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Fotografia: João Pedro
Publicado a: 02/08/2021

Encontramo-nos num clube em breve?

Jstowee canaliza a “energia daquelas noites que se dançam pela noite dentro e acabam a ver o nascer do sol” no EP de estreia

Fotografia: João Pedro
Publicado a: 02/08/2021

Night Encounters é o projecto de apresentação de Jstowee e foi editado no mês passado pela WAY OUT Records.

Ainda não foi desta. O regresso à normalidade continua em marcha lenta e a abertura de bares e discotecas já é uma realidade — apesar de ainda existirem muitas regras que condicionam o seu total aproveitamento. Em 2021, Verão volta a não ser sinónimo de diversão nocturna, mas, felizmente, continuamos a receber novas propostas musicais que funcionam como um bálsamo para atenuar esta dor.

Admirador confesso de Jordan Rakei, Jstowee percebeu que, graças às ferramentas digitais, o seu input era mais do que suficiente para dar vida às melodias que lhe pairam no pensamento. Depois das experiências em contexto de banda — vimo-lo recentemente em acção enquanto guitarrista dos InnerVille –, o multi-instrumentista e produtor agarrou-se às memórias da noite portuense e dedicou-lhes um conjunto de quatro composições electrónicas, que moram debaixo do teto deste Night Encounters e se centram na estética da música house, mas que na verdade são muito mais do que isso — do arranque quase industrial em “Four On The Flour” ao balanço neo-soul que tinge a última faixa, “Frackled Lady”, sentem-se aqui, também, contornos de jazz, ideias pop-rock ou as faces mais psicadélicas que a disco consegue assumir.

Através de uma troca de e-mails, fomos à descoberta de Rafael Santos, que, como produtor, responde pelo mesmo nome que foi dado a uma das batidas incluídas no belíssimo LP de estreia de Knxwledge pela Stones Throw.



Antes de mais: fala-nos sobre como te começaste a relacionar com o som e em que momento da tua visa surge o Jstowee?

Jstowee surgiu há cerca de três anos, numa fase em que já me sentia confortável para fazer música mas não tinha conhecimento dos softwares de produção. Até então, já tinha escrito e tocado música em contexto de banda, mas quando descobri que conseguia recriar o som da minha cabeça directamente no DAW e manipulá-lo livremente, isso mudou totalmente a minha perspectiva de fazer música. Começou desde aí a exploração deste tipo de composição e produção, que me fez envolver ainda mais no tipo de música que assim é feita.

Quem apontarias como influências para aquilo que desenvolves, musicalmente falando?

Tenho que começar pelo Jordan Rakei. Foi um artista com quem me cruzei quando comecei a produzir e me fez perceber que, quando se tem uma musicalidade muito forte e em conjunto com a acessibilidade de fazer música numa máquina, resulta numa fusão destes dois mundos que eu aprecio muito. Conforme falo em Rakei poderia falar de James Tillman, Tom Misch, entre outros, sendo que sempre gostei da exploração que o Rakei tem na sua abordagem. Moonchild é um referência em produção para mim desde o primeiro dia que ouvi o Voyager. É um álbum que revisito sempre e nunca me canso. Os synths, os sopros, a voz da Amber Navran, tudo se funde de uma maneira mágica. Voodoo do D’Angelo tornou-se dos meus álbuns preferidos mal o ouvi, consigo ouvir a vibe do r&b dos 70s, com o beat do hip hop 90s e um bom gosto surreal. Falando dos 90s, tenho de mencionar os Slum Village, já que me apaixonei pela sonoridade daqueles beats que, mais tarde, vim a descobrir que eram do Dilla, claro… A fundação disto tudo é o jazz, nomes como Lee Konitz, Bill Evans e Ed Bickert também têm um grande impacto em mim e deram-me a conhecer toda esta música incrível. Mais recentemente produtores como Retromigration, Dan Kye, Purple Ice e Chaos in the CBD introduziram-me ao mundo da electrónica.

Lançaste recentemente o teu primeiro EP, Night Encounters. Que “encontros” são estes que promoves a quem escuta a tua música?

Este EP é uma primeira impressão da música electrónica e do espaço em que está inserida – os clubs. Night Encounters é a minha experiência da noite no Porto. Toda a energia que rodeia o house e suas variantes são contagiantes e eu não fiquei indiferente. Tentei produzir o EP de maneira a que, quem escute, sinta essa energia daquelas noites que se dançam pela noite dentro e acabam a ver o nascer do sol.

Sendo tu um produtor e multi-instrumentista, como é que se processou o delinear destas quatro faixas? És tu quem toca tudo ou há aqui espaço também para o sampling? E a que ferramentas (digitais ou analógicas) costumas recorrer para criar?

Todas as faixas tiveram uma abordagem diferente sem que se deixassem de enquadrar numa sonoridade. Tive faixas que comecei com uma ideia harmónica; outras tinha uma melodia na cabeça, ou seja, parti sempre de uma pequena ideia e deixei o resto acontecer naturalmente. A melhor parte deste processo são os acidentes felizes. Várias vezes me aconteceu enganar-me de alguma maneira no processo de edição ou a tocar, não retirar o erro e este transformar-se em algo que encaixa perfeitamente e com o qual eu nunca me iria cruzar de outra maneira. É por isto que toco sempre que possível. De momento tenho uma guitarra, um clarinete e um teclado MIDI, mas também não deixo o sampling de parte. Adoro manipular os samples de todas as maneiras e transformar aquilo em algo que nem se percebe de onde veio. É algo super criativo se calhar por ser limitador ao mesmo tempo. Recentemente adquiri uma groovebox e tenho estado horas no sequenciador a controlá-lo de maneiras infinitas.

No disco cruzamo-nos com a electrónica com base mas há aqui outros elementos que enriquecem estas composições, da soul ao funk. Como é que tudo isto se cruza para formar o cocktail que é o Night Encounters?

Penso que isso está relacionado com o que ouço quase diariamente. São estilos diferentes — às vezes muito diferentes — e há singularidades que sinto que vou buscar a cada um deles. Apesar das diferenças, há um fio que os liga a todos, um feeling e um groove que se fundem muito bem na minha opinião.


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