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Fotografia: Filipa Aurélio
Publicado a: 11/05/2020

Um encontro de diferentes escolas para gerar algo novo.

“Katucha”: Matéria Prima antecipa novo álbum com produção de niLL

Fotografia: Filipa Aurélio
Publicado a: 11/05/2020

Nem um nem o outro são estreantes nas páginas do Rimas e Batidas. Em 2019, Matéria Primaentregou-nos Rascunhos de um Momento Conturbado, a mixtape que construiu ao lado de DJ Lotek e que colocou o veterano de Belo Horizonte nas listas dos melhores trabalhos do ano que passou. Um registo introspectivo, sempre crítico e com a lucidez que a maturidade traz. É na escola do boom bap noventista, de skate nos pés ou com o Quinto Andar no currículo, que o mineiro trilha o seu caminho, fiel à complexidade lírica que, inevitavelmente, vai empurrando as canetas mais pesadas para a sombra dos holofotes.

“Pô, para ouvir o álbum do Matéria Prima é preciso tempo”, confessava Emicida em entrevista ao Estadão, em 2017. Tempo, na verdade, é algo que não nos tem faltado nas últimas semanas mas, se este caótico 2020 nos força a parar e rever alguns pontos do manual de instruções da existência, pede-nos também que atentemos na relação com a arte, principalmente aquela que nos exige compromisso para apontar reflexões ou soluções de longo prazo. Mais do que tempo, a escassez é cada vez mais de atenção e foco e esta, a que delega o complexo para a prateleira do underground, é uma discussão longe de estar concluída.

Aos 41 anos, Thiago Rodrigues celebra 20 anos de carreira com passagens pelo histórico colectivo Quinto Andar, Subsolo e mantém-se activo a solo ou com os grupos Tetriz e Zimun, onde explora outras identidades sonoras que o aproximam do jazz ou da mpb.

niLL, o jovem rapper e produtor de Jundiaí (SP), tem sido umas das personagens mais excitantes desta “nova escola” brasileira. As suas incursões pelo vaporwave, synthwave ou electropop e a preferência pelos ambientes retrofuturistas aliados à contemporaneidade do trap encontram forma nos quatro trabalhos que o “frontman” da SoundFoodGang lançou nos últimos quatro anos. Juntos, Matéria Prima e niLL chegaram na última semana com “Katucha”, a faixa que antecipa o álbum colaborativo, aguardado para os próximos meses.



“O niLL participou de uma música do Tetriz e a ideia foi do Ramiro (Mart), na verdade. A partir daí eu fui conhecer o trabalho dele através do Regina e fiquei muito admirado. Acabámos por nos conhecer quando nos encontrámos em São Paulo depois de um show do Tetriz onde chamei ele e o Espião para cantar e descobrimos que a gente tem uma afinidade maior, até para além da música”, contou Matéria Prima ao Rimas e Batidas. O “namoro” sedimentou-se com a participação do MC no álbum de Mano Will, rapper da SoundFoodGang e a partir daí a troca de ideias começou a ganhar corpo. “Fui começar a trabalhar num beat que ele mandou com uma pegada vaporwave mas que tinha algo de Marina Lima, meio anos 80, e eu comecei a trabalhar o refrão. A partir daí fui experimentando várias coisas até que ele me propôs fazer um disco que ele dirigisse musicalmente.”

A relação improvável entre ambos é palco para o potencial de fusão entre as novas e velhas escolas do hip hop brasileiro que começa agora a dar os seus interessantes primeiros passos. “Andando pelas beiradas”, como revela “Katucha”, Matéria Prima viaja pela necessidade de se manter fiel a si próprio, um introspectivo “filho do rap sem direito a pensão” à procura do equilíbrio entre a paz e o protesto.

“Quando vieram os beats já era um niLL pós-Regina, pós-Good Smell e pós-Logos. E claro que eu tive esse pensamento de ‘será que eu estou forçando a barra? Será que eu sou o tiozão que quer colar com os novinhos?’ Mas eu comecei a escutar algumas coisas que flertavam com o niLL… Grime, escutei bastante Skepta, o Ignorance is Bliss, e comecei a pensar nisso como um exercício de musicalidade. Uma vertente da música negra muito interessante para exercitar e para pensar como fazer ‘o novo’, que é algo que me atrai bastante.”

O álbum, que está “49% desenvolvido”, tem previsão de chegada para o Verão de 2020 e contará ainda com a colaboração do ilustrador Oberon Blenner, para dar vida aos lyric videos.


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