pub

Publicado a: 13/02/2017

Juzicy: “A Força Suprema abriu-me muitas portas”

Publicado a: 13/02/2017

[TEXTO] Ricardo Farinha [FOTO] Direitos Reservados

O seu nome artístico é Juzicy, tem apenas 20 anos e não são assim tantos os que terão ouvido falar nele. Pelo contrário, são muitos os que já ouviram o seu trabalho: é o autor do instrumental de “Normal”, o super hit de NGA do EP Atitude, editado em 2015, além de várias outras faixas do colectivo Força Suprema. Recentemente, co-produziu um beat que chegou aos ouvidos do rapper norte-americano Logic e que fará parte do seu futuro disco, AfricAryan, previsto para os próximos meses.

Actualmente, o produtor — cujo nome verdadeiro é Adjane Rafael — reside em Mâcon, em França, mas tudo começou em Lisboa. “Foi uma decisão dos meus pais para [termos] uma vida melhor, eu queria continuar em Portugal, mas ainda não tenho condições para me sustentar sozinho”, conta ao Rimas e Batidas.

Juzicy começou a fazer batidas apenas com 11 anos. “Mas não comecei com rap, na altura ninguém ligava ao rap, o que as pessoas ouviam era kizomba e batidas de kuduro e um pouco de afro house.”

Entretanto, o produtor transitou para as sonoridades do hip hop e abandonou as raízes africanas directas que tinha nas faixas que produzia. “O kuduro não descrevia aquilo que eu sentia, eu gosto de meter os meus sentimentos nos beats, tal como os rappers metem nas músicas.” A mudança aconteceu entre os anos de 2011 e 2012, e a aprendizagem foi completamente auto-didacta.

“Via muitos tutoriais no YouTube mas eram quase todos iguais e não explicavam nada. Então tive de descobrir os tempos, os samples, melodias e programas, tudo sozinho. Tentei pedir ajuda mas ninguém me ligava nenhuma, então continuei no meu canto e nunca mais incomodei ninguém para me ajudar ou pedir algo. Fica a dica para os produtores, criem o vosso próprio nome, se não fizeres nada por ti, ninguém o fará.”

Para cozinhar instrumentais, Juzicy usa um computador de gaming, com o Fruity Loops Studio e o ProTools, e um teclado da AKAI. “Mas o segredo não é o equipamento, nunca foi.”

O que importa aqui é transmitir sentimentos com melodias e batidas, sem precisar de usar a palavra. “Já tive muitas decepções, já fui ‘solitário’, ninguém falava comigo porque não era ‘cool’ como o resto das pessoas que conhecia. Não fumo, não bebo e não vou a festas. E isso deixava-me triste, e então transfiro isso para o meus beats.”

As grandes referências que tem no universo sónico da produção são Cardiak Flatline e Noah “40” Shebib, o produtor de Drake. Os seus rappers favoritos são precisamente Drizzy, J. Cole, e Tdot Illdude, com quem já trabalhou. É nos Estados Unidos da América que tem encontrado alguns dos rappers que querem usar os seus beats, mesmo que não sejam estrelas internacionais — o já mencionado Tdod Illdude, YFN Lucci e Young N Fly são alguns dos nomes. Mas isso mudou recentemente, com a co-produção de um beat para Logic.

“Tudo começou uns dois meses antes do final de 2016. Eu fiz um sample pack, uma pasta com vários samples para vender a produtores, e houve um que utilizou um sample meu e o beat chegou até ao Logic. Eu nem sabia que a música ia estar no álbum, só depois é que me informaram disso.”

Foi Vontae Thomas que agarrou no sample e começou por construir um instrumental. “Mas a pessoa que mostrou o beat ao Logic foi o 6ix, o seu produtor ‘pessoal’. Então eu estou na melodia e eles nos drums. Espero quebrar barreiras com esta oportunidade única que nem toda a gente tem. Tive muita sorte.”

A faixa, cujo nome ainda nem Juzicy conhece, também contará com a participação de Ansel Elgort. O álbum AfricAryan, o terceiro na discografia de Logic, deve chegar nos próximos meses.

Em Portugal, tornou-se mais conhecido por trabalhar com a Força Suprema, apesar de também já ter colaborado com Wilson P. “Um dia, estava no Facebook e vi um vídeo do NGA [NGA com Prodígio, “Kolossal”]. Então tentei mandar mensagem aos dois para saber como podia mostrar os meus beats. Nenhum dos dois respondeu. Isso foi em 2013. Em 2014 tentei outra vez, e o Prodígio respondeu e deu-me o email dele e consegui mandar beatsFoi daí que tudo começou.”

Passado pouco tempo, nascia o super hit “Normal” de NGA, que é, muito provavelmente, o vídeo de hip hop português com o maior orçamento de sempre — foi um investimento de cerca de 50 mil euros. “Ainda me lembro que mandei o beat a alguns rappers e ninguém o queria. Quando o som saiu, e ficaram a saber que tinha sido eu a produzir, arrependeram-se, outros inventaram que eu nunca tinha mostrado o beat.”

O sucesso do tema valeu a Juzicy o prémio de Melhor Instrumental de 2015 nos PALOP Music Stars. “A Força Suprema abriu-me muitas portas. E só tenho que agradecer a eles, se alguém hoje me conhece no rap, é por causa deles.”

Ultimamente, tem estado a trabalhar com Kroniko no seu próximo trabalho, Estigma, e com a cantora Cat Boto. “Tem uma voz linda e é totalmente underrated em Portugal, mas com o álbum dela a caminho, produzido por mim, espero mudar isso.”

Quanto ao futuro — que se espera longo, para um jovem de 20 anos —, Juzicy também já tem planos. “Eu queria e se calhar vou mesmo lançar uma beat tape, mas não sei para quando. Por enquanto estou concentrado em acabar os álbuns em que estou envolvido, tratar da ‘papelada’ e acabar beats.” Deste lado, estaremos muito atentos.

 


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos