o dogma e o dogma reinou supremo nos dez anos seguintes até que uns jovens de Virgínia Beach começaram a curvar toda uma nação a outro groove. Mas essa é outra história.

Com produção dos próprios De La Soul e do génio Prince Paul, De La Soul is Dead é mais um sólido trabalho conceptual e um absoluto clássico da era dourada do sampling que nos mostra o grupo na companhia de companheiros da Native Tongues como Q-Tip e os Jungle Brothers a tentar sacudir a imagem “hippie” que lhes tinham colado num primeiro momento. O álbum é profundamente experimental, tem um claro arco narrativo e é um hino à criatividade e à coragem artística. E estes 25 anos não o beliscaram nem um bocadinho. É um disco absolutamente brilhante que resistiu ao tempo por ter tido a ousadia de construir o seu próprio tempo.

O ano passado, a Grand Groove Radio prestou tributo a De La Soul is Dead com uma mix especial:



Mais uma maneira de estudar um álbum muito importante, a escuta desta mix. O disco, como se referiu antes, resulta de um gesto de louvável coragem artística: se com a estreia os De La descobriram uma fórmula vencedora seria expectável que a espremessem até à exaustão. Mas, ao invés disso, o trio preferiu explorar novos terrenos. Em termos líricos assumem um lado mais negro, se bem que o humor, mais ácido, continua a fazer parte do seu arsenal, como bem o prova o tema “Ring, Ring, Ring”.

Em termos sónicos, De La Soul is Dead é perfeitamente singular. Se 3 Feet High… é uma salada psicadélica que tudo admite e se o terceiro álbum, Buhloone Mindstate, último trabalho de Prince Paul com o trio, investe alguma energia no sampling de jazz, este álbum, no meio, aposta na recuperação de algum disco, como bem o deixa claro a incrível “A Roller Skating Jam Named ‘Staurdays'”, mas aposta sobretudo num pulsar mais “upbeat” que lhe oferece uma paisagem sonora algo contrastante com a disposição lírica, mais negra, mais ácida, mais mordaz. Desse contraste nasce a sensação permanente de alerta que parece atravessar-nos quando escutamos o álbum de uma assentada (como de ser, aliás: os discos dos De La soul são sempre grandes filmes para os ouvidos). Prince Paul era um mestre dos loops, com um ouvido extraordinário, capaz de combinar fontes muito distintas, com uma afinada capacidade de gestão rítmica. E este disco é bem capaz até de ser uma mais clara prova do seu génio do que 3 Feet High… É tempo de redescobrir De la Soul is Dead: façam favor!…

 


https://www.youtube.com/watch?v=FaY6jnztrO8

 

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