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Publicado a: 11/02/2016

KAP: “O rap do Porto é mais introspectivo”

Publicado a: 11/02/2016

[TEXTO] Bruno Martins [FOTO] Joana Alves

 

Do Nada Nasce Tudo merece amanhã apresentação no Copenhagen Bar, no Cais Sodré, em Lisboa. Kap, que lançou o seu trabalho de estreia com carimbo da Biruta Records, já tinha trocado algumas palavras com o Rimas e Batidas no passado mês de Novembro. E volta agora à conversa para revelar um pouco mais das ideias que guarda na cabeça e deita cá para fora nas ruas rimas.

Queres contar-nos como começa a paixão pela música e pelas rimas?
Foi muito cedo. Com uns seis anitos os meus pais meteram-me numa escola de música e isso de certeza que teve um impacto muito grande. Estudei guitarra clássica até aos 14 anos… Mas aos 12 já ia escrevendo aquelas coisas que um gajo precisa de escrever.

Mas isso da guitarra clássica está bem longe do universo dos beats de hip hop!
Era o rap que me puxava mais. Com os 14 ou 15 anos também ouvia os Eminems! Ouvia mais rap e conhecia pouco em português, além dos Mind Da Gap, Dealema, Da Weasel, Sam The Kid… Mas lembro-me de um dia um primo mostrar-me umas coisas do Mundo Segundo, umas mixtapes, e fui descobrir por mim próprio.

Existe algum espírito nortenho de fazer hip hop? O norte tem o seu próprio estilo de rap?
Tem a sua própria identidade. O estilo de rap de cada zona vem no seguimento do estilo que se fazia no passado. Por exemplo: o rap que se faz no Porto é directamente influenciado por Mind Da Gap e Dealema, principalmente. E o que se faz em Lisboa é influenciado por Valete e Sam The Kid, com outras influências estrangeiras – acho que há mais disso em Lisboa. Era para ter incluído no disco o excerto de uma entrevista que o José Mariño fez aos Mind da Gap – que encontrei no YouTube – em que perguntava ao Serial porque é que o rap do Porto é mais escuro e sombrio. Ele respondeu que tinha que ver com a cidade.

O rap do Porto é mais negro?
Talvez seja mais introspectivo.

Também se pode descrever assim este Do Nada Nasce Tudo?
Acho que sim. É um disco mais solitário, sem participações, tudo feito por mim… É inevitável que seja assim. E até diria que o andamento do disco tende para alguma escuridão.

O próprio título – Do Nada Nasce Tudo – reflecte essa introspecção.
Sem dúvida. O título vem de uma frase que me andava a bater. Até há uma citação de uma parte de um tema dos Dealema, de “Quem Fui e Quem sou”. Mas relativamente à interpretação: se fores por aquilo que diz o meu avô [“convidado” do disco] – que fez voluntariado prisional – mostra a perspectiva de uma pessoa que se renova depois de passar pela prisão. Mas a minha primeira intenção foi representar o ciclo da criação. Depende sempre da forma como ouves.

Achei curioso teres skits com vozes de mais velhos, frases de anciãos, como o caso do teu avô. Começaste a fazer o disco com 17 anos e hoje tens 20. Ouvir os mais velhos é importante para ajudar nas tuas reflexões?
De facto, faz todo o sentido e é coerente. Ninguém, com 17 anos, é uma pessoa completamente formada. Temos sempre os nossos modelos e as pessoas que valem a pena seguir. Em questões pessoais, comportamentais e de valores, o meu avô é das minhas maiores referências. Era impossível fazer um projecto tão grande como um disco e tão novo, sem seguir alguém. Pelo menos há ambição de me tornar alguém maior no fim de todo o processo.

 


*Entrevista originalmente publicada no Jornal Metro a 23 de Dezembro de 2015.

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